Por Fausto Antonio (*)
Epigrafia Eva-adâmica
Ainda no Paraíso, soou a voz do contrário, sinto que estou apaixonado por você, disse Adão, na passagem, à Eva. Adão sentia aquele fogo que eliminaria a necessidade do Paraíso. A paixão, no caso de Adão e Eva, é um sentimento de equilíbrio, que se dá ou se realiza com o alimento; fome atávica, do fruto proibido contido naquela boca.
Havia no Paraíso uma pimentinha doce. Dizem as escrituras que era, no imaginário, uma linda mulher de cabelo assanhado. Na senda dos sete, aqui o assanhado era referência à carapinha. Assim, o Eterno a concebera, no emaranhado das teias de outras seis Evas, para ser contraparte feminina de Adão. A despeito de existir outros seis, ele usou a veste pimentinha doce para ludibriar o falso Adão, espelho íntimo das descendências, que desejava tão-somente o fruto proibido. A pimentinha doce, serpente de fogo, era o mental; a contraparte perfeita. O verdadeiro Adão, o primeiro homem, então, sem descuidar dos outros seis, provou do veneno, que era remédio. A mulher dos tempos imemoriais, que enunciou em carne e fogo o homem, nunca mais fechou a comunicação. O casal perfeito provou mentalmente o fruto proibido no então Paraíso, Éden, Jardim, Redenção e assegurou a redenção do amor.
Uma voz imemorial disse: acredito e selou, na pedra bruta, o martelo. Naquela caverna de iniciação, o Paraíso, que é o teatro, há sete bocas masculinas e sete contrapartes femininas. Evas- adâmicas, bocas de morte e vida, no enunciado encruzilhado dos setes, são contrapartes do fogo e do fogo; semente, serpente é fruto proibido do próprio fruto. Ainda no Paraíso, soou a voz do contrário, sinto que estou apaixonado por você, disse Adão, na passagem, à Eva. Adão sentia aquele fogo que eliminaria a necessidade do Paraíso. A paixão , no caso de Adão e Eva, é um sentimento de equilíbrio, que se dá ou se realiza com o alimento; fome atávica, do fruto proibido contido naquela boca.
Estar apaixonado, a rigor, é buscar, antes, o equilíbrio íntimo e, depois, na contraparte, o amado, acudiu Eva. Quando há os encontros, o referido equilíbrio, eu sinto que estou apaixonada, pois preciso desse equilíbrio ,complemento, vindo de Adão. Por tal ordem ou razão, há pessoas que classificarão, no futuro, os apaixonados de desequilibrados. Desde os tempos imemoriais, não concordo, sentenciou, com veemente força, Eva. Na verdade, prosseguiu a mulher-semente e igualmente ser mente, eles, os amantes, buscam o equilíbrio das trocas restitutivas;ancestrais, no outro (a), a chamada contraparte e, no popular, a denominada cara metade. Como apaixonada, eu busco e quero o amor, que é a química e mais ainda a alquimia; o mental, que tempera a paixão e traz ou gera o equilíbrio e o fim das alternâncias, que deixam o apaixonado com aquela ressaca afetiva e/ou um relativo desequilíbrio, que é a paixão. A paixão é, como motor e tempero do casal, contraparte do amor, alquimia perfeita, que alimenta a felicidade contínua e sem sobressaltos.
Considero importante chamar a sua atenção, Eva-leitora e Adão-leitor, para o efeito do fruto proibido. que, sem mistificar as relações Eva-adâmicas, está, no nexo serpenteante, no centro de certas composições entre o sexo e o mental . Os mistérios dos sete Adões revelam as sete Evas ou pimentinhas doces. O fruto proibido e o que ele revela e oculta , no plural, são os mistérios e os desejos manifestados de um lado e, de outro, o mental se fazendo em carne, osso e sangue. Assim, a passagem tutelada pelo Paraíso chegou, felizmente, ao fim. O Paraíso era um sinal fechado para o nexo inseparável do mental e do sexo. De qualquer modo, Eva é um mar de mistérios; Adão é o espelho desse mito. Espero, como fruto do proibido, que o efeito mágico do fruto proibido passe, a partir da eva-adâmica revelação, a encapsular os estados ocultados pelo liso apelo desse visgo.
(*) Fausto Antonio é escritor, poeta, dramaturgo , professor da Unilab – Bahia e autor, de acordo com registros na Rede Matracas de Comunicação e no livro Patua de palavras, o (in)verso negro, do poema cantado “Fruto Proibido”: https://youtu.be/3YGEf7WM6Fw
Referência
ANTONIO, Fausto. Patuá de Palavras, o (in)verso negro. Londrina: Galileu Edições, 2019.