Lula, Deus e Gaza

Por Valter Pomar (*)

Lendo uma recente declaração de Lula sobre Gaza, recordei uma passagem do Evangelho segundo Jesus Cristo, de José Saramago.

A declaração de Lula a que me refiro é a seguinte:

“Fico triste ao ver 3 mil crianças morrerem na Faixa de Gaza numa guerra que elas não reivindicaram. E os irresponsáveis que fizeram a guerra agora estão chorando a morte dessas crianças? Sentindo o peso das coisas? Estamos vendo, pela primeira vez, uma guerra em que a maioria dos mortos são crianças. Ninguém assume a responsabilidade e nem conseguimos fazer uma carta da ONU convencendo o cessar-fogo. Parem! Pelo amor de Deus, parem!”

Está aqui:

https://twitter.com/LulaOficial/status/1719476294704930957

Quanto a passagem do Evangelho, trata-se da seguinte:

“Mas então, perguntou Pastor, quem vai criar o Deus inimigo. Jesus não sabia responder, Deus,

se calado estava, calado ficou, porém do nevoeiro desceu uma voz que disse, Talvez este Deus e o que há-de vir não sejam mais do que heterónimos, De quem, de quê, perguntou, curiosa, outra voz, De Pessoa, foi o que se percebeu, mas também podia ter sido, Da Pessoa. Jesus, Deus e o Diabo começaram por fazer de conta que não tinham ouvido, mas logo a seguir entreolharam-se com susto, o medo comum é assim, une facilmente as diferenças (SARAMAGO, 1991, p.389-390)”

Freud explica, o sujeito plural e inominado na declaração de Lula me lembrou a misteriosa voz que desceu do nevoeiro.

Deixando para lá a literatura, compreendo a angústia da pessoa física.

Mas à pessoa jurídica não cabe, nem tampouco adianta, pedir a intercessão divina.

Mais eficaz, inclusive para salvar as crianças, será escalar nas medidas diplomáticas.

(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT

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