Na 7ª Zonal, AE uniu forças para diminuir vantagem de grupo de Quaquá
Por André Coutinho (*)
Texto publicado na edição 283 do jornal Página 13
Para entender o processo do PED na 7ª Zonal do Rio de Janeiro, é interessante apresentar o cenário em que o processo ocorreu. A 7ª Zonal do município do Rio de Janeiro abrange a Baixada de Jacarepaguá, região conhecida nacionalmente por abrigar a sede da Rede Globo, pela influência política da Barra da Tijuca — reduto da família Bolsonaro — e por bairros como Rio das Pedras e Gardênia Azul (berço das milícias do Rio de Janeiro) e Cidade de Deus, cenário do filme homônimo e palco de disputas entre facções a décadas. A Zona Oeste do Rio é marcada por disputas complexas, envolvendo forças políticas da extrema-direita, as milícias e uma estrutura de poder que frequentemente marginaliza as demandas populares. Esse cenário já revela parte dos desafios enfrentados pelos militantes do Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras nesta região.
Nesse contexto, setores do PT na capital têm enfrentado pressões para se alinhar a interesses contrários às bandeiras históricas do Partido, resultando em derrotas significativas para a esquerda e a classe trabalhadora nos últimos meses. Exemplos disso foram a aprovação de projetos que prejudicam os professores da rede municipal (o chamado Pacote de Maldades de Eduardo Paes) e o armamento da Guarda Municipal — medidas que contaram com o apoio de parte da bancada petista, em contradição com as tradicionais posições do Partido. A maior liderança desta ala é o prefeito de Maricá, Washington Quaquá. Não é raro escutarmos a palavra degeneração ser usada para se referir ao que ocorre com esta ala do Partido no estado do Rio de Janeiro. Em nível estadual, Quaquá indicou seu filho, Diego Zeidan, para a presidência do Partido. No município, a indicação foi Alberes, este, inclusive, contou com apoio de Tainá de Paula e… Eduardo Paes! Tainá e Quaquá participaram também de uma série de chapas e indicações de presidentes das zonais da capital.
A tática utilizada pela AE no estado do Rio e na capital foi a de unir forças numa chapa que se apresentou como uma alternativa às políticas do grupo liderado por Quaquá. No estado, esta chapa contou com a candidatura do deputado federal Reimont. Já no município, contou com a candidatura do vereador Leonel de Esquerda. Na 7ª Zonal, não foi diferente, com a AE se unindo a outras forças para compor chapa em oposição ao grupo apoiado por Quaquá.
Em todo o estado, as eleições foram marcadas por denúncias de irregularidades, como filiações em massa, indícios de abuso de poder econômico, ingerência de filiados de outros partidos, fraudes em atas e assédio e intimidação contra fiscais e mesários.
Os resultados no estado e no município foram o esperado: vitória das chapas e candidaturas ligadas a Quaquá. Apesar disso, a diferença não foi tão grande quanto se esperava e as chapas em oposição ao prefeito de Maricá tiveram bons resultados: mais de 17 mil votos para a chapa que compomos na estadual contra 23 mil da chapa de Quaquá. Na capital, nossa chapa obteve 2.600 votos contra 3.400 da chapa com apoio de Quaquá e Tainá de Paula (e por tabela Eduardo Paes).
Na votação da presidência e chapa nacional da AE, obtivemos resultado recorde da tendência no estado do Rio de Janeiro: passamos de pouco mais de 900 votos no último PED para mais de 2.100 neste. Resultado de uma escolha tática acertada, com alianças táticas tanto na capital quanto no interior do estado. Na capital, aproveitamos o engajamento adquirido na campanha para vereadora de Fátima Lima em 2024.
Devido à polarização no cenário estadual, juntamos forças na chapa de oposição à Quaquá, Tainá (e a influência de Paes). A estratégia possibilitou debater questões que talvez não tivéssemos espaço em outras condições. Correríamos o risco de ficarmos isolados caso escolhêssemos ter candidatura e chapa própria na capital.
Também tentamos aproveitar ao máximo as atividades que contamos com Valter Pomar, tanto em sua caravana pelo Rio como no debate dos candidatos nacionais, onde a AE esteve presente em peso. A proximidade das eleições do SEPE-RJ também criou a possibilidade de um debate amplo justamente em um dos pontos onde Eduardo Paes mais atacou a classe trabalhadora: os professores municipais. Conseguimos expor para a militância os riscos de o Partido se tornar uma espécie de puxadinho de Eduardo Paes.
Na 7ª Zonal, o resultado da chapa que compomos foi animador, levando em consideração todas as dificuldades já apresentadas, tanto as questões gerais do Rio de Janeiro quanto especificamente do território da Baixada de Jacarepaguá. Nossa chapa obteve 39% dos votos contra 41% da chapa com apoio de Quaquá. A diferença mínima na votação zonal mostrou que, mesmo em condições desiguais, a mobilização da base pode fazer frente à máquina partidária.
O resultado representa uma vitória política para os que defendem um PT sem donos, construído por seus militantes, que caminha lado a lado da classe trabalhadora e dos movimentos sociais. Um partido que não tenha medo de se assumir socialista. Após enfrentar diversas adversidades, ataques intensos, conseguimos mostrar o que está em jogo: o risco de abandonar pautas históricas em troca de alianças espúrias e a transformação do Partido em um apêndice de governos alinhados ao status quo. Sigamos!
Viva o Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras, viva o Socialismo!
(*) André Coutinho é educador popular e militante da 7ª Zonal do PT/RJ.