Por Mateus Santos*
Entre os dias 19 e 20 de outubro, centenas de delegadas e delegados se reuniram na cidade de Salvador para a realização da etapa estadual do VII Congresso do PT aqui no Estado. Os rumores de uma possível unidade em torno do candidato Éden Valadares não se concretizaram, culminando, portanto, em uma disputa envolvendo mais duas candidaturas.
Sob o nome “Optei por Renovar”, a chapa de Valadares congregava a Resistência Socialista (RS), Democracia Socialista (DS), um setor da Esquerda Popular Socialista (EPS) ligado ao deputado Valmir Assunção, o Movimento PT e parcela da Construindo um Novo Brasil (CNB). Estes entraram com quase 60% do Congresso, o que deixava a vitória na disputa presidencial praticamente encaminhada.
Tendo como candidata a companheira Elen Coutinho, uma chapa de união entre o AVANTE, setores da CNB ligados ao atual presidente Everaldo, o Diálogo de Ação Petista (DAP) e parcela da EPS liderada pelo deputado Jacó foi formada, tendo aproximadamente 38% do Congresso. Uma terceira chapa foi a da Articulação de Esquerda e da Esquerda Unida. Com o candidato Jorge Braga, tivemos cerca de quatro delegados, aumentando o desempenho em relação a 2017.
Foi nesse quadro que, sem dúvida nenhuma, o menor interesse se dava nas eleições presidenciais. Éden confirmou o favoritismo, inclusive aumentando um pouco a sua proporção de votos, se comparada à votação do PED. Contudo, mais do que a eleição do próximo diretório, o debate político e as possíveis consequências deste merecem maior atenção.
A primeira questão reside ao trato dado ao governo. Diante das incoerências entre os rumos do Palácio de Ondina e a política petista, a gestão Rui Costa tornou-se alvo natural de críticas, silenciamentos ou defesa. Em relação as primeiras, destacam-se a aprovação do Manifesto da JPT, contendo insatisfação sobre a política de Segurança Pública e o recente episódio da Portaria 770, aquela que prevê a participação das Organizações Sociais (O.S.) na educação. Este ponto inclusive levou a algumas manifestações públicas contra o governo quando este se fazia presente no Congresso. A reprovação da mesma medida chegou a ser colocada como resolução, sendo aprovada por grande maioria dos presentes.
Um segundo e importante aspecto residiu no debate acerca da estratégia para o próximo período, além é claro da tática eleitoral de 2020 e 2022. A chapa vencedora apontou como um dos principais horizontes políticos para este ciclo a construção da candidatura de Jaques Wagner para a sucessão de Rui Costa, implicando, entre outras coisas, no fortalecimento desse movimento já a partir de 2020.
Apesar desse indicativo, o debate sobre a tática de alianças foi um dos pontos mais altos do congresso. O rompimento com partidos que apoiaram o golpe e estão nacionalmente na base de governo de Bolsonaro não foi aprovado enquanto Resolução. Em seu lugar, a maioria do plenário optou por chancelar uma medida que apresentava três tipos de posicionamento, variando desde alianças contra o bolsonarismo, até a preservação da base do governo Estadual.
Concentremos nesse aspecto. Uma das críticas colocadas em relação às alianças constituídas na Bahia nesse último período reside exatamente na manutenção de parlamentares e partidos que se posicionaram (e ainda se posicionam) contra os trabalhadores e o povo mais pobre. Muitos, apesar de não terem votado em favor do golpe, deram sustentações às outras medidas que fazem parte desse verdadeiro repertório de destruição dos direitos.
Em meio às eleições de 2018, num quadro marcado pelo recuo das oposições na Bahia e o fortalecimento das candidaturas petistas à presidente e ao governo, muitos desses grupos tentaram apagar seu passado, aderindo às candidaturas Haddad e Rui. Este movimento permitiu-lhes garantir reeleições e, em alguns casos, eleições. Com o governo Bolsonaro, a história voltou a mudar. Partidos da base do governador sustentaram algumas das medidas que favoreciam o presidente e seus projetos. O mais polêmico destes foi a Reforma da Previdência, defendida por Rui Costa, caso fossem feitos determinados ajustes no texto-base.
Diante disso, a Resolução aprovada pouco sugere mudanças em relação à estratégia política e, consequentemente, a tática a ser adotada para o próximo ciclo. Mesmo em um cenário marcado por nenhuma possibilidade de manobra com os setores de centro-direita, incluindo aqueles que foram eleitos sob nossas bandeiras, a suposta composição em nome da governabilidade estadual esbarra diretamente em alianças contra o golpe.
Há solução? Sim. O PT da Bahia demonstrou grande força nas eleições de 2018, consolidando-se enquanto principal partido político no Estado. Presente em mais de 300 municípios, sua penetração nas classes trabalhadoras, nos movimentos do campo e entre os mais pobres é bastante significativa. Mesmo olhando estritamente para o cenário eleitoral para 2022, a execução do plano de recolocar Wagner no Palácio de Ondina exigirá uma postura mais ousada em termos de táticas nos municípios.
Ao contrário do que aconteceu em 2016, quando o partido abriu espaço para o crescimento da centro-direita em inúmeros municípios, a construção e o fortalecimento de candidaturas próprias torna-se tarefa imediata. Assim, reconhecemos uma equação que não fecha: como garantir um projeto petista para a sucessão de Rui Costa em 2022 se hoje não se tem disposição em limitarmos nossas alianças àqueles que fecham efetivamente com este movimento e estão dispostos a encararem os desafios colocados nacionalmente com o governo Bolsonaro?
Se o resultado do Congresso já era previsível, os caminhos do futuro político do PT no estado ainda não estão claros. Para Wagner 2022 e Lula 2022, precisaremos já a partir do hoje, 2019, evidenciar o que de fato queremos e como chegaremos a nossos objetivos. Isso só será possível se existir força e vontade para a construção de um projeto efetivamente de esquerda e contra o golpe em nosso Estado.
*Mateus Santos é militante da Juventude da Articulação de Esquerda/JAE-BA