Por Valter Pomar (*)
O deputado José Guimarães é um defensor de primeira hora da federação.
E um entusiasta da “frente ampla”, não apenas no país mas também em seu estado, o Ceará, onde é um dos principais responsáveis (até agora) pela manutenção da aliança com os Ferreira Gomes.
Sendo assim, Guimarães deve ter ficado bastante desgostoso com a entrevista de Siqueira à Folha de S. Paulo.
Afinal, mesmo que o objetivo de Siqueira fosse apenas conseguir mais concessões da parte do PT, a forma como ele agiu – pública e desrespeitosamente – causa muitos problemas.
Compreende-se, portanto, o tom da rápida resposta dada por Guimarães (ver a integra ao final): “nós não fomos procurar nenhum desses partidos para fazer federação. Nós iniciamos o debate a partir da solicitação deles, e não tem nada definido. Portanto, se um dos partidos discorda de uma ou outra tese do PT, se discute isso internamente. O PT não vai resolver nada das federações pelas páginas de jornais ou recebendo pito desse ou daquele partido. O PT tem história, tem maturidade. Esse tipo de posição do presidente do PSB não ajuda, só atrapalha, e complica fortemente aquele desejo que é quase unânime na bancada de deputados do PSB e de muitos deputados do PT”.
Destaco, da reposta acima, duas frases:
i/“o PT não vai resolver nada das federações pelas páginas de jornais”;
ii/“desejo que é quase unânime na bancada de deputados do PSB e de muitos deputados do PT”.
Registro: desde 16 de dezembro até hoje 7 de fevereiro a partir das 19h00, a direção nacional do PT não recebeu nenhum informe das negociações.
Nenhum. Ficamos sabendo de tudo pelas páginas dos jornais ou através de relatos informais.
Registro: a federação é um desejo “quase unânime” da bancada do PSB. Já no PT, é desejo de “muitos deputados”. O porquê dessa diferença, pode-se imaginar.
Isto posto, há um problema: se deixarmos de lado o tom da entrevista de Guimarães e nos concentrarmos no conteúdo do que foi dito por ele, a coisa toda segue preocupante.
Comecemos por onde o presidente do PSB começou: a direção da federação.
Segundo Guimarães, “no debate que fizemos com os quatro partidos sobre o estatuto da federação foi colocado um critério para respeitar o tamanho dos partidos, tamanho do Congresso, ninguém pode querer ser mais do que outro se não tem voto para isso”.
Como já argumentamos em outro lugar (http://valterpomar.blogspot.com/2022/02/como-sera-o-pt-aos-46-anos.html), é um erro naturalizar este tipo de critério parar aferir o “tamanho” do PT.
O PT é muito maior do que o tamanho de suas bancadas, o PT é muito maior do que sua votação nas eleições para prefeituras e governos de estado. Politica e estratégicamente falando, o PT é maior inclusive do que sua votação nas disputas presidenciais.
Ao naturalizar este tipo de critério (eleitoral congressual), abrimos as portas para adotarmos critérios análogos, como por exemplo o número de prefeitos.
Guimarães tem razão ao dizer que “eleição municipal é outra coisa, em federação você parte do princípio nacional”.
O problema é que a federação vai valer também para as eleições municipais de 2024. E qual será o critério adotado nesse caso?
Acontece que Guimarães e muitos outros tendem a olhar a política e o próprio PT do ponto de vista do Congresso Nacional.
E deste ponto de vista, o “tamanho” do PT é “o tamanho das bancadas no Congresso que decide Fundo Eleitoral, Fundo Partidário, liderança no Congresso”.
Na medida em que pensam isto, não se dão conta de que a dinâmica da federação -se vier a ser aprovada – vai nos levar mais e mais a adotar a lógica da “cooperativa de parlamentares”, predominante em outros partidos.
Sigamos.
Guimarães reclama que “nem batemos o martelo porque não tem definição sobre a federação. Se o Siqueira discorda, que ele diga na reunião, que ele converse conosco”.
Realmente, Siqueira agiu mal, especialmente por ele ser um privilegiado: participa de reuniões sobre as quais a executiva e o diretório nacional do PT não receberam nenhum informe, desde o dia 16 de dezembro de 2021 até o dia 7 de fevereiro de 2022, a partir das 19h00.
Guimarães também reclama da postura do presidente nacional do PSB, no tocante às eleições estaduais: “Ficamos, primeiro, com surpresa. E uma certa indignação. Temos tratado o PSB com o máximo de respeito. Nunca levamos para imprensa as divergências e os problemas que acontecem nas reuniões com os quatro partidos. Essa conduta a gente vai manter. Estamos respondendo por conta de uma exigência partidária. Há um ambiente que, pela responsabilidade que nós temos, que eu tenho, como vice-presidente nacional do PT, não poderia silenciar frente ao que foi dito, por meio da imprensa. E não é a primeira vez”.
Não é a primeira vez, mas isto não impediu nossos gestos de excessiva boa vontade.
Por exemplo: “Humberto Costa acabou de fazer um baita de um gesto. Renunciou a uma candidatura que está em primeiro lugar ao Governo de Pernambuco [em apoio ao nome do PSB]. Isso não conta?”
Deveria contar, se o mundo fosse justo. Mas no mundo real, concessões “antes da hora” acabam sendo contraprodutivas.
Sinalizam fraqueza, desespero, pressa, insegurança.
Todos os gestos do PT sobre a federação (inclusive as lideranças no congresso) emitiram, para o presidente do PSB, o seguinte sinal: eles estão precisando de nós mais do que nós deles. E sentindo gosto de sangue, ele partiu para o ataque.
Infelizmente, Guimarães percebeu o problema mas ainda não parece ter aprendido a lição.
No caso do ES, apresenta como “condição” o apoio de Renato Casagrande a Lula. Mais nada. No caso do Rio, lembra que o apoio já está concedido. E no caso do Rio Grande do Sul, diz quais “nós vamos discutir lá na frente. O PT tem um bom candidato [Edegar Pretto], o PSB também [Beto Albuquerque], tem a Manuela D’Ávila [PC do B], então até sugerimos que esses três partidos sentassem para discutir o melhor caminho, para se unificar”. Ou seja, sinaliza para uma solução ao estilo Pernambuco.
No caso de São Paulo, Guimarães defende “unir Haddad, Márcio França, Guilherme Boulos e Geraldo Alckmin” (….) “vamos analisar qual é o melhor nome para ganhar, qual é o nome mais forte. Isso é que tem que considerar, e não impor nome A ou B”.
Mas, ato contínuo, Guimarães afirma: “o PT dificilmente deixará de ter candidato a governador de São Paulo, pelo que representa o Haddad. Agora, isso é motivo para não sair a federação? Não. Isso é motivo para ter dificuldade para apoiar o Lula? Não. Nós vamos ter que administrar”.
“Administrar” é palavra bonita, mas como???
A federação é um ato nacional. Uma vez estabelecida, os partidos federados só poderão ter uma única candidatura a governador em cada estado do país.
Se a decisão sobre a candidatura a governador for tomada em âmbito nacional, prevalecerá a candidatura que tiver apoio de 2/3 da direção da federação.
Compreende-se, portanto, a tática de Siqueira: definir desde já as candidaturas a governador e, também, definir desde já a candidatura “nata” dos prefeitos, bem como uma composição da direção que possibilite ao PSB ter poder de veto sozinho e/ou poder compor com mais facilidade uma maioria de 2/3.
Para Siqueira, estas garantias são mais importantes do que os parlamentares a mais que uma federação supostamente possa eleger, assim como as tais garantias são mais importantes do que eleger Lula etc.
Do ponto de vista de Siqueira, participar de uma federação hegemonizada pelo PT não pode enfraquecer o poder de barganha do PSB.
Se – como defende Guimarães – “temos que agregar outras forças de centro”, “temos que atrair o Alckmin, temos que sentar com o PSD do Gilberto Kassab”, “com várias forças, ainda que não seja coligações formais”, então nas contas de Siqueira o PSB pode terminar perdendo importância se estiver amarrado numa federação hegemonizada pelo PT.
Por isso, para ele não bastam as concessões feitas até agora – concessões que nós, petistas contrários à federação, são suficientemente inaceitáveis. Para Siqueira é preciso muito mais. E é preciso demonstrar publicamente “quem manda”.
Não sei se Guimarães e outros defensores da federação estão dispostos a pagar o preço exigido pelo presidente do PSB. Na entrevista Guimarães falou duro: “Quem não quiser não vai. Quem não quiser não vai [repete]. Não estamos pedindo favor a ninguém para compor a federação”.
Mas ao mesmo tempo repetiu o mantra: “A federação é uma necessidade estratégica para o país. E o interesse é nacional, não pode ser interesse menor desse ou daquele partido. Até porque se fôssemos levar em consideração só esse negócio de deputado, o PT pode fazer uma baita campanha de legenda e, pela força que o Lula tem hoje, aumentar fortemente a sua bancada, com federação ou sem federação”.
Notem: “com ou sem federação”, o PT pode aumentar fortemente a sua bancada.
Eu complementaria: havendo federação, parte deste aumento vai ser transferido para os partidos federados.
Mas o principal é o seguinte: se “a federação é uma necessidade estratégica”, então está dada a senha para o PT sacrificar seus interesses “menores” no altar do PSB, digo, da pátria.
Por isso, embora aplauda as palavras duras de Guimarães, considero que o risco continua posto.
E na origem do risco estão duas ideias erradas.
A primeira é velha: a de organizar a governabilidade principalmente em torno de maiorias congressuais.
A segunda é nova: achar que uma “federação” vai contribuir de maneira transcendental para a governabilidade.
As contas de Guimarães são curiosas: “A federação é um instrumento (…) para ajudar a mudar a correlação de forças no Congresso. Com 130 deputados [atual tamanho da esquerda], ninguém consegue praticamente nada. É preciso ter de 180 a 200 deputados [de um total de 513], essa é a meta. Se não for isso é conversa fiada e a gente não muda a realidade”.
Com 130, praticamente nada.
Com 180 a 200, mudamos a realidade.
É óbvio que a suposição é que estes 180 a 200 vão atrair “por gravidade” o que falta para chegar na maioria (257).
Pode ser. Pode. Como também pode dar tudo errado, por diversos fatores.
Mas na dúvida, há uma única coisa certa nisto tudo: o PT é o núcleo duro de qualquer movimento exitoso (seja eleitoral, de governabilidade congressual, de sustentação popular etc.)
A federação atualmente em discussão – como está sendo demonstrado pelos fatos – só vai acontecer se o PT pagar uma conta que o enfraquecerá demasiadamente.
E reduzir a força do PT vai levar, mais cedo ou mais tarde, a desmontar todo o resto, inclusive os planos de “governabilidade”.
Essa foi a experiência de nosso período na presidência da República.
Por isso, diferente de Guimarães, considero que “estratégico” não é a federação; estratégico é o PT.
Siqueira sabe disso. E por isso nos ataca.
Por fim: como diz o próprio Guimarães, não ter federação não interdita a construção do palanque com o Lula.
E não se deve fazer aliança “a ferro e fogo”. Nem no Ceará, nem em nenhum lugar.
(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT
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A entrevista de Carlos Siqueira
Presidente do PSB cobra reciprocidade do PT e admite riscos a federação
Givaldo Barbosa/Agência O Globo
As conversas entre PT, PSB, PV e PC do B parecem estar avançando no sentido de vocês formarem uma federação, mas ainda existem impasses estaduais. Hoje, de 0 a 10, qual a chance o sr. vê de a federação sair até março? Você disse que está avançando, eu diria que está apenas sendo discutida. Não há avanço nem retrocesso.
O que há é a discussão de como essa federação funcionará. E essas normas têm um centro, que é o comando da federação.
Hoje, a proposta do PT é que numa assembleia de 50, que decidirá todas as questões fundamentais da federação, o PT tenha 27, sugere 15 para o PSB, 4 para o PC do B e 4 para o PV. Ou seja, o PT fica com a maioria.
Nada obstante o quórum ser qualificado de dois terços [para tomar decisões], obviamente que quem tem 27 tem mais condições de chegar a dois terços do que quem tem 15, que é o que nos competirá se entrarmos na federação.
Então, a questão da federação não está diretamente ligada às questões estaduais, das candidaturas em que queremos o apoio do PT.
São conversas que caminham em paralelo, então. São coisas distintas, muito embora o que for definido sobre os governos estaduais tenha uma repercussão também sobre a decisão que vamos tomar sobre a federação.
O essencial a ser examinado é se o PSB quer continuar tendo sua política e decidindo as coisas essenciais ou [se quer estar] numa estrutura que tem essa configuração com a maioria de um partido. [Tem que decidir se] deseja entregar o seu destino a essa federação.
Essa é a discussão que tem de ser processada no âmbito do PSB e dos outros partidos.
Não há como o PT não ter 27? O PT tem suas razões, nós reconhecemos, de ter essa quantidade. O PSB, por seu turno, admite a discussão, mas ainda não há decisão [do partido].
Ademais, tem o problema do tempo. O TSE achou que devia desconhecer o prazo que o Congresso estabeleceu em lei, que é agosto, e estabeleceu um prazo demasiadamente curto [os partidos têm até 1º de março para registrar federações] para se processar uma discussão sobre a federação, que precisava ser profunda e com tempo suficiente até março. É muito pouco tempo.
Há como formar esse comando sem o PT ter a maioria? Não. Isso já está estabelecido. Teve discussão. Eu fiz proposta de agregar mais membros ao PSB considerando o número de prefeitos e vereadores que nós temos, que é maior do que o do PT. Mas o PT mantém a proposta deles e vamos examinar se convém ou não.
O que há para ser feito, então, sobre a composição? É compreensível que o PT queira ter um número maior de representantes na assembleia, mas não precisa ser tanto. Isso pode ser melhorado se eles refletirem e concluírem que precisa ter um equilíbrio na composição. Por isso eu proponho que se agregue a questão dos prefeitos. Isso daria um equilíbrio a todos.
Se o PSB fechar a federação, significa perder autonomia sobre o próprio partido? Nesses termos, com essa composição, sim. Nos termos que estão estabelecidos, não tenho dúvida que o partido perde muito da sua autonomia sobre questões essenciais, sobretudo no plano eleitoral. Mas a matéria está em discussão, vamos ver se ela progride.
Então a decisão passa por decidir se vão perder ou não autonomia? Mantida essa composição, sim. Se não mudar a composição, vai ter muita dificuldade de aprovar a federação no âmbito do diretório nacional do PSB.
O sr. vai levar a discussão ao diretório nacional quando? Quando ela acabar entre os partidos. Não se trata do quórum qualificado [para tomar decisões], mas do peso que cada um terá.
Pessoalmente, o sr. acha que é bom para o PSB entrar na federação? Eu tenho procurado, pelo menos publicamente, não me posicionar a esse respeito, porque dentro do partido há divergências. Nessa fase quero apenas colher as opiniões e formar minha convicção para convocar o diretório nacional.
Sobre os palanques estaduais, que é uma questão que corre em paralelo… Sim. Nós já estamos apoiando o PT para quatro governos estaduais. Apoiamos o candidato ao governador na Bahia, no Piauí, em Sergipe e no Rio Grande do Norte.
O PT tem sinalizado com dois estados só até agora: Pernambuco e Rio de Janeiro. Mas nós temos cinco demandas para eles [e queremos o apoio em] São Paulo, Rio Grande do Sul e Espírito Santo.
No Rio Grande do Sul, o sr. recebeu sinalização de que ele vai apoiá-los? Não. Mas espero que eles cedam em tudo. Na política tem uma coisa que se chama reciprocidade.
Em São Paulo, que é o palanque tido como mais complicado, vocês não cogitam abrir mão da candidatura do Márcio França (PSB-SP)? Não. Eu já disse e reitero sempre: ele só não será candidato se ele não desejar. E no momento ele deseja. Acho ainda mais. Que ele tem melhores condições eleitorais do que o próprio [Fernando] Haddad.
Lula tem dito que vê chance real de o PT ganhar e uma das razões é que Haddad pontua na frente do França nas pesquisas. Isso não é um sintoma de que Haddad de fato está melhor? Eu respeito muito a opinião do presidente Lula, mas ele também achava isso no Recife, que a candidata dele [Marília Arraes (PT-PE)] ganharia a eleição para a prefeitura do Recife no ano passado. E ela perdeu com 100 mil votos de diferença do nosso, do prefeito João Campos (PSB-PE).
Política não é matemática. Política se faz com vários fatores que vão muito além de pesquisas.
Isso pode ser um problema nas eleições municipais. Nós temos geralmente nas eleições de 1.000 a 1.100 candidatos a prefeito e elegemos 250 prefeitos. O PT elegeu 180. Não sabemos onde haverá conflito, mas isso ocorrerá provavelmente nas grandes cidades. E pode acontecer com o PV e com o PC do B.
Tem de haver regras que possam garantir a candidatura nata à reeleição de todos os 250 prefeitos do PSB. E eu fiz essa proposta, inicialmente o PT discordou, mas depois admitiu consultar.
Agora, em termos de aliança, já está decidido que o PSB apoiará o ex-presidente Lula? Não está decidido, mas é o mais provável. Por isso estamos trabalhando fortemente porque consideramos que o ex-presidente Lula reúne as condições para derrotar Bolsonaro e pregamos que a frente não pode ficar restrita à esquerda. A frente tem de ampliar para o centro.
Vocês têm conversado sobre indicar o vice caso o ex-governador Geraldo Alckmin se filie ao PSB. Soube que ele esteve com integrantes do PSB nesta semana. Ele mandou sinal de fumaça que vai se filiar? Ele esteve conosco, fizemos o convite. Sabemos que temos divergências sobre alguns assuntos, mas nessas circunstâncias achamos simbólico acenar para um campo político que não é o nosso, que é o centro político, que precisa ser conquistado.
O PSD também deveria fazer parte da frente, na sua avaliação? Sim.
O PSB abriria mão da filiação do Alckmin para que ele fosse ao PSD, se essa possibilidade existir? Não podemos abrir mão da filiação do Alckmin porque nós convidamos e temos palavra. Agora, se ele vai ser convidado para ser vice, não cabe ao PSB, cabe ao PT.
O sr. acha que o PT está subindo no salto ao não ceder já em alguns estados? Eu não sou muito apreciador da expressão salto alto. Temos relações com o PT que são antigas e remonta ao ano de 1989.
Em todas as eleições seguintes nós os apoiamos no primeiro turno ou no segundo. É bom que se lembre que política é uma parceria de mão dupla. De mão única, acaba dando uma trombada.
Nós esperamos que eles nos apoiem nos cinco estados que demandamos.
E no Espírito Santo? Nós demandamos apoio ao governador Renato Casagrande. Eu pensei que estava bem encaminhado, mas nesta semana eu mandei para a presidente do PT Gleisi [Hoffmann (PR)] uma matéria do senador Fabiano Contarato (PT-ES) se apresentando como candidato. É preciso que o PT adote as providências para viabilizar esse apoio.
Em meio às discussões com o PT, ouvimos que o sr. estaria contrariado com declarações que Marcelo Freixo (PSB) teria dado de apoio a Haddad em São Paulo. O sr. conversou com ele? Ele esteve esta semana comigo, conversamos. Eu expressei publicamente não só a minha opinião, mas expressei uma certa indignação que houve de muitas pessoas no PSB, que acharam inadmissível a declaração dele.
Ele diz que foi invenção da jornalista, mas a verdade é que não houve um desmentido no dia seguinte sobre a matéria.
Qual a vantagem de formar a federação, se existem tantos impasses? A federação se torna um instrumento poderoso eleitoralmente nessas eleições, para eleger, no caso do PSB, mais três ou quatro deputados, não mais que isso.
Tem de se examinar se essa vantagem é suficiente para entrar na federação ou não. Porque eu não consigo ver outras vantagens para o futuro.
Apesar disso, estou esperançoso que tanto o PT e os demais partidos reflitam sobre as dificuldades para fechar a federação e aprovem regras que são democráticas e aceitáveis.
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A ENTREVISTA DE JOSÉ GUIMARÃES
PT não aceita pito nem considera federação com PSB essencial, afirma deputado
O presidente do PSB manifestou preocupação de o PT tentar ter a hegemonia em uma eventual federação. Como o partido irá contornar essa insatisfação? O PT não iniciou o debate sobre federação somente por questões eleitorais. O PT entende que a federação é um instrumento que pode ser fundamental para alterar a correlação de forças dentro do Congresso, com um bloco de esquerda, centro esquerda, que seja capaz de iniciar uma nova governabilidade congressual.
Agora, nós não fomos procurar nenhum desses partidos para fazer federação. Nós iniciamos o debate a partir da solicitação deles, e não tem nada definido. Portanto, se um dos partidos discorda de uma ou outra tese do PT, se discute isso internamente.
O PT não vai resolver nada das federações pelas páginas de jornais ou recebendo pito desse ou daquele partido. O PT tem história, tem maturidade.
Esse tipo de posição do presidente do PSB não ajuda, só atrapalha, e complica fortemente aquele desejo que é quase unânime na bancada de deputados do PSB e de muitos deputados do PT.
O PT não estaria obtendo apoio ao presidente Lula sem dar algo relevante em troca? No debate que fizemos com os quatro partidos sobre o estatuto da federação foi colocado um critério para respeitar o tamanho dos partidos, tamanho do Congresso, ninguém pode querer ser mais do que outro se não tem voto para isso.
Mas em número de prefeitos o PSB é maior. Eleição municipal é outra coisa, em federação você parte do princípio nacional. Nós levantamos essa ideia, e PV e PC do B concordaram. Mas nem batemos o martelo porque não tem definição sobre a federação. Se o Siqueira discorda, que ele diga na reunião, que ele converse conosco.
Mas ele não manifestou isso a vocês, em reuniões? Ele manifestou na reunião, eu estava nela, e eu tinha entendido que havia um consenso que se respeitasse o princípio da proporcionalidade. Ninguém tira tamanho dos partidos por decreto. O partido tem representatividade social, tem voto. O PT é do seu tamanho e é desse tamanho que nós vamos para a eleição.O PT, então, não abre mão dessa proporcionalidade? O PT não vai abrir mão de seu tamanho, porque estaríamos incorrendo em um erro grave. É um tamanho dado pelas urnas, não é por decreto. É o tamanho das bancadas no Congresso que decide Fundo Eleitoral, Fundo Partidário, liderança no Congresso.
Essa ideia de que o PT quer hegemonizar… passamos 2021 com um espírito de boa vontade tamanho que temos dois líderes no Congresso que são do PSB, o Alessandro Molon [líder da oposição] e o Marcelo Freixo [líder da minoria].
O PSB vai participar da federação com o seu tamanho, o PT com o seu tamanho, o PV com o seu tamanho, o PC do B com o seu tamanho. Isso é respeito e reconhecimento do que o eleitor decidiu na última eleição e poderá decidir na próxima. E temos que agregar outras forças de centro.
Temos que atrair o Alckmin, temos que sentar com o PSD do Gilberto Kassab. E com várias forças, ainda que não seja coligações formais. Temos vários palanques estaduais com o MDB, como no Pará, em Alagoas.
O PSB argumenta só ter pedido apoio a seus candidatos em cinco estados, incluindo São Paulo. O que o PT está disposto a ceder? Veja bem, Humberto Costa acabou de fazer um baita de um gesto. Renunciou a uma candidatura que está em primeiro lugar ao Governo de Pernambuco [em apoio ao nome do PSB]. Isso não conta?
Eu já falei para o Siqueira: no Espírito Santo é só o governador Renato Casagrande apoiar o Lula. Ele não declarou apoio ainda, como vamos apoiar um cara se você não sabe se ele apoia o Moro ou o Lula? Na hora que ele se dispuser a sentar com o PT, respeitando o PT e declarando apoio ao Lula, estaremos no palanque do Casagrande no Espírito Santo.
Com o Freixo [pré-candidato do PSB ao governo do Rio], já tínhamos discutido lá atrás [apoiar]. No Rio Grande do Sul nós vamos discutir lá na frente. O PT tem um bom candidato [Edegar Pretto], o PSB também [Beto Albuquerque], tem a Manuela D’Ávila [PC do B], então até sugerimos que esses três partidos sentassem para discutir o melhor caminho, para se unificar.
E em São Paulo? O Fernando Haddad foi nosso candidato à Presidência [em 2018], se colocou como alternativa. É o candidato do PT, como o PSB diz que tem candidato, o Márcio França. Eu defendo a ideia de que em São Paulo devemos unir Haddad, Márcio França, Guilherme Boulos [PSOL] e Geraldo Alckmin [ex-PSDB, que negocia ser vice de Lula].
Se esses quatro personagens tiverem grandeza política e tiverem compromisso com o estado de São Paulo, nós podemos ganhar a eleição. E vamos analisar qual é o melhor nome para ganhar, qual é o nome mais forte. Isso é que tem que considerar, e não impor nome A ou B.
Evidentemente, e aí falo a você com todas as letras, o PT dificilmente deixará de ter candidato a governador de São Paulo, pelo que representa o Haddad. Agora, isso é motivo para não sair a federação? Não. Isso é motivo para ter dificuldade para apoiar o Lula? Não. Nós vamos ter que administrar.
Acho que São Paulo é um emblema, e eles sabem da nossa opinião. E nós nunca fomos externar publicamente nenhuma posição de desrespeito com o Márcio França. Eu acho que quando o Siqueira fala do Haddad é um pouco de falta de respeito. O Haddad é um quadro extraordinário da política brasileira, assim como é o Boulos, o Márcio França. Tínhamos todas as razões pretéritas para reclamar, mas não vamos fazer em respeito à história de cada partido e cada candidato.
Quais razões pretéritas? Na eleição passada, o Márcio França não quis o apoio do PT quando disputou com o João Doria [PSDB]. Mas não vamos ficar… Veja bem, essa eleição é não é trivial, é diferente. Temos que interditar essa ameaça que ronda o Brasil, que é o Bolsonaro. Portanto as forças que têm algum compromisso com a democracia têm que estar juntas. E o nome que pode somar, aglutinar e liderar isso, é o Lula.
Qual foi a repercussão da entrevista do Siqueira dentro do partido? Pelo que nós representamos, pelo que nós somos, evidentemente que a militância não aceita que alguém de outro partido fique dando pito no PT. ‘Faça isso senão não vou…’ Quem não quiser não vai. Quem não quiser não vai [repete]. Não estamos pedindo favor a ninguém para compor a federação.
A federação é uma necessidade estratégica para o país. E o interesse é nacional, não pode ser interesse menor desse ou daquele partido. Até porque se fôssemos levar em consideração só esse negócio de deputado, o PT pode fazer uma baita campanha de legenda e, pela força que o Lula tem hoje, aumentar fortemente a sua bancada, com federação ou sem federação.
A federação é um instrumento que eu vejo para ajudar a mudar a correlação de forças no Congresso. Com 130 deputados [atual tamanho da esquerda], ninguém consegue praticamente nada. É preciso ter de 180 a 200 deputados [de um total de 513], essa é a meta. Se não for isso é conversa fiada e a gente não muda a realidade.
Como Lula e a Gleisi [Hoffmann, presidente do partido] receberam as cobranças que ele [Siqueira] fez? Com surpresa. Eu não falei com o presidente Lula, falei com a Gleisi. Ficamos, primeiro, com surpresa. E uma certa indignação. Temos tratado o PSB com o máximo de respeito. Nunca levamos para imprensa as divergências e os problemas que acontecem nas reuniões com os quatro partidos.
Essa conduta a gente vai manter. Estamos respondendo por conta de uma exigência partidária. Há um ambiente que, pela responsabilidade que nós temos, que eu tenho, como vice-presidente nacional do PT, não poderia silenciar frente ao que foi dito, por meio da imprensa. E não é a primeira vez.
O sr., então, considera importante a federação, mas não acha que seja fundamental para o PT? Não tem problema se não sair. E não é com imposição de ninguém que nós vamos ou não para federação.
E queria dizer que tudo isso que ele disse e que eu estou falando também não é motivo para interditar o diálogo, interditar a construção do palanque com o Lula, que é a centralidade da esquerda, interditar o debate com a federação. Não adianta governos estaduais se não tivermos uma mudança profunda nesse ambiente político que o Bolsonaro representa.
No Ceará, o PT de Lula e o PDT de Ciro Gomes seguirão unidos? A tendência aqui [Ceará] é manter a aliança em torno do Camilo Santana [atual governador, do PT] para o Senado, escolhendo um nome para governador que contemple não só o PT, mas o PDT.
Mesmo com as críticas que Ciro faz a Lula e ao PT? São críticas desrespeitosas, infundadas, e que só atrapalham a nossa aliança no Ceará. Nós temos evidentemente considerado isso, não vamos fazer aliança no Ceará a ferro e fogo. São as contradições da política, mas nós, do PT, não vamos nos render a nada. Para nós do PT do Ceará é Lula, Camilo e aumentar a nossa bancada.