Por Jandyra Uehara (*)
1° de Maio de 2017, Av. Paulista/SP
Texto publicado na edição de maio do Jornal Página 13
Pelo segundo pandêmico ano, a maioria que dirige a CUT nacional impõe que os atos nacionais de 1º de Maio sejam feitos em “unidade” com as centrais sindicais, ao custo da participação de golpistas e inimigos de classe. Em 2020, solidariedade, saúde, emprego e renda foram as bandeiras principais que confraternizaram por algumas horas representantes da classe trabalhadora e de seus algozes.
Nos meses que se sucederam, muito menos saúde, com quase meio milhão de mortos numa pandemia sem controle, vacinação em massa e medidas sanitárias; o desemprego chegando a quase 20 milhões de pessoas; a renda despencando e os preços nas alturas. A centro direita prosseguindo unificada no apoio real à política econômica ultraneoliberal de Bolsonaro: privatizações; ajuste fiscal; congelamento de salários do funcionalismo; redução do orçamento para saúde, assistência e áreas sociais; reformas administrativa e tributária para os ricos acumularem ainda mais.
Mas há quem diga que o 1º de Maio de 2020 foi “vitorioso” e deveria ter reprise em 2021! Afinal, nada mais importante que a unidade para derrotar Bolsonaro com os que não querem derrubar Bolsonaro! Tempos estranhos.
O 1º de Maio Unificado virtual das Centrais Sindicais durou longas 4 horas e 17 minutos, durante a tarde de sábado, o tema escolhido foi “Pela Vida, Democracia, Emprego e Vacina para todos”. Ou seja, uma pauta tão genérica que todos os golpistas e neoliberais ficariam absolutamente à vontade neste palanque, para a simulação de uma “unidade” que não existe no mundo real, mas somente nas poucas muitas horas de duração do ato virtual.
Ato contínuo, a Frente Ampla se desmancha no ar e dá-lhe chibata no lombo do povo, apoio incondicional à política ultraneoliberal destruidora de Guedes, complacência com o desgoverno Bolsonaro e mortos e mais mortos pela necrofilia instalada no país. Pedidos de impeachment? Como dantes, guardados a 7 chaves! Enquanto a boiada passar, deixa o homem por lá mesmo.
Um ato pela vida, vacina, emprego e democracia, como se isso fosse possível com a continuidade do governo Bolsonaro. Na tela da frente ampla falaram os presidentes de 9 centrais sindicais: CUT, Força Sindical, UGT, CTB, NCST, CSB, Intersindical, Pública e CGTB, e destes, somente Sergio Nobre da CUT e Indio da Intersindical chamaram pelo Fora Bolsonaro!
Mas nas palavras do presidente da CUT: “Não tem nada mais importante para o movimento sindical do que o seu impeachment. Fora, Bolsonaro!“
Bom, mas falta dizer como isso será possível buscando alianças com quem direta ou indiretamente sustenta o governo Bolsonaro, como poderemos impor o impedimento do facínora sem a mobilização e a luta de massas da classe trabalhadora? Com o núcleo dirigente da CUT passando a maior parte do tempo atuando nos bastidores da institucionalidade? Se achando artífices da concertação nacional?
Além de FHC (PSDB), Baleia Rossi (MDB) e outros parlamentares/dirigentes de partidos da centro-direita; participaram artistas como Chico Buarque, Elza Soares, Odair José e Teresa Cristina, e outros tantos. Também estiveram Lula (PT), Dilma (PT), Gleisi Hoffmann (PT), Guilherme Boulos (PSol), Flávio Dino (PCdoB) e Ciro Gomes (PDT), além de representantes de movimentos populares, João Paulo (MST), o presidente da UNE e intelectuais como Silvio Almeida. Ainda assim, o alcance foi muito menor do que no ano passado. O ato da extrema direita na Avenida Paulista “chegou a ter o dobro de visualizações e a tag no Twitter da direita em 5º lugar. A tag do ato das centrais não apareceu nem nas 30.
Sim, a direita viu o flanco aberto e ousou ir às ruas no 1º de Maio! Em várias cidades do país, em São Paulo e no Rio de Janeiro, reuniram uma grande horda de bolsonaristas disposta a defender o genocida, aglomerados e sem máscaras. Os negacionistas irracionais estão com vontade de lutar. É bom a gente olhar pra isso com seriedade, reorientar a linha política, ir para as bases, para a maioria do povo, preparar a luta de massas o quanto antes.
Nas CUTs estaduais teve esforço para fazer diferente da nacional, houve manifestações importantes em São Paulo, Brasília, Aracaju e Porto Alegre. Carreatas, atos simbólicos e ações de solidariedade sem inimigos de classe. Manifestações e esforços que devem ser valorizados, mas muito aquém do que a conjuntura de morte e destruição exige de nós. Faltou coordenação nacional, preocupados que estavam com a constituição de palanque amplo e festivo e uns 4 minutos de Rede Globo, com direito a falas de Lula e Dilma. Aliás, foram 4 minutos para os nosso 1ºs de Maio e dois minutos para os bolsonaristas. Há os que se contentam com isso.
“Trabalhadores, lutar sempre e desistir jamais”, disse Lula no 1º de Maio da frente ampla. Continuaremos fazendo o nosso melhor para que essa bela frase se realize com a classe trabalhadora na rua e a gente junto ousando construir um caminho de vitórias.
Não desanimaremos, não guardaremos as nossas bandeiras, seguimos em frente na certeza de que outros Primeiros de Maio virão e serão cheios de sol e de luta!
(*) Jandyra Uehara é da direção executiva nacional da CUT e integra o Diretório Nacional do PT