Votação para a chapa da AE no município paulista cresceu 127%
Por Adriano Bueno (*), Guida Calixto (**) e Leandro Eliel (***)
O Processo de Eleições Diretas (PED) do PT Campinas em 2025 foi marcado por importantes disputas políticas, mas também por limitações no processo de mobilização e debate. Notou-se uma baixa articulação da direção municipal para garantir uma ampla divulgação das teses e propostas das chapas e candidaturas, restringindo-se às redes sociais. A ausência de uma comunicação institucional mais efetiva dificultou o acesso prévio dos filiados e filiadas às posicões políticas em disputa.
Inicialmente, a proposta da Comissão Organizadora Eleitoral (COE) previa debates apenas entre chapas, sem espaço para o confronto direto entre os candidatos à presidência do Partido. Após ponderações feitas pela direção da AE Campinas e por outros setores, a proposta foi revista, e debates entre candidaturas passaram a ser viabilizados, ainda que de maneira parcial. O cenário evidenciou certa resistência por parte de candidaturas mais alinhadas à atual gestão em promover o debate político, especialmente diante de críticas relacionadas à condução do Partido nos últimos anos.
Essa postura também se refletiu na forma como foi conduzido o balanço das eleições municipais de 2024, realizado após insistência nossa e de forma pouco estruturada. O debate sobre os rumos do PT Campinas ficou, em muitos momentos, comprometido por posturas de intolerância e ausência de escuta por parte de setores que centralizaram decisões na última campanha.
As duas principais candidaturas — Pedro Tourinho e Cecílio Santos — apresentaram linhas programáticas próximas, com foco no fortalecimento institucional e eleitoral do Partido. Entretanto, na candidatura de Cecílio, havia setores defendendo abertamente uma aproximação do PT Campinas ao PSB/Wandão, o que gerou preocupações em parte da militância sobre a autonomia partidária.
É fato que a CNB, corrente hegemônica nacionalmente, tem defendido uma federação com o PSB, e esse posicionamento não foi contraposto por seus setores locais. Ainda assim, é relevante registrar que o grupo de Pedro Tourinho tem defendido, até o momento, a manutenção de uma candidatura própria do PT para 2028 em Campinas.
Nesse contexto, a apresentação da candidatura de Adriano Bueno e da chapa Em Campinas, a Esperança é Vermelha foi um passo importante para garantir à militância uma alternativa mais à esquerda diante do reposicionamento das demais correntes da esquerda petista.
No dia da votação (6 de julho), observamos uma mobilização intensa de transporte de filiados e filiadas, que, de outra forma, não votariam, o que contribuiu de forma decisiva para a ampliação do comparecimento às urnas. Esse tipo de prática, apesar de comum, reforça a necessidade de refletirmos sobre formas mais conscientes e politizadas de participação. Nossa campanha orgulha-se de ter atuado com autonomia, apostando na mobilização política e não em estratégias despolitizadas.
No PED de 2019, setores como a Militância Socialista (MS), CNB (Paolla e Orfei) e Avante apoiaram a candidatura de Carlos Orfei. Neste PED, optaram pelo apoio à candidatura de Pedro Tourinho, junto com a Resistência Socialista (RS) e a Democracia Socialista (DS), que também abriram mão de protagonismo. Pedro venceu com 50,5% dos votos, resultado apertado que revela uma divisão importante na base petista.
A vitória de Pedro contou com um amplo arco de alianças e com a retirada da candidatura de Carlos Orfei nos últimos dias de campanha. A chapa da CNB, liderada pela companheira Paolla, teve excelente desempenho, com 156 votos, consolidando-se como terceira força no Partido. Sua postura crítica frente a outros setores majoritários sinaliza potencial de fortalecimento da diversidade interna.
A chapa Esperança Vermelha — composta pela Articulação de Esquerda, juventude do coletivo Viramundo e independentes — cresceu expressivamente: de 55 votos em 2019 para 125 em 2025, um aumento de 127%, consolidando-se como a quarta força do PT Campinas. Candidaturas como Adriano Bueno (133 votos), Jandyra Uehara (132) e Valter Pomar (135) também tiveram ótimo desempenho.
Outras chapas também se destacaram, positivamente e negativamente: a liderada por Luiz Carlos Felicidade, que obteve 60 votos e demonstrou independência e crítica aos setores moderados; a da RS/DS, com 59 votos, teve desempenho menor do que em 2019; e a de Carlos Orfei, com 50 votos, foi a menos votada — resultado que reflete as avaliações da militância sobre sua gestão.
A presidência de Pedro Tourinho terá maioria apertada tanto na Executiva quanto no Diretório Municipal, o que exigirá habilidade política para construir consensos e viabilizar uma gestão participativa e eficaz.
Defendemos há tempos que o PT precisa reencontrar seu caminho de luta, formação política e inserção social. Em Campinas, é urgente que a nova direção tenha protagonismo no enfrentamento ao governo Dário Saadi, sem terceirizar essa responsabilidade apenas à bancada de vereadores. O funcionamento regular das instâncias partidárias e a retomada de espaços de debate são fundamentais para a reconstrução do Partido em sintonia com os movimentos sociais e os territórios populares.
Depois de seis anos, renovamos a direção e temos a expectativa de que a nova gestão crie um ambiente mais aberto e democrático. Reconhecemos que os setores moderados mantiveram maioria nas direções do Partido, mas seguimos com disposição para contribuir de forma crítica e construtiva.
A presidência de Pedro Tourinho pode representar avanços, desde que haja disposição para enfrentar os desafios da cidade, dar voz à militância e fortalecer o Partido em sua pluralidade. O êxito dessa nova fase dependerá do grau de participação coletiva e da capacidade de superar os problemas que marcaram gestões anteriores.
Sobre a Chapa Em Campinas, a Esperança é Vermelha
Nosso bom desempenho deve-se à linha política que defendemos — um PT combativo, socialista e enraizado nas lutas sociais —, ao trabalho do mandato da vereadora Guida Calixto, à atuação do Centro Cultural Esperança Vermelha, que tem se destacado como
espaço de formação política, e à atuação cotidiana de nossa militância nos movimentos populares.
Reconhecemos, porém, nossas limitações. Poderíamos ter ampliado nossa votação com maior envolvimento coletivo e diálogo com militantes afastados e desanimados com os rumos do PT. Ainda assim, o saldo é positivo e reforça nossa disposição para seguir lutando pela transformação do PT em Campinas, no estado e no país.
No plano estadual e nacional, os resultados do PED foram marcadamente favoráveis aos setores moderados, o que exige de nós reflexão e reorganização. Observamos ainda o deslocamento de parte da esquerda petista para o setor moderado, movimento que pode ter contribuído para seus baixos desempenhos locais e no Estado de São Paulo.
Para a Articulação de Esquerda, o desafio é ampliar nossa organicidade, filiar nossa base social de esquerda e formar novos quadros comprometidos com a transformação da sociedade. A nova conjuntura exige disciplina militante, trabalho de base e formação política permanente.
Na próxima gestão municipal do PT, defenderemos que nossas indicações estejam à altura das tarefas que temos pela frente. O companheiro Adriano Bueno, que cumpriu papel destacado como candidato à presidência, tem plenas condições de assumir uma secretaria na Executiva Municipal. Também indicaremos um jovem do coletivo Viramundo e duas lideranças atuantes nos movimentos sociais, para que contribuam para enraizar o Partido nas lutas da cidade.
Seguimos na luta por um PT mais democrático, combativo, socialista e conectado com a classe trabalhadora.
(*) Adriano Bueno é militante do movimento negro
(**) Guida Calixto é vereadora do PT Campinas
(***) Leandro Eliel é militante do PT Campinas.