Por Célio Golin (*)
Texto integrante do Boletim P13 LGBT – Edição 06 -Junho de 2025 ( aqui )
A luta da população LGBT+ teve início bem antes de Stonewall — mas, sem dúvida, o acontecimento conhecido como a “Revolta de Stonewall”, ocorrido em 28 de junho de 1969, é um marco para a luta dessa população.
Stonewall, contribuiu para o surgimento de diversas organizações LGBT+ e, hoje, as Paradas são um dos maiores movimentos de rua. No Brasil, os primeiros grupos e ativistas tiveram mais expressão nas décadas de 1970 e 1980, mas foi a partir da década de 1990 que o movimento iniciou a atuação que hoje acontece em centenas de cidades brasileiras. O movimento LGBT+ acumulou força política, mostrando que essa luta não voltará a frequentar os armários do obscurantismo. Nesse contexto, as Paradas LGBT foram uma mudança de paradigma em nossa cidadania, rompendo muitas barreiras.
As questões envolvendo a população LGBT+ precisam de debate constante, pois as violências contra essa população aumentaram com os discursos de ódio proferidos de forma aberta pelos que não acreditam que a democracia é um valor a ser defendido. Que as paradas, os corpos e as mentes continuem como locais de questionamento da norma, da hipocrisia, sendo uma luz no novo cenário mundial, em que viramos alvo preferencial da extrema direita.
Vivemos um cenário político nacional e internacional no qual o fascismo, representado pela extrema direita, caminha a passos largos e não podemos ficar alheios/as a esse processo. Uma das maneiras é disputar os espaços de poder, é eleger representantes que defendam um projeto de sociedade. Representantes que se posicionem contra a destruição do Estado que se dá através das privatizações de empresas estatais, contra as terceirizações e contra a visão de um Estado mínimo capitaneado pelo neoliberalismo, que está abraçado a um projeto fascista de sociedade.
Sabemos as consequências dessa política que deixa o Estado enfraquecido e refém do interesse privado. Para as populações marginalizadas como os e as LGBT, a ausência de um Estado presente com políticas públicas só agrava a situação. Exemplo é a flexibilização e a omissão nos governos estaduais e municipais com as questões do meio ambiente, que coadunam com a visão negacionista de ausência de crise climática. Acima de representantes LGBT que são legítimos/as, devemos nos posicionar por um projeto de sociedade que vai muito além de nossa expressão sexual, mas que aponte para um projeto de sociedade amplo, em que nossas pautas sejam defendidas e disputadas em todos os lugares.
Precisamos dialogar com setores da esquerda que estão presos ao debate sobre as pautas identitárias impostas pela extrema direita. Precisamos entender que a diversidade de gênero da população LGBT+ está presente no mercado, já que os corpos das mulheres e negros fazem e sempre fizeram parte da força de trabalho.
Inclusive, por serem corpos da margem, para muitas empresas são explorados de forma preferencial com o falso argumento de inclusão e diversidade. Nesse sentido, podemos pensar sobre uma questão que está no centro do debate acerca da relação entre capital e trabalho: a discussão sobre a escala 6×1, que trouxe perspectivas relacionadas a gênero e raça. Interessante pensar que esse tema, que questiona exatamente o capital e suas formas de exploração, foi trazido a público, no último processo eleitoral, por um candidato a vereador do Rio, Rick Azevedo, um jovem gay e negro, e na Câmara Federal foi apresentado por Erika Hilton, uma mulher trans e negra.
Apesar de todos os retrocessos que estamos enfrentando no país, como os projetos que pipocam em todos os níveis do parlamento, como “ideologia de gênero”, “escola sem partido” e toda sorte de fake news, com alvo preferencial na população trans, podemos afirmar que nós avançamos muito. Nossa participação nos espaços de poder, dentro da institucionalidade, onde temos elegido no campo da esquerda, inúmeros e inúmeras parlamentares assumidamente LGBT, que vêm travando uma luta fundamental de empoderamento, numa perspectiva que vai além de questões específicas.
No Rio Grande do Sul e principalmente em Porto Alegre, elegemos uma bancada LGBT+ extremamente combativa e qualificada. Entre tantos e tantas, cito como exemplo a eleição pelo PT da travesti Regininha, na cidade de Rio Grande, reeleita no último pleito, fazendo história na cidade. ★
(*) Célio Golin, militante do PT e da AE em Porto Alegre/RS e do coletivo Nuances – grupo pela livre expressão sexual