Por Valter Pomar (*)
Imagine a situação: o cidadão é presidente de uma Associação Docente de uma universidade federal.
E é petista!
O cidadão acha que não se deve fazer greve contra um governo encabeçado por um petista.
É uma avaliação politica, que pode estar certa ou errada.
Ele também acha que os outros não devem fazer greve contra um governo encabeçado por um petista.
Novamente, trata-se de uma avaliação política, que pode estar certa ou estar errada.
Mas o cidadão não para por aí.
Ele propõe punição para petistas que apoiam uma greve contra um governo encabeçado por um petista.
Mais precisamente, este dirigente sindical (!) defende que o governo demita as pessoas que estão no governo e que são da mesma tendência a que pertencem alguns dirigentes de associações docentes que apoiam a greve.
O cidadão propõe colocar, no lugar dos que seriam demitidos, alguém do Centrão!
Neste caso, estamos diante não apenas de uma avaliação política (que pode estar certa ou errada), mas diante de um problema de concepção.
O citado cidadão talvez não saiba, ou talvez ainda não tenha levado até o final suas posições, mas do que se trata é o seguinte.
Segundo, a concepção segundo a qual nem o Partido, nem as tendências do Partido, podem apoiar greves contra governos encabeçados por alguém do Partido.
Aceitas estas duas premissas, a sequência lógica é transformar o debate político em debate disciplinar.
Ao invés de debater o mérito (a greve em questão é certa ou errada?), parte-se para a punição.
No caso, a demissão de quadros políticos que ocupam cargos no governo, inclusive em áreas que não têm relação direta com a greve.
Uma espécie de “punição coletiva”.
E como a lógica é implacável, chegará o dia em que se proporá que grevistas e apoiadores sejam expulsos do Partido.
E, tomem nota, se a estabilidade no emprego cair, virá mais cedo ou mais tarde virá a proposta de demitir os grevistas de seus empregos públicos.
Esta concepção contradiz a posição adotada pelo PT, desde os anos 1980, em defesa da autonomia e liberdade sindical.
Esta concepção contradiz, também, outra posição adotada pelo PT desde os anos 1980, segundo a qual um militante deve obediência, em primeiro lugar, às suas bases sociais.
Esta posição, se adotada, faria o PT assumir como sua a concepção sindical adotada por muitos partidos comunistas, naqueles países onde chegaram ao poder.
Que um por enquanto dirigente sindical defenda isso, não me surpreende. Desde o sindicalismo amarelo, no início do século 20, já se viu de tudo neste Brasil.
Mas que um filiado petista defenda, na conjuntura de junho de 2024, nomear mais ministros do Centrão, é tão disparatado que só me faz concluir que o esquerdismo e o direitismo são mesmo almas gêmeas.
Ambos acham que o vizinho é nosso maior inimigo.
(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT