Pela “união, reconstrução e transformação” do Partido dos Trabalhadores

A direção nacional da tendência petista Articulação de Esquerda, reunida no dia 27 de abril para debater o PED 2025, aprovou a seguinte resolução.

1/A evolução da situação mundial, continental e nacional segue colocando o Brasil diante de imensas ameaças e desafios. Parte vêm de fora, especialmente das ameaças que o governo dos EUA faz contra todo mundo que não aceita ser “quintal” do imperialismo. Parte dos desafios e ameaças vem de dentro, da extrema-direita, do neoliberalismo, do modelo baseado na primário-exportação e na especulação financeira.

2/As ameaças e desafios vividos pelo Brasil podem ser enfrentados e superados, por quem esteja disposto a compreender que a crise mundial também abre imensas possibilidades. Materializar estas possibilidades depende do que façamos no governo federal, nos governos estaduais e municipais, nos mandatos parlamentares, nos movimentos sociais, nos sindicatos, nas organizações dos trabalhadores, das mulheres, dos indígenas, dos quilombolas, dos negros e negras, dos lgbt, de todos e de todas que são explorados e oprimidos. Para isso existe o Partido dos Trabalhadores.

3/Mas para que o PT contribua na solução dos nossos desafios imediatos e históricos, nosso Partido precisa de “união, reconstrução e transformação”. Tanto no PT nacional, quanto no PT de cada estado e cidade de nosso país.
4/A maioria dos petistas percebe esta necessidade de “união, reconstrução e transformação”. Aliás, até mesmo Edinho Silva, o “candidato da situação”, tem feito nas últimas semanas um “discurso de oposição”, chegando ao cúmulo de criticar as filiações em massa que sua tendência sempre fez. Seria cômico, se não fosse trágico, ver um dos candidatos do grupo que se pretende maioria criticar o atual estado de coisas do Partido, como se não tivesse nada que ver com os problemas. Mas fazer “autocrítica pelos outros” está muito longe de ser o principal problema da candidatura Edinho Silva.

5/Os problemas organizativos do Partido são imensos. Mas sua origem é essencialmente política. Uma estratégia que abre mão do socialismo, abre mão de lutar pelo poder e absolutiza a ocupação de espaços institucionais é incompatível com a existência de um partido militante, com instâncias que funcionem, com presença organizada nos territórios, com atuação coletiva junto aos movimentos, com presença cotidiana junto ao povo.

6/Por isso, o ponto de partida para superar nossos problemas organizativos é uma mudança na linha política do Partido. As posições políticas defendidas pelo “candidato da situação”, por exemplo sobre a polarização, sobre as alianças, sobre a política econômica e sobre o socialismo, vão no sentido oposto. Em nome de combater o fascismo, o que Edinho Silva propõe é converter o PT num partido de centro-esquerda. O resultado disto será agravar os problemas organizativos do Partido.

7/Talvez devido à péssima repercussão de suas opiniões políticas, nas últimas semanas Edinho Silva tem falado cada vez menos de política estrito senso e falado cada vez mais de organização. Mas fazer isso não resolve o problema já citado: não existe solução administrativa para problemas que são políticos. Sem falar no cinismo de criticar certos problemas organizativos, como se fossem obra do Espírito Santo. A tesouraria do Partido, por exemplo, é hegemonizada por um mesmo grupo desde 1995. O problema não é esta ou aquela pessoa, este ou aquele tesoureiro, o problema é da concepção que submete a formulação política ao controle da máquina.

8/A esse respeito da tesouraria e de outros temas ocorreu e segue ocorrendo uma disputa pública entre os integrantes da tendência Construindo um Novo Brasil (CNB). Esta polêmica, desagradável e lamentável sob vários aspectos, teve pelo menos um aspecto positivo: demonstrou para quem tinha dúvida que a CNB não pode continuar mantendo o poder que tem hoje, poder que em parte deriva do controle da tesouraria desde 1995. Também por isso, é fundamental que o PED contribua para construir não apenas outra linha política, mas também outra maioria para dirigir o Partido. A militância da CNB é e continuará sendo fundamental para o presente e futuro do Partido, mas o hegemonismo deste grupo cumpre um papel cada vez mais negativo.

9/Não é essa a opinião de vários setores da chamada esquerda do Partido que nas últimas semanas vem declarando seu apoio a Edinho Silva. É o caso da Resistência Socialista (RS), da Esquerda Popular Socialista (EPS), de setores dos Novos Rumos (NR) e do Socialismo em Construção (SoCo). Embora cada um destes grupos tenha seus motivos particulares, parece existir um traço comum: a disposição de estar junto do candidato supostamente apoiado por Lula. Compreendemos esta disposição, reforçada pelo fato do PED estar ocorrendo um ano antes da eleição de 2026. Compreendemos mas discordamos. Discordamos porque nossas chances de vitória em 2026 aumentarão muito se o Partido e o governo mudarem de linha política. Ademais, se não mudarmos de linha, nossa vitória em 2026 pode se dar em condições tais que não permitam um quarto mandato superior ao terceiro. O mais importante, entretanto, é que o Partido não pode virar correia de transmissão do governo. Em todos os momentos em que isto aconteceu, o resultado foi sempre o mesmo: a derrota. Neste sentido, a política adotada neste PED confirma que alguns setores da chamada esquerda petista decidiram cruzar a linha vermelha; afinal, a prática é o critério da verdade: determinadas posições são contraditórias com a esquerda.

10/Com o objetivo de contribuir no debate dos problemas políticos e na formulação de propostas que permitam ao nosso Partido estar à altura dos desafios destes tempos de crises e de guerras, a tendência petista Articulação de Esquerda vem apresentando em todo o país chapas e candidaturas para disputar o PED 2025. Não temos a pretensão de conhecer todos os problemas e suas soluções; mas estamos seguros de que nossa participação no debate contribui positivamente para que o Partido construa coletivamente a estratégia mais adequada.

11/Nesse mesmo espírito, não apenas lançamos chapas e candidaturas da AE, como também estimulamos que o mesmo fosse feito por todas as tendências da chamada esquerda petista. E, onde existia base política para isso, participamos de iniciativas comuns, sempre tendo como norte contribuir no debate político, ampliar a representação da esquerda nas direções partidárias e eleger presidentes que não sejam da citada CNB.

12/Ao mesmo tempo, trabalhamos para democratizar o processo eleitoral. Isso não é fácil de fazer, em primeiro lugar porque o sistema eleitoral partidário possui inúmeros defeitos de fabricação. Entre esses “defeitos”, o principal é não apenas permitir, mas inclusive estimular que as pessoas votem sem ter participado de nenhum debate, sem conhecer o conjunto das propostas em jogo. Além disso, há um estímulo para filiações em massa, não para fortalecer o Partido, mas sim para ocupar espaços nas direções, fato que foi reconhecido publicamente pelo já citado “candidato da situação”. Ademais, há fraudes de todo o tipo no processo, inclusive a fabricação de resultados falsos.
13/Até o momento, o Diretório Nacional do PT, a secretaria nacional de organização e a Câmara de Recursos pouco ou nada fizeram no sentido de enfrentar esses problemas. Um exemplo disso é o fato da Câmara de Recursos ter rejeitado por um estrondoso 7 a 1 o recurso que apresentamos, em favor do recadastramento previsto pelo estatuto nos casos de filiação em volume excessivo. A votação já citada, 7 a 1, demonstrou que há uma enorme diferença entre o que falam e o que fazem determinados setores do Partido, quando se trata de combater as fraudes. Nesse mesmo sentido, registramos e repudiamos a resistência que setores do Partido vem adotando contra as urnas eletrônicas. O voto em papel facilita a fraude.

14/Outro obstáculo contra a democratização do PED é o abuso de poder. Até o momento, o Diretório Nacional do PT não tomou nenhuma providência em relação ao uso de um avião particular – não sabemos se propriedade pessoal de um milionário pessoa física ou propriedade de uma pessoa jurídica. Tampouco o DN tomou qualquer medida para investigar o fato comprovado de que o Diretório Municipal de Araraquara tem pago o impulsionamento da propaganda de Edinho Silva. Importante dizer que os valores são vultosos (salvo engano, mais de 150 mil reais) e se desconhece de onde eles vieram, antes de terem sido depositados na conta do DM para que este pudesse pagar o impulsionamento. É evidente, ademais, que a candidatura de Edinho Silva tem um estrutura profissional de comunicação, além de contar com um eficiente lobby junto à mídia comercial e um evidente empenho de pessoas que estão a frente de cargos em diferentes níveis de governo.

15/Repete-se no caso das infrações cometidas por Edinho Silva o mesmo modus operandi adotado por um setor do DN frente às atitudes de Washington Quaquá: mesmo diante de evidentes problemas, nada é feito. O que vai nos empurrando para um PED sem lei. Frente a isto, vários setores do Partido que são críticos à CNB preferem a cumplicidade, o silêncio ou resmungam pelos cantos.

16/Sendo este o contexto, confirma-se o acerto de lançarmos nossa chapa “em tempos de guerra a esperança é vermelha” e a candidatura de Valter Pomar à presidência nacional do PT, assim como candidaturas presidenciais em vários estados (por exemplo no RS, MS, TO, SP e SE) e também em vários municípios. Em nossa opinião, há temas, debates e posicionamentos sobre os quais nosso posicionamento é singular e diferenciado. Dito de outra maneira, pelo menos até agora só nós estamos dispostos a enfatizar certas questões e por o dedo em determinadas feridas.

17/Diferente de alguns setores da chamada esquerda petista, não temos a expectativa de buscar o apoio de um setor da CNB contra outro setor da CNB. Nós da Articulação de Esquerda defendemos a necessidade de demarcar com as duas candidaturas oriundas da CNB, seja aquela de viés social-liberal, que defende ampliar as alianças com a direita gourmet; seja aquela de viés populista de direita, que defende alianças e aproximações com setores da extrema-direita. Por razões óbvias, os que apoiam Romênio Pereira e Rui Falcão tem dificuldade em fazer esta dupla demarcação, demarcação que nossa chapa “em tempos de guerra a esperança é vermelha” e a candidatura de Valter Pomar à presidência nacional seguirão fazendo. Queremos conquistar o apoio e receber o voto dos filiados que por enquanto têm referência na CNB, mas queremos conquistar este voto através do debate político acerca da necessidade de outra estratégia para o Partido.

18/Para além da disputa presidencial e num certo sentido mais importante, existe a disputa pela composição do novo Diretório Nacional do PT. É uma disputa muito difícil, inclusive devido ao já citado abuso de poder econômico e às filiações industriais realizadas em muitos estados e cidades. A disputa será ainda mais dura, se acontecer da CNB se apresentar dividida em âmbito nacional: nesse caso, é provável que cresça expressivamente o número de votantes, o que pode vir a ocorrer às custas da representação da esquerda partidária.

19/Se a esquerda quiser manter e inclusive ampliar nossa presença no Diretório Nacional e na Executiva Nacional, é muito importante lançar chapas e candidaturas em todos os níveis, inclusive nacional. Em particular nós da Articulação de Esquerda, que seguimos sendo uma corrente de opinião, cuja votação não depende dos aparatos, mas sim da influência conquistada no debate, nós não temos alternativa senão a de lançar o maior número possível de candidaturas e chapas. Afinal, quem não se apresenta, desaparece.

20/Há um antídoto contra a participação em massa de filiados industriais: a participação em massa da Nação Petista. Há dezenas de milhares de filiados ao PT que seguem petistas mas deixaram de participar dos PEDs, entre outros motivos por desencanto com os rumos seguidos ultimamente por setores do Partido. É preciso convencer essas pessoas a virem participar do processo e votar nas posições de esquerda. Esse convencimento exige muito debate político, debate que deve ser o mais público e o mais massivo que pudermos.

21/Conclamamos nossa militância a se engajar no PED: a eleição supostamente “interna” do PT incidirá sobre o futuro do governo e do Brasil. Os capitalistas sabem disso: o jornal O Estado de São Paulo, a Globo, a embaixada dos Estados Unidos, o capital financeiro e Ciro Nogueira têm suas preferências dentro do PT. A base do PT tem que ser chamada à participar, à votar nas candidaturas da esquerda, particularmente nas candidaturas e chapas da “em tempos de guerra, a esperança é vermelha”.

Viva o Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras!

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