Primeiras impressões das eleições da capital do Rio de Janeiro

Por Olavo Brandão Carneiro (*)

O primeiro e único turno das eleições na cidade do Rio, que concentra quase 40% do eleitorado de todo o estado do Rio de Janeiro terminou com a vitória eleitoral e política da direita neoliberal, com a demonstração de força eleitoral e política da extrema-direita e com a derrota política, ideológica e eleitoral da esquerda.

É inegável a centralidade da necessidade de derrotar a extrema-direita representada pelo candidato do Bolsojoias, o delegado Ramagem. Mas não ocorreu o fortalecimento das ideias de esquerda e tampouco do programa democrático e popular. Ocorreu o foralecimento do candidato privatista, negligente com a preservação ambiental e inimigo do servidor público.

O tamanho da derrota ideológica da esquerda é expresso com o amplo apoio partidário e de lideranças da esquerda a Eduardo Paes, sem nenhum compromisso programático e com direito a fotos ao lado do terrivelmente bolsonarista Otoni de Paula.

Ao lado da capitulação ideológica e política da maior parte da esquerda ao líder neoliberal, a derrota eleitoral do campo progressista se expressa no pífio desempenho na disputa majoritária, com apenas 4% na principal candidatura desse campo. Há muito tempo não se via uma votação tão baixa na esquerda em um primeiro turno na capital fluminense. Em termos de bancadas do campo democrático-popular encolheu de 10 para nove cadeiras. Em termos de eleitos entre 2020-2024 o Psol diminuiu de 07 para 04; PT subiu de 03 para 04 e o PSB subiu de zero para 01.

A bancada do PT trouxe duas novidades interessantes, a jovem Maíra do Levante Popular da Juventude, com apoio do MST, e o sindicalista e youtuber Leonel, com perfil bem combativo. Se somam à Tainá de Paula, mulher preta periférica e secretária de Meio Ambiente do governo Paes, e ao Felipe Pires, sobrinho do experiente Adilson Pires, atual secretário de Assistência Social do governo Paes. Está no ar se essa bancada, indiscutivelmente preparada, irá defender o programa do PT e da esquerda ou sucumbirá aos acordos da institucionalidade.

A bancada, a direção partidária e a militância têm que buscar a construção e o fortalecimento da frente de esquerda para derrotar o fascismo, defender o governo Lula e o programa eleito em 2022 e superar a hegemonia neoliberal na sociedade. É preciso intensificar o trabalho de base com os CPL´s e núcleos do PT, puxar o partido para a esquerda e travar a luta ideológica de modo a aumentar a influência no meio do povo.

Cabe destacar a novidade na bancada do Psol do jovem Rick Azevedo. Ausente de qualquer prognóstico foi o mais votado da bancada com pauta central trabalhista – fim da jornada 6×1.

O discurso da Globo, Paes, Kassab e outros contra a polarização é na verdade uma disputa contra a esquerda e o PT, para que o Centrão e os neoliberais não bolsonaristas retomem o protagonismo. O Brasil não está polarizado, está politizado, compreendendo a diferença entre esquerda e direita, e a direita tradicional neoliberal visa ocupar o lugar da esquerda como alternativa à extrema-direita.

Há no PT e na esquerda quem esteja tratando como vitória o resultado eleitoral. Mas vitorioso mesmo foi o Centrão e a direita neoliberal tradicional. Além de ganhar a prefeitura no primeiro turno com 60% sem nenhuma concessão programática e política (vice é puro sangue), Paes subiu a bancada do PSD de 03 em 2020 para 16 cadeiras agora. Pavimentou o caminho para tornar a esquerda fluminense coadjuvante e transformar o neoliberalismo progressista como projeto alternativo à extrema-direita.

(*) Olavo Brandão Carneiro é membro da Executiva Estadual do PT-RJ

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