Epigrafia do antirracismo radical
O movimento negro antirracismo e revolucionário propugna pelo socialismo. É igualmente o movimento antirracismo que não admite qualquer deriva equivocada de mera oposição aos brancos (as); o alvo é o racismo como sistema. Desse modo, trata-se do Movimento Negro antirracismo, que tem como objetivo superar a opressão, a dominação e o poder racista na sua raiz, que se ergue e se sustenta a partir dos sistemas financeiros, econômicos, jurídicos, militares e forças amadas, parlamentares, diplomáticos, policiais e nos tampões do Estado sintetizados pelo Branco Central e Sistema branco burguês de Comunicação.
Por Fausto Antonio (*)
O antirracismo revolucionário propugna pelo socialismo
O movimento negro antirracismo e revolucionário propugna pelo socialismo. É igualmente o movimento antirracismo que não admite qualquer deriva equivocada de mera oposição aos brancos (as); o alvo é o racismo como sistema. Desse modo, trata-se do Movimento Negro antirracismo, que tem como objetivo superar a opressão, a dominação e o poder racista na sua raiz, que se ergue e se sustenta a partir dos sistemas financeiros, econômicos, jurídicos, militares e forças amadas, parlamentares, diplomáticos, policiais e nos tampões do Estado sintetizados pelo Branco Central e Sistema branco burguês de Comunicação.
Por igual equivalência, o Movimento antirracismo levanta a voz e, notadamente, os braços e refuta as produções que falam, equivocadamente, de movimento antirracista e/ou educação antirracista. A rigor e historicamente, o Movimento Negro Radical Brasileiro sempre foi, é e será Movimento Negro Antirracismo; o alvo não é o branco, mas sim os privilégios para brancos (as) sistemicamente instalados em todos os níveis, rincões da sociedade e do Estado brasileiro.
Para desenhar o conceito ou os conceitos que não são simplesmente equivalentes, podemos dizer que o termo antirracista pode induzir ao erro de apontar um alvo falso, que seria o branco(a) e não o sistema que gera os privilégios racializados para a branquitude. É preciso fazer alusão direta e atuar contra os sistemas que definem, na junção indissociável e contraditória da natureza da classe e/ou da cor da classe, a sociedade e o Estado Brasileiro.
O antirracismo, por sua vez, pressupõe que o objeto da transformação radical é a estrutura racista, que se dá pelo conjunto indissociável e contraditório, no caso do Brasil, respeitando a natureza do capitalismo nacional, de classe, raça, gênero e território.
A contradição pode ser observada e comprovada pelos dados que, mesmo diante de uma sociedade machista, apresentam números e registros diversos, que nos informam que as mulheres brancas, no Brasil, estão acima dos homens negros, que ficam, por sua vez, na mobilidade descendente, acima das mulheres negras. Eis aí, em parte, a base contraditória desse sistema.
A contradição pode ser buscada na análise do território usado pelos negros (as) e pelos brancos(as). Os negros estão nas favelas e nos bairros destituídos dos bens materiais e imateriais básicos. Os territórios negros, que abrigam certo percentual de brancos (as), são segredados; os dos brancos (as), com raríssima presença negra, são asseguradores de privilégios para os indivíduos e para o grupo étnico sistemicamente dominador, opressor, explorador e no poder.
A natureza estruturalmente racista do capitalismo brasileiro
A categoria estrutural significa, de acordo com a caracterização fixada pelo antirracismo, uma determinação constituinte e permanente do capitalismo instituído no Brasil. O movimento negro radical quer dizer, com tal delimitação, que o capitalismo brasileiro é estruturalmente racista e que a classe dominante tem cor e/ou raça.
No geral é necessário considerar, é importante para fixar a noção, que o estrutural tem um traço fixo, permanente. Por igual equivalência do ponto de vista de entendimento do conceito, no período de trabalho escravizado a estrutura da sociedade brasileira era racista; o mesmo entendimento se aplica, após 13 de maio de 1888, ao advento do capitalismo no Brasil. A categoria estrutural se dá, então, como produção estabilizada, permanente e, sendo assim, não episódica do racismo na espinha dorsal do trabalho escravizado e fundamentalmente do capitalismo existente no Brasil.
Na contramão do mito da democracia racial, podemos afirmar que não é possível superar o capitalismo no Brasil sem antes e/ou concomitantemente superar o racismo, que é a sua medula. O sistema racista, no Brasil, como elemento central do modo de produção referenciado no trabalho escravizado e, pós 13 de maio de 1888, referenciado na sociedade capitalista existente e persistente até os dias atuais, se configura como estrutural.
O que dá validade à categoria estrutural, como nuclear para a compreensão de como se define e funciona o capitalismo no Brasil, é a sua natureza, que é sistemicamente racista e poderia ou pode, pela luta de classes, ser refeita pelas dinâmicas sociais hegemonizadas, quando a serviço do antirracismo e validadora do socialismo, pela classe trabalhadora. O estrutural é permanente, não é, portanto, episódico.
Podemos inferir, a partir da realidade concreta e da existência sistêmica do racismo, que relevando os séculos de exploração de classe racializada, sobretudo, que o estrutural não é eterno. O estrutural pode ser alterado na sua natureza. Não há nenhum perigo, conforme alardeiam certos “esquerdistas de gabinete”, de desmobilizar a luta central dos trabalhadores.
A luta central dos trabalhadores será contra o sistema racista, que se cristaliza nos privilégios empiricizados pela existência de uma burguesia branca, com desdobramentos para a racialização, de acordo com a exploração, a dominação, o poder e privilégios para a branquitude, em todos os níveis da sociedade brasileira.
Para agravar e dar maior complexidade ao racismo instituído no Brasil, a branquitude, como produção do sistema racista, tem perspectiva de poder totalitária. Por tal especificidade, a burguesia branca tem privilégios absolutos e, quaisquer que sejam os espaços de inserção sócio espacial e de disputa, os brancos (as), mesmo no seio dos trabalhadores, terão privilégios relativos.
Ainda a propósito da natureza do capitalismo brasileiro
A noção de natureza baliza e possibilita o entendimento do permanente e do eterno. A natureza pede a compreensão do objeto em questão. No caso da geografia, o objeto é o espaço geográfico, que será perenemente o objeto dessa Ciência. No entanto, a natureza do espaço geográfico não será a mesma nos anos 3000 e, não o foi também, no início do século XX e início do século XXI.
A mesma reflexão se aplica ao objeto da filosofia da ancestralidade como filosofia africana. O objeto, no caso vertente, é o sistema cultural negro-africano, o que implica necessariamente na compreensão dos princípios que estruturam o sistema cultural negro -africano; o que equivale ao entendimento da natureza desse sistema.
Incorporando a sistematização alusiva aos objetos respectivamente da geografia e da filosofia da ancestralidade, vamos ao objeto do marxismo. Considerando o seu objeto, isto é, a luta de classes, o marxismo, como ciência e método, é eterno. O método é eterno, mas a sua natureza, o que impede o dogma, deve considerar a constituição e/ou a natureza da classe, no caso brasileiro, que é o foco.
Trata-se, a rigor, de compreender a natureza do capitalismo existente no Brasil, que se historiciza, na cor e/ou raça da burguesia nacional, que é branca. O Estado brasileiro, controlado e a serviço da classe dominante, é composto por instâncias racistas e racializadas na sua composição física, de orientação, de funcionamento e de privilégios. São exemplos dessa realidade os sistemas financeiros, econômicos, jurídicos, forças armadas, de representação parlamentar, diplomática e de repressão policial.
Exploração é uma categoria econômica objetiva que diz respeito ao processo produtivo e de dominação e consequentemente de exploração da classe trabalhadora. O explorado se constitui numa classe que tem raça, gênero e ocupa um determinado território, o que permite a renovação do conceito de classe. A renovação do conceito, que não é um dogma, não significa abandonar as categorias exploração, dominação e poder, centrais para a análise, compreensão e transformação da sociedade capitalista.
A categoria econômica exploração, ao revelar a realidade concreta das desigualdades indissociáveis de classe, raça, gênero e território, põe no processo produtivo, na exploração da classe trabalhadora e na socioespacialidade segregada brasileira, a centralidade da luta contra o racismo para, primeiro, entender como se define e funciona o capitalismo estruturado pela branquitude e para a branquitude como classe dominante e segundo, na mesma estocada revolucionária, enunciar as bases para a construção do socialismo.
(*) Fausto Antonio é escritor, poeta, dramaturgo e professor da Unilab- BA