O que a direita pretende nas eleições?

Por Valter Pomar (*)

Começando pelo óbvio: eleger o maior número de vereadores e prefeitos.

Este é o tema da live que o Manifesto Petista fará na segunda dia 26 de agosto.

Quem quiser assistir, está aqui o endereço:  https://www.youtube.com/live/3TugCu7iX0U

Como não poderei participar, escrevi o que segue.

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Começando pelo óbvio: eleger o maior número de vereadores e prefeitos.

Vale dizer que um passo fundamental foi dado: o lançamento de um maior número de candidaturas.

Vejamos os números: segundo o TSE, em 2024, foram inscritas 15.366 candidaturas a prefeito e 422.490 candidaturas a vereador. Destas, 78% foram inscritas por partidos do centro-direita, da direita gourmet e da direita cavernícola. E apenas 22% foram inscritas por partidos que compõem a centro-esquerda ou esquerda (PCB, UP, PSTU, Federação PSOL-Rede, Federação PT-PCdoB-PV, PDT e PSB).

Em números: 3.322 candidaturas a prefeito e 87.082 candidaturas a vereador foram inscritas por partidos que podem ser descritos como de centro-esquerda ou esquerda. Enquanto 12.044 candidaturas a prefeito e 335.408 candidaturas a vereador foram inscritas por partidos de centro-direita, direita e extrema-direita.

Aliás, embora não tenhamos os dados precisos, é seguro afirmar que a maioria dos atuais prefeitos e vereadores em todo o país pertence a estes partidos de centro-direita, direita e extrema-direita.

Claro que há candidaturas progressistas inscritas pelos demais partidos; e claro que há candidaturas de direita inscritas através de partidos de centro-esquerda. Mas os números dão uma ideia aproximada do óbvio: os partidos de centro-direita, direita e extrema-direita lançaram maior número de candidaturas.

Um exemplo a mais disso é o contraste entre o PT e o PL.

O PT lançou 1.380 candidaturas a prefeito. O PL lançou 1.474. O PT lançou 26.654 candidaturas a vereador, o PL lançou 32.357. Detalhe importante: quando comparamos o número de candidaturas em 2024 com o número lançado em 2020, fica ainda mais evidente a vantagem relativa do PL.

Em 2020, o PT lançou 1.209 candidaturas a prefeito, agora lançou 1.380. O PL lançou 926 em 2020 e 1.474 em 2024. Ou seja: depois de vencer a eleição presidencial, o PT aumentou em 14% sua nominata. Já o PL, depois de perder a eleição presidencial, aumentou em 59% sua nominata.

No caso de vereadores, a comparação é ainda mais preocupante. Em 2020, o PT lançou 27.484 candidaturas a vereança; em 2024, esse número caiu para 26.654. Já o PL cresceu: lançou 25.170 em 2020 e 32.357 em 2024.

Evidentemente, ter candidato não quer dizer ter voto, nem tampouco significa eleger. Teremos que aguardar o resultado eleitoral para verificar se a tática seguida pelo PL produziu mais êxito que a tática adotada pelo PT.

Mas, como está na moda dizer, há “fortes indícios” de que a direita vai conseguir mais votos e vai conquistar mais mandatos do que a esquerda. E, devemos acrescentar, vai reforçar sua influência não apenas institucional, mas também ideológica, sobre grandes setores da sociedade brasileira.

Que efeitos isto pode ter na eleição de 2026? Sobre isso, há controvérsias. Primeiro, porque em dois anos pode acontecer muita coisa, como se viu, aliás, entre 2020 e 2022. Em segundo lugar, porque os efeitos podem ser diferenciados: o crescimento da direita nas eleições municipais de 2020 facilitou a eleição da atual maioria congressual, mas não impediu a vitória de Lula nas eleições presidenciais.

De toda maneira, a direita brasileira vê as eleições de 2024 como um momento de acúmulo de forças. Neste sentido, é fundamental – para a esquerda – vencer as eleições nas grandes cidades.

Em 100 cidades, concentra-se 38% do eleitorado. Em outras 115 cidades, está cerca de 10% do eleitorado. Portanto, quase metade do eleitorado brasileiro concentra-se em 215 cidades. A outra metade está distribuída em 5.355 municípios.

Destas 215, a cidade mais populosa e com maior eleitorado é São Paulo capital. Neste caso, a direita tem um objetivo principal: impedir a vitória da esquerda. Com que cavalo, isso ainda está em disputa.

Isso nos remete para o segundo objetivo da direita nestas eleições: impedir que a esquerda obtenha resultados (votos e principalmente vitórias) que criem um ambiente favorável, seja à atuação do governo Lula, seja à mobilização da classe trabalhadora.

Parte do serviço já foi feito. As mais vistosas, dentre as 100 grandes cidades, são as capitais de estado. A esquerda tem candidatura majoritária unificada em 16 das 27 cidades (13 do PT e 3 do PSOL, neste caso, Macapá, Belém e São Paulo). Nas demais, se dividiu, com o PT apoiando candidaturas lançadas por partidos de centro-esquerda ou pior. É o caso do PSB (3, Curitiba, Recife e São Luís), PDT (Porto Velho), PSDB (1, Palmas), PV (1, Boa Vista), PSD (1, Rio), MDB (3, Acre, Maceió e Salvador).

Uma vitória de Eduardo Paes no Rio, de Geraldo Júnior em Salvador ou de Luciano Ducci em Curitiba, para ficar só nesses exemplos, não será uma vitória da esquerda. E não está certo o que significará nas eleições de 2026 (basta lembrar que Nunes, de São Paulo, é do MDB, que supostamente faz parte da base do governo, assim como Tabata).

Ainda é cedo para cravar qual será o resultado das eleições nas 16 cidades onde a esquerda disputa a prefeitura com candidatura própria. Mas não há dúvida sobre o já citado segundo objetivo da direita. Valendo observar que existem pelo menos duas direitas (a gourmet e a cavernícola), sendo que ambas têm um pé no governo e outro na oposição.

Sendo este o contexto, qual deveria ser a tática da esquerda? Simplificando ao extremo, trata-se de buscar o voto do eleitorado que nos deu a vitória em 2022. Ou seja: a classe trabalhadora, as mulheres, os negros e as negras, a juventude, os nordestinos onde quer que estejam, os mais pobres.

É este apelo de classe (pobres contra ricos) que fará a diferença. Lula, em 2022, atraía este eleitorado quase que por gravidade. Nossos candidatos em 2024 terão que se virar nos trinta para conseguir a mesma coisa.

(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT

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