Por Sérgio Henrique (*)
O Partido dos Trabalhadores no Piauí é influenciado pela conjuntura nacional em grande medida pelos laços subjetivos existentes na classe trabalhadora e pelas obrigações institucionais decorrentes da associação partidária. Mas os fatores locais exercem suas determinações nos rumos de qualquer organização social, de forma que uma análise da conjuntura política no Piauí, com olhar de Esquerda, deve ter a lucidez de perceber que um dos desafios do partido resulta do entendimento de que as ações do governador Wellington, inevitavelmente, são identificadas como ações do PT, com um detalhe perverso para o partido, que se materializa na invisibilidade do petismo nos avanços do governo e inacessibilidade às estruturas do mesmo enquanto organização coletiva.
Ou seja, é a velha “tática da soma que subtrai”, mas com ônus largados ao partido, enquanto o governador e sua esposa, a deputada federal Rejane Dias, são figuras reconhecidas pelos pontos positivos, com a colaboração da imprensa interessada em enfraquecer o PT, orientada pela tática da Direita representada atualmente na aliança entre o PSDB de Firmino e os Progressistas (PP) de Ciro Nogueira. Essa é a cara visível de nossos adversários de Direita, mas o comportamento da imprensa hegemônica tem o aval da família Tajra e da família Claudino, com seus aliados na burguesia, da família Alencar e também seus aliados. Todas essas famílias burguesas se alinharão contra o PT em 2022 (como fizeram em 2016) e articulam hoje seus representantes na Política para usufruírem o máximo possível das estruturas do poder executivo estadual.
Quando se trata de subtração, a referência são as alianças impedidoras de um governo mais à esquerda, a atitude conciliatória com o discurso do governo federal nas aéreas da Educação e previdência social, e o fortalecimento de uma tática eleitoral nos municípios que só atendem interesses de caciquismo e desconsideram a construção do PT enquanto projeto político estratégico. A subtração acontece quando os movimentos sociais que lutaram contra o golpe, contra o neoliberalismo no governo Temer e agora contra o governo fascista e neoliberal de Bolsonaro identificam num governo do PT as mesmas atitudes que nos colocam em oposição aos nossos adversários.
Na perspectiva eleitoral de atuação institucional, as eleições de 2020 definirão o tamanho das forças políticas para a eleição de 2022. Pelo menos em Teresina, a movimentação da Esquerda do PT por candidatura própria garantiu que o partido trabalhe para defender um programa à esquerda e acumule força na maior cidade do estado, através da oportunidade de campanha pública com identidade própria. Se não houvesse essa movimentação, a intenção de setores do partido, articulada com Wellington Dias, de apoiar o secretário de segurança Fábio Abreu, materializaria-se como mais um desastre para o partido e a classe na luta contra nossos adversários políticos.
Nos demais municípios, a ação da direção estadual, coordenada pelo presidente da executiva e deputado federal Assis Carvalho, nitidamente é de descaracterizar o petismo por meio de pré-candidaturas descomprometidas com o projeto político da classe trabalhadora, quando vemos os exemplos das cidades de Picos e Altos.
De certa forma, a tática representada nas atitudes de conciliação com setores da Direita e da burguesia piauiense, praticada por Wellington Dias, acaba fortalecendo materialmente os adversários através de cargos e acessibilidades privilegiadas em setores estratégicos para o desenvolvimento do Piauí, como são os casos da Mineração e Agricultura.
No geral, as ilusões que conformam o pensamento de grande parte dos dirigentes nacionais do PT, encontram ressonância na tática liderada pelo governador petista e não apontam no sentido do crescimento do PT enquanto força mobilizadora para o enfrentamento aos ataques direcionados ao partido e ao companheiro Lula.
A votação da reforma da previdência estadual encaminhada pelo governador Wellington Dias atingiu o campo democrático e popular com a rapidez e a covardia iguais as dos golpistas que compuseram o desgoverno de Michel Temer e que estão representados atualmente pelo governo Bolsonaro.
Pra além de prejudicar materialmente a vida dos funcionários públicos, com a redução do poder de consumo de suas famílias, a consequência na organização política com a postura adotada diante do tema da previdência desde o governo de Michel Temer é a frustração da militância de esquerda pertencente à classe trabalhadora.
A organização e intervenção da Articulação de Esquerda na atual conjuntura do Piauí
A Articulação de Esquerda no Piauí passou por mudanças fundamentais para o futuro de sua ação no estado. Foi reorganizada a frente sindical; a Juventude da Articulação de Esquerda realizou a conferencia intermunicipal Teresina e Altos; e foi eleita uma coordenação provisória até a realização do próximo congresso em 2020.
Após o 7º Congresso partidário, as tarefas que estão definidas nas resoluções da tendência nortearão nossas ações no debate de ideias e disputa geral da sociedade, no V congresso da JPT, na organização da tendência e nas eleições de 2020. Para tanto, as jornadas de formação previstas para o inicio de 2020 serão imprescindíveis para a preparação de nossa intervenção nas mobilizações sociais e no debate institucional, bem como a realização do congresso da tendência, que poderá ser a consolidação da rearticulação da tendência no estado.
A rearticulação do poder dirigente da AE sobre as forças sociais que compõem sua base social no estado deve ser pautado pela crítica radical dos resultados objetivos e subjetivos da sociedade capitalista. Não é coerente para a militância da Articulação de Esquerda a contemporização com as atitudes da burguesia piauiense ou mesmo de setores do partido descomprometidos com a emancipação política da classe trabalhadora.
Portanto, é fundamental para a existência do PT enquanto instrumento da classe trabalhadora, que a Articulação de Esquerda atualize sua agenda de relação com o movimento sindical, com as lutas urbanas e com as juventudes populares. Devemos apresentar ao conjunto da militância petista uma alternativa de construção partidária, na qual a centralidade deve ser a mudança na estratégia geral do partido.
A AE nas eleições de 2020 no Piauí
O PT no Piauí está hegemonizado pela força política concentrada no governo estadual. É por isso que inexistem debates nas instâncias adequadas sobre tática eleitoral e estão acontecendo intervenções “pelos bastidores” em alguns diretórios municipais. No caso de Altos, esse absurdo atinge diretamente a esquerda do PT, com a postura do Diretório Estadual em não apoiar as resoluções do diretório municipal que se referem à tática eleitoral de 2020.
Para se organizar nesse processo, a direção provisória mapeará as construções de pré-candidaturas e as possibilidades de registro de candidaturas que cumpram o papel de defenderem a pauta de interesses da classe trabalhadora e denunciem o complô antipetista articulado pelos nossos inimigos de sempre.
No último dia 04 de novembro, o Partido dos Trabalhadores em Teresina definiu o companheiro Fábio Novo como seu pré-candidato a prefeito. O PT é o partido mais preparado para as mudanças que nossa cidade necessita, pela expectativa de que parte do eleitorado deposita no petismo e pelos quadros políticos que possui. Mas o conjunto do partido deve preparar o que chamamos de construção coletiva do programa de governo, que na síntese de opiniões e expectativas da militância do partido organizada nos movimentos sociais, deve ser um programa democrático e popular.
A pré-campanha e campanha devem ser um processo de formação política para a militância, para classe trabalhadora e sua juventude, mas também para o candidato do PT. Será no contato direto com os teresinenses que o companheiro Fabio Novo e o PT sentirão as demandas concretas do povo trabalhador.
É a oportunidade de rompermos com a “gabinetização” da relação política adotada desde 2003, para dialogarmos com a classe trabalhadora na construção de uma vitória e um governo de esquerda em Teresina a partir de 2020. Isso faz parte das possibilidades concretas, a realização dependerá em grande parte da organização e intervenção da Articulação de Esquerda na atual conjuntura.
(*) Sérgio Henrique é membro do Diretório Municipal e coordenador de comunicação da AE-PI.