No PT é a estratégia política que deve mudar!

Por Sérgio Henrique (*)

No atual contexto de ofensiva contra a esquerda e a classe dos que possuem apenas a força de trabalho, é imprescindível que seja adotada a orientação de “análise concreta da situação concreta”, para que não surja nos momentos de decisões importantes nenhuma ilusão acerca dos rumos a serem tomados. Na contramão da orientação leninista, uma das tentativas de rebaixamento do debate sobre a formação das chapas que disputarão vagas nas próximas direções do partido é o engodo de associar capacidade dirigente ao território da ação política ou a origem das organizações e militantes políticos. Isso aconteceu logo após a crise de 2005, quando a parte hipócrita da Articulação/CNB apontou nos dirigentes de São Paulo, a origem de todo os males de nosso partido, o que atingia todas as tendências internas independente de suas posições políticas, ocultando todas as decisões equivocadas do campo majoritário que era composto por dirigentes de todas as regiões do país.

Não foram poucas as vezes que tentaram nos calar quando mencionávamos como alternativa de direção do partido as chapas encabeçadas por militantes paulistas que sempre combateram o processo de domesticação do PT e sua consequente transformação. Nesse período, surgiram diversos agrupamentos regionais dissidentes do antigo campo majoritário. O objetivo desses setores e lideranças, era nitidamente de praticarem um estelionato eleitoral, por meio da ilusão acerca das origens dos problemas organizativos do partido.

No Piauí, a história se repete para atingir objetivos similares de 20 anos atrás, pois nas discussões para o PED de 2025, um setor articulado em torno de interesses que não representam a base histórica do partido, vem tentando associar os limites organizativos do Diretório Estadual ao que seria uma presença de militantes do PT de Teresina na Comissão Executiva Estadual, para atingir o objetivo de eleição de uma direção sem uma discussão adequada e suficiente acerca dos rumos e concretizarem os planos de deslocamento do partido para o “centro” na disputa política, como já foi defendido publicamente no site do “Pensar Piauí”.

Excluir a militância de Teresina significaria deixar de fora da construção a representação de toda uma base social formada por parte significativa da população negra e indígena do Piauí, assim como ficariam excluídos os demais segmentos populacionais que formam a população teresinense. Mas, o mais absurdo é a tentativa de ocultar as críticas acerca das causas de desmobilização programática do partido, se a pauta da discussão for limitada à localização geográfica da residência dos militantes. Se conferirmos na história recente, esses setores que tentam passar imagem de “justiceiros progressistas” são os mesmos que não aderiram à campanha do Plebiscito Constituinte em 2014; que não mobilizaram para o movimento “Não Vai ter Golpe” em 2016; e que ficaram de braços cruzados quando a palavra de ordem foi “Petista Não vota em Golpista” no ano de 2018.

Na realidade, os articuladores dessa narrativa de mentes empobrecidas, foram os protagonistas nos processos de decisão que definiram os caminhos que nos trouxeram até aqui, ou seja, são grandes responsáveis por estarmos na presente situação, e estão arquitetando uma fórmula quase mágica para não assumirem as responsabilidades políticas. Para mais nitidez nesse debate, podemos usar o exemplo do Diretório Municipal de Teresina, que foi dirigido por muitos anos pelo grupo ao qual pertencia um dos articuladores do projeto de golpe, mas também podemos usar os exemplos do PT de Parnaíba ou de Picos (aqui, estamos nos referindo às direções), comprovando que as causas da desorganização militante e da desmobilização orgânica estão associadas às práticas políticas e não às características de fora da Política.

Não basta mudarmos apenas de pessoas, a conjuntura exige que haja uma mudança na estratégia política das direções e que seja para posicionar o partido mais à esquerda no sentido de recuperação da imagem de instrumento de transformação do atual tipo de sociedade em outro, que atenda aos interesses materiais da classe trabalhadora, mantendo este instrumento ao mesmo tempo, como alternativa eleitoral para administração de governos populares.

(*) Sérgio Henrique é Assistente Social, membro do Diretório Municipal do PT em Teresina, e membro da Direção Estadual da Articulação de Esquerda.

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