Por Valter Pomar (*)
Cláudio Castro e Washington Quaquá
Quaquá tem um quê de Ciro Gomes: adora causar treta.
A treta da hora são as eleições para governador no Rio de Janeiro
Quaquá, que vem a ser vice-presidente nacional do PT, divulgou no dia 14 de outubro uma postagem onde afirma o seguinte:
“Política não é para amador!
“Prioridade no Rio é LULA! Precisamos isolar Bolsonaro e atrair o máximo de forças do centro pra esquerda para apoiar Lula!
“Minha posição é que o PT não tenha candidato a governador. Nosso candidato majoritário seja André Ceciliano pro Senado (Lula precisa de maioria no Senado!) e transitemos e organizemos palanque com Felipe Santa Cruz, Claudio Castro, Rodrigo Neves, Freixo e mais quem abrir pro Lula!
“Quero lutar para que Lula tenha de 60 a 70% dos votos do Rio de Janeiro e não se restrinja aos 30% tradicionais da esquerda…
“Qualquer um pode ter posição diferente da minha, eu respeito, mas as instâncias nacionais e estadual do PT não votaram decisão! Então ninguém tem autoridade pra censurar ninguém no PT! Isso aqui é um partido democrático! Isso aqui não é um partido stalinista!”
Vou aproveitar a condescendência magnânima de Quaquá e vou apresentar minha posição diferente.
Começo lembrando que Quaquá já defendeu aliança com bolsonaristas nas eleições municipais de 2022.
Defendeu e levou: a maioria do Diretório Nacional do PT autorizou tais alianças, apesar da oposição pública de 6 ex-presidentes nacionais do PT (José Dirceu, Rui Falcão, Tarso Genro, Olívio Dutra, Ricardo Berzoini e José Genoíno).
Naquela época, Quaquá tirou sarro de Zé Dirceu, dizendo que Belford Roxo não tinha toda essa importância. Mas como se confirma mais uma vez, o episódio da aliança com um candidato que Quaquá dizia ser um “malandro” sinalizava o que viria pela frente.
Na sequência, Quaquá defendeu que a bancada do PT na Câmara dos Deputados apoiasse a candidatura do bolsonarista Arthur Lira à presidência da Câmara dos Deputados.
Desta vez sua posição não prevaleceu, nem na bancada, nem no Partido. Mas prevaleceu na eleição, onde segundo dizem Lira recebeu alguns poucos votos vindos de certos partidos de esquerda.
Em seguida Quaquá publicou, em jornal de ampla circulação, um artigo acusando de criminosos aqueles que defendiam fazer atos presenciais pelo Fora Bolsonaro.
Transcrevo: “não pode ser a esquerda que vai dar de braços a Bolsonaro, para sair as ruas pisoteando o túmulo de mais de 450 mil mortos e abrindo covas para caber mais tantos outros”.
Quem se beneficiaria desta posição de Quaquá, caso ela prevalecesse? A resposta, mais uma vez, é Bolsonaro!
Depois Quaquá fez declarações públicas de apreço pelo governador do Rio de Janeiro, num contexto em que Claudio Castro transferia recursos (oriundos da privatização de uma empresa pública) para a cidade de Maricá.
Mas engana-se quem acha que era (ou que era apenas) uma operação franciscana: como se constata pela postagem transcrita no início deste texto, Quaquá se move pela política, não apenas por 20 centavos, digo não apenas por R$ 100 milhões.
O caso é que agora Quaquá escalou, ao defender que o PT não tenha candidato a governador no Rio de Janeiro.
O pretexto? Lula.
(Será que algum dia vão proibir oportunistas de usar o nome de Lula em vão!?)
Segundo Quaquá, se o PT não tiver candidato a governador no Rio, Lula seria beneficiado com votos para sua candidatura presidencial e também com a eleição do senador André Ceciliano (outro que, como sabemos, tem muito apreço pela disciplina partidária).
Quaquá diz que precisamos “isolar Bolsonaro” atraindo “forças do centro pra esquerda”.
Claudio Castro, tomem nota, seria segundo Quaquá um homem de “centro”, equiparável a Freixo, Rodrigo Neves e Felipe Santa Cruz.
Vale lembrar que o PT já decidiu que não terá candidato a governador no Rio de Janeiro.
Como é público, o PT vem operando – com a participação pessoal de Lula – a favor da candidatura de Marcelo Freixo, que inclusive deixou o PSOL em direção ao PSB com este objetivo.
Portanto, o que Quaquá está defendendo é liberar os petistas para apoiar qualquer candidato a governador, inclusive Cláudio Castro.
Usando o nome de Lula como pretexto, o que Quaquá está defendendo – mais uma vez – é apoiar um bolsonarista.
Não sei dizer se isto ajudaria eleitoralmente André Ceciliano.
Tenho certeza de que isso ajudaria muito o próprio Quaquá, que não era favorável à manifestações de rua, mas está a toda fazendo sua campanha a deputado.
Mas Lula? Sua candidatura seria mesmo beneficiada como diz Quaquá?
Alguns dirigentes do Partido já se manifestaram, lembrando o impacto que teria, em nossa relação com o PSB nacional, a decisão de não apoiar Freixo e de “liberar” o voto para governador.
Do meu lado, pergunto que impacto teria sobre o povo do Rio de Janeiro, sobre a esquerda do Rio de Janeiro, sobre o PT do Rio de Janeiro? Que impacto teria no resto do país, uma decisão tão oportunista num estado de tamanha importância como é o Rio de Janeiro?
E que impacto teria não ter palanque para governador. Pois, vamos lembrar, quem acha que pode ter quase todos, pode acabar ficando sem nenhum, a depender de como evolua situação eleitoral e a aplicação da legislação.
Aliás, em que lugar do Brasil, desde 1982 até hoje, teria sido aplicada e onde teria dado certo a tática agora defendida por Quaquá? Só me lembro de dois palanques em 2006, em Pernambuco, mas numa situação absolutamente diferente.
O fato é o seguinte: a política defendida por Quaquá não é mesmo coisa de amador. É coisa de profissional. Oportunista profissional.
Até agora muitos setores do Partido vem adotando frente a Quaquá uma postura também oportunista, motivada por apoios nas eleições internas, por espaços institucionais etc.
Espero que agora mais gente perceba que determinadas posturas de Quaquá – por exemplo estas reiteradas aproximações com bolsonaristas – não podem ser tratadas como um detalhe bizarro.
(*) Valter Pomar é professor e membro do Diretório Nacional do PT