Por Valter Pomar (*)
Alberto Cantalice é pessoa afável, companheiro de partido e meu colega na diretoria da Fundação Perseu Abramo.
Além disso, temos afinidades passadas: ambos militamos no movimento comunista: ele no MR8 e no PCB, eu no PCdoB.
É verdade que viemos para o PT em épocas e por motivos diferentes: eu, para questionar a aliança estratégica com a burguesia, ele à busca de uma nova maneira de continuar o lado B da política do “partidão”.
Mas, apesar disso, ele tem orgulho de seu passado e acredita até mesmo que segue sendo marxista. Enfim, um cara simpático ou, pelo menos, que se esforça nesse sentido.
Digo tudo isso, para explicar porque penso duas vezes antes de contestar suas “postagens”, forma mais elevada do pensamento teórico de muitos integrantes da atual esquerda brasileira.
Mas tem vezes que não dá para segurar. É o caso da postagem de 27/5, onde ele pergunta onde estavam os guerreiros do Andes durante o governo Bolsonaro.
Realmente, a direção do Andes fez muita merda durante o golpe e durante os governos de Temer e do cavernícola. E, claro, segue cometendo erros.
(Vale dizer que outros fizeram muita merda na mesma época, inclusive em meu Partido. Mas disso já tratei em outros textos).
Devido aos erros da diretoria do Andes, inclusive, houve chapas de oposição nas últimas eleições. Oposição encabeçada principalmente por dirigentes petistas.
Entretanto, pergunto: As reivindicações apresentadas pelo Andes nesta greve estão erradas? São impossíveis de atender? Os professores representados pelo Andes merecem ser punidos por causa dos erros cometidos pela sua direção? O Andes pode ser resumido à sua diretoria?
O mais impressionante na atitude de Cantalice e de outros que pensam como ele é o sectarismo seletivo.
Por um lado, lembram da existência de contradições na classe dominante, pedem para não estigmatizar os setores populares que seguem os pastores fundamentalistas, enxergam diferenças nos grupos conservadores, onde mentes toscas enxergam apenas farinha do mesmo saco. Sem falar na generosidade com que, muitas vezes, tratam gente da direita e outros que nos traíram (não vou citar nomes).
Mas na hora de tratar uma greve com grande apoio na base, aí incluindo muitos petistas que dirigem Associações Docentes, deixam de lado a análise da realidade e expressam um sectarismo cego.
Isto posto, deixo uma pergunta ao Cantalice: onde estavam os heróis da PF e da Polícia Rodoviária durante o governo Bolsonaro?
Pergunto porque a eles foi concedido um tratamento que é negado aos professores e aos técnico-administrativos.
Responde aí, camarada Cantalice.
(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT