Por Rogério Araújo Barros (*)
A construção do processo eleitoral para o pleito municipal de 2024 no diretório do Partido dos Trabalhadores de Guaratinguetá, no estado de São Paulo, ficou marcada por um racha: de um lado, se defendia a ideia de uma frente de esquerda em conjunto com o PSOL, de outro lado, a candidatura própria.
A ala que defendia a frente de esquerda tinha entre seus componentes alguns companheiros e companheiras ligados à Articulação de Esquerda, integrantes da JPT e demais filiados e filiadas com posições alinhadas aos grupos mencionados. Além da construção da frente, defendiam ser necessário priorizar o fortalecimento da chapa de candidaturas a vereadores e vereadoras.
Entre quem defendia a candidatura própria, se apresentaram, predominantemente, as correntes mais tradicionais do Partido na cidade, dentre esses, o atual presidente do diretório, além de membros e dirigentes mais antigos.
Em um processo desgastante, as partes que defendiam a candidatura própria tentaram prevalecer com o argumento de que o PSOL havia se negado a construir a frente de esquerda, tendo se comprometido a apresentar o nome de vice em uma chapa encabeçada pelo PT, e não cumprido com a suposta promessa.
Por outro lado, quem estava a favor da frente de esquerda afirmava que, em nenhum momento, o PSOL firmou tal compromisso de se colocar como vice na chapa, e, sim, havia deixado em aberto essa possibilidade em caso de o PT apresentar um nome mais competitivo do que aqueles disponíveis dentre os quadros do PSOL.
Após uma mudança do nome escolhido em primeiro momento, o grupo partidário da candidatura própria apresentou um ex-presidente do diretório municipal, Fábio Selles, como seu candidato à prefeitura – decisão tomada após o PSOL já ter anunciado publicamente seu candidato majoritário. Com essa definição, acreditavam já estar tudo decidido e que não seria necessário ratificar a decisão em um Encontro Municipal. A proposta da frente de esquerda, por sua vez, sugeriu o nome da companheira Silvia Garcia para vice numa aliança com o PSOL, e que tudo deveria ser decidido através do voto de filiados e filiadas no Encontro.
Nesse cenário, em meio a muito esgotamento mental, a ideia de não realizar o Encontro Municipal foi finalmente derrotada e o evento foi realizado. Após bastante estresse e alguma dose de baixaria, a proposta da candidatura própria, mais articulada, conseguiu sem dificuldades o mínimo de dois terços dos votos, consagrando os nomes de Fábio Selles para prefeito e, como vice, a jornalista Lúcia Helena Issa, recém-filiada e de família tradicional e poderosa na cidade. Filiados de outros tempos e afastados da militância nos últimos anos, ou mesmo décadas, surgiram para apoiar seus velhos conhecidos de partido. Do outro lado, a proposta da frente de esquerda mostrou dificuldades de persuasão em sua tese claramente mais complexa e trabalhada em curto tempo hábil. Obviamente, o fato de o Encontro ter sido protelado e depois organizado às pressas não favoreceu, no entanto, a decisão final foi feita de acordo com as normas partidárias, diferentemente do que foi buscado em princípio pelo lado que sairia vencedor.
O que vimos em Guaratinguetá para as eleições de 2024 foi um PT optando por retornar ao passado, tentando resgatar um partido com muita influência em gabinetes e pouca inserção social, na contramão de um caminho que estava se apresentando nos últimos anos, sobretudo após o golpe de 2016, em que integrantes se afastaram nos momentos mais difíceis – retornando quando Lula reemergiu – e o partido estava mais caracterizado pela militância de rua, orgânica e com ideais socialistas.
Apesar da decisão do PT em Guaratinguetá de não privilegiar a chapa de vereadores e optar por se apresentar enfraquecido para a disputa proporcional, o grupo que anteriormente defendeu a frente de esquerda não se abstém da disputa política e agora apresenta como candidata a vereadora a combativa Professora Denise, profissional também da assistência social, e que, há décadas, é linha de frente na esquerda da cidade na luta por educação de qualidade, justiça social e inclusão, agora entendendo a necessidade que o partido tem de sobreviver em Guaratinguetá por meio de atitudes corajosas, com mais defesa da classe trabalhadora e menos acordos.
Professora Denise representa em Guaratinguetá o Partido dos Trabalhadores que realmente é dos trabalhadores e das trabalhadoras.
(*) Rogério Araújo Barros é militante do PT de Guaratinguetá e ex-membro da executiva municipal.