Realização através do Caráter e da Cultura: Um olhar sistêmico e histórico

Por Fausto Antonio (*)

Epigrafia  

O oculto Rei-velado ou revelado

O oculto é apenas um véu,

seda finíssima que não suporta o olhar

e o fogo do amor. A criação, o oculto

sol-velado ou revelado, é serpente viva,

Éter-Eterno, fogo e fogo!

(Fausto Antonio, 2022)

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O artigo, Realização através do Caráter e da Cultura: Um olhar sistêmico e histórico, tem, como capítulos complementares e convergentes, Pramanthas , a produção e antecipação de 3005, a  raça  Dourada, de modo subjacente,   e a Sinarquia como modo de produção da existência. O texto, a despeito dos capítulos, apresenta uma unidade que será renovada, além do crivo autoral, pela recepção ou coautorias; os desejados e projetados leitores e leitoras.  Feita a delimitação geral da produção, vamos ao conteúdo e aos conceitos.

Gosto, aproveitando as reflexões feitas pelos textos eubióticos, de pensar a realização através do caráter e da cultura considerando os sucessivos Pramanthas e a criação-construção e transformação da realidade social e espiritual.  Pramanthas são estágios, é uma noção, determinados, de modo relativo, pela Lei cósmica. O relativo faz referência ao livre arbítrio, o devir e/ou à intervenção histórica.  Sendo assim, Pramanthas não têm validade efetiva fora do histórico social ou do mundo secular.  Falar de Pramanthas é, rigorosamente, atuar na face da terra; processo que inclui, na encruzilhada da escola, templo e teatro, agir e tomar posição política. A propósito da indispensável posição política, quero negritar que não há, na face da terra, no mundo secular e/ou das formas, neutralidade. A suposta crença de neutralidade, propagada por certos sistemas de discursos iniciáticos, é, vale aqui a ênfase, a naturalização universalizante   de determinado posicionamento político. No caso em pauta, invariavelmente à direita e profundamente afinado com o sistema de poder excludente vigente no Brasil e no mundo atual, que  é  comandado pelo imperialismo e/ou  globalitarismo (SNTOS, 2000). Desse  modo, iniciados que falam em neutralidade revelam, na contramão do trabalho evolucional, uma tenaz e persistente insuficiência teosófica e intelectual e/ou histórica. A prioridade para quem vive no mundo das formas é exatamente a atuação/ação, a despeito de transitar e dialogar com outros planos e mundos, no contexto histórico.

Assim, o lugar e a função dos sucessivos Pramanthas são pontos nucleares para a compreensão do trabalho de “Realização através do Caráter e da Cultura”. Logo, por ser um objetivo da  Sociedade Brasileira  de Eubiose, da  Eubiose, da evolução e da iniciação teosófica, a realização através do caráter e da cultura não pode ser um simples tema, lema, tarja, é trabalho, meio para uma intervenção.  Afinal, somos parte; ou melhor, somos integrantes de um complexo processo evolucional. Decorre dessa condição a necessidade de intervenção, que é trabalho e/ou criação.

Os Pramenthas que não cessam, sucessivos, por sua vez, são chaves para o entendimento e para as mudanças ou antecipação de 3005. Antecipar o futuro, é a possibilidade de utilizar, no presente histórico, os avanços sociais e de consciência de 3005.   A projeção invertida, antecipar 3005, é uma categoria de análise ou chave, produto e, sobretudo, modo de produção de outro mundo socialmente avesso às desigualdades sociais, entre outras.

O que são, então, as chaves?  

A   interlocução é, a propósito das chaves, fundamentalmente com iniciados nas Ciências das Idades. Chave aqui tem, literalmente, o mesmo significado dado à Chave de Puṣkara e, da mesma forma, às chaves sexuais e de estado de consciência e livre arbítrio presentes nos nossos corpos. Ghaves são artefatos, tubos cósmicos e/ou instrumentos para a criação. isto é, instrumentos ou meio para transformação. A noção  de chave  de Puṣkara, assim comcebida, diz  que ela  é  sêmen   ou  gérmen de  uma  nova  emanação  de  vida, Dentro de tais limites de  relativa  correspondência, os nossos órgãos sexuais têm como contraparte o nosso estado de consciência. Pênis e vaginas correspondem ou têm como correspondentes, contrapartes, o mental concreto, o abstrato, o búdico e/ou quaisquer outros estados de consciência em consonância com o grau de evolução de cada pessoa. O itinerário evolucional passa pela parelha desejo e conhecimento. O desejo não se limita aos órgãos sexuais, há uma imanência entre desejo e conhecimento. Desejo e conhecimento são as bases para a criação.  Rilke (2007), poeta e antena da raça, conforme consagrou o conceito Erzra Pound (2006), fala dessa condição, da maternidade presente no processo criativo, na criação artística-poética simbolizando, não há dúvidas, a criação em todos os planos possíveis.

Tônica política e a  tônica artística- literária como contrapartes

Reside nessa relação o fato de Santo Amaro da Purificação ,Bahia,   cidade  alicerçada  pela  tônica  política,  ter como contraparte a literatura , que  é  a tônica  da  cidade de Santo Antônio de Jesus, Bahia.  A  relação   ressitural  de  política   e  literatura   se complementa com a mesma disposição no Roncador e no Sistema  Geográfico Sul  Mineiro, é o caso de Carmo de Minas e São Tomé das Letras, que  colocam  em evidência a  relação  e  a inseparabilidade da  tônica política e da tônica artística – Literária.  Para os artistas e iniciados, então, política e arte não são   expressões    antagônicas, mas faces conjugadas e inseparáveis da criação.

Retomando o foco inicial, os Pramanthas são, conforme o exercício relacional feito aqui, chaves para a criação. Em outras palavras, os Pramanthas visam, dentro de um projeto evolucional determinado pela Lei Eterna, à objetivação ou à concretização do divino em nós e igualmente no mundo secular. No mesmo diapasão, nós, humanos, somos dotados de capacidade de criação. No entanto, não podemos pular etapas e/ou sonegar o trabalho no mundo das formas.  O que significa dizer que, resolvidas as questões básicas de sobrevivência e outras ligadas às contingências do contexto histórico-social, teremos paulatinamente de nos ocupar com a criação em níveis e planos mais elevados. Trata-se do poder de Kriya–Shakti ao alcance do iniciado e do conjunto da humanidade. Aliás, Jesus afirmou:

“aquilo que eu faço vós também podereis fazê-lo. Ele referia-se ao poder de criar. Deus criou o homem à sua semelhança, o homem tem o poder de criar seja o que for”. (livro Nível IV, Volume 2 – 2001, Sérgio Scalforo p. 172).

 

Mas no momento, considerando as contingências históricas, etc, temos de trabalhar, sem descartar outras criações, intervenções e planos evolucionais, para a construção de um novo mundo no patamar da superação das desigualdades sociais. Falo das nossas responsabilidades no processo político em curso no Brasil e no contexto geopolítico global.

É desse modo que nos aproximamos do entendimento do trabalho de realização através do caráter e da cultura.  A realização e, antes, a sua compreensão, a exemplo dos sucessivos Pramanthas, são sempre transitivas e  são rigorosamente um trabalho de criação.

Ainda a propósito de caráter e para aprofundar o debate, aprendemos, no colégio iniciático, que

Escola é o desenvolvimento intelectual, desde o humano ao mais transcendental. Teatro é a transformação dos elementos fornecidos pela Escola psiquicamente. Teatro é o desenvolvimento da personalidade para atingir o Templo que é a individualidade. Não adianta ir da Escola ao Templo sem passar pelo Teatro, porque é nesse que se dá a transformação do caráter, a purificação da alma. Podemos receber as maiores revelações, mas, se não nos modificarmos emocional e intelectualmente, chegaremos apenas ao fanatismo, à religiosidade”. (Série Astaroth, apostila 1, p17).

Não é por menos que muitos no nosso meio são prisioneiros do fanatismo, mesmo que velado, e de um vigoroso estado de insuficiência intelectual e teosófica   estribado na religiosidade copiosa. Há dificuldade, na prisão ao condão religioso, de entender a transitividade dos sucessivos Avataras, ponto nuclear e indiscutivelmente destacados pelos princípios evolucionais e cósmicos.  O caráter relativo dos avataras significa que, no mundo das formas, eles/elas são históricos.   Quero dizer que    o caráter significa, a rigor, elevação de estado de consciência ou ainda uma nova consciência. A realização através ou mediante essa nova consciência constitui o caráter ou, em outros termos, a purificação da alma.  O caráter institui-se, então, no processo de criação de um novo mundo (humanidade/ mulher/homem) e na relação entre o estágio determinado pela Lei para tríade  homem, mulher, humanidade e o mundo secular. O papel da instituição e de cada iniciado compõe também o mesmo itinerário reflexivo. São chaves e encruzilhadas para a criação de outro homem e mulher e de uma outra civilização e, ao mesmo tempo, de transformação do caráter.   Pois, como vimos, o caráter se transforma na relação de tessitura-embate que envolve a escola, o templo é necessariamente o teatro para medir, no exercício da experiência histórica e/ou do mundo das formas, o grau exato da evolução.

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Pramanthas e a produção e antecipação de 3005 

Epigrafia

“O oculto e a criação são especificidades divinas e humanas”

(Fausto Antonio)

Preâmbulo

Pramanthas existem sempre numa relação com o histórico social. Eles não existem fora dessa base dialógica, relacional e concreta. Quem pretende anunciar o Pramantha; o que é uma redução, basta apenas alinhar as reflexões abstratas e paralisantes. Por outro lado, quem pretende enunciá-lo deverá cuidar conjuntamente dos dois polos; isto é, da Lei e do mundo historicamente determinado. O Pramantha é uma produção; forma de intervenção, e não um produto acabado, pronto e alheio à produção e à intervenção   de mulheres e homens.

 

Bases materiais e imateriais para empiricizar a Lei no mundo secular

 

Em concordância com o preâmbulo, Pramanthas não existem por si.   É indispensável, como método para materializar o estágio estabelecido pela Lei cósmica e o vivido e produzido pela humanidade, conceber (pensar) o salto ou saque de tutelados a herói e à heroína, o advento antecipativo de 3005, da Raça Dourada e da Sinarquia e da subsequente evolução de consciência   como chaves para a intervenção no mundo das formas, o secular. Nos exemplos apresentados, 3005, Raça Dourada e Sinarquia, antecipar o futuro é um modo efetivo de empriricizar ou historicizar, na atualidade, os avanços sociais e de consciência do porvir. Há necessidade de um processo, numa relação com o novo Pramantha ou novos Pramanthas, para empiricizar ou historicizar o projeto no quadro de vida da população brasileira e mundial.   Afirmar o processo no qual há a relação do Pramantha e do histórico social, a despeito do valor pedagógico, é uma redundância. A enunciação revela que só há Pramanthra, ou melhor, Pramanthas, na exata relação interseccionada dos desígnios da Lei Cósmica no  e com o mundo secular.  É o mundo secular que empiriciza ou historiciza   a Lei Universal. Em outros termos, o Pramantha e o mundo secular formam um conjunto dinâmico e indissociável, que é uma categoria de análise e/ou chave interpretativa para revelar o estado ou estágio da evolução do gênero ou reino humano e da Lei manifestada. É por tal ordem ou razão que evoluímos no mundo das formas.   Além de categoria de análise, o Pramantha é o meio pelo qual criaremos outro(s) mundo(s) e realidades.   No método aqui delineado, no entanto, não há tão-somente a tarja ou registro antecipatório de 3005. Antecipar 3005 significa, a rigor e necessariamente, “antecipar”, por exemplo e como possibilidade ou medida, o advento da Raça Dourada e do sistema sinárquico como utopia ou referência ideal. A expressão enunciativa e  responsiva  “antecipar” põe em destaque  o trabalho para superar, o que envolve outro estado de consciência, as condições objetivas que são, nos dias atuais, barreiras para o advento enunciativo, modelar,  da Raça Dourada; a saber, o racismo à brasileira, escala  nacional e , na  escala  planetária, a simbiose   e  intervenção racista  do  imperialismo-sionismo..  Há ainda, no que concerne ao advento do sistema sinárquico, os impedimentos fixados pelo globalitarimo de pensamento único, do totalitarismo do consumo, do poder midiático, bélico-industrial e opressivo do imperialismo-sionismo, sobretudo.  É fundamental, em outros termos, a superação ou a supressão do Imperialismo-sionismo em cujo projeto – atuação está confiada a opressão econômica, midiática e a bélica, principalmente e notadamente.   “Antecipar os processos e produções de 3005”, da Raça Dourada e da Sinarquia exige igualmente o salto de mulheres e homens tutelados para a categoria ou estado de heroínas e herois.   Por igual força e indiscutível necessidade evolucional, postulamos, como possibilidade e num crescendo, o investimento na indispensável utopia da avatarização da humanidade. Dentro desses limites, o processo antecipatório tem valor pramântrico e não simbólico e/ou neramente discursivo.  Numa síntese, podemos afirmar que os recursos teosóficos e os recursos sociais estão, há muito, encruzilhados na e para a realização dos sucessivos Pramanthas.

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A Sinarquia como modo de produção da existência

 Epigrafia ancestral e da restituição 

O modo de produção Sinárquico é, à semelhança do modo de produção ancestral, restitutivo e, sendo assim, é anticapitalismo e profundamente avesso às desigualdades, quaisquer que sejam. 

O fragmento   abaixo é o fio condutor desse tópico discursivo e de raciocínio. Vamos a ele:

“Enfim, não vamos comparar o IMPÈRIO UNIVERSAL com forma alguma de governo. Nosso dever é dar exemplo, apontando a maneira de se fazer uso de seus novos recursos, que chamamos de Eubióticos ou Teosóficos”. (CR 06.04.1958, p.19)

  A CR , Carta Revelação, diz, com outras palavras, que a Eubiose é uma forma de intervenção no(s) mundo (s).  Assim, a Sociedade Brasileira de Eubiose, o nosso trabalho e   a própria Obra são uma forma ou formas de intervenção no mundo. Dentro desse ponto de vista que é parcial, relativo, a intervenção eubiótica neutra por excelência não existe. Nossas práticas e posições humanas e iniciáticas não são igualmente apolíticas. A rigor, a maneira eubiótica de estar no mundo não pode ser apolítica.  A pretensa ou pretensiosa neutralidade revela, sem o risco de generalizar, uma determinada posição ideológica e política. Na instituição desse campo de fuga, a pretensa neutralidade, é bom destacarmos que a Lei não é neutra, a Lei é justa e perfeita. Aliás, a polaridade põe por terra essa possibilidade de neutralidade. Os embates, no campo polar, não a neutralidade, produzem o alimento, a energia-consciência, de que precisa o Eterno. No âmbito dos recursos sugeridos pela CR, temos os sucessivos Pramanthas.  Há, a rigor, apenas Pramanthas, de outro modo o mundo secular pararia, eles são sucessivos, não cessam.

A Sinarquia, não uma essência, deve ser buscada a partir do trabalho-evolução e da intervenção considerando o mundo, os sucessivos Pramanthas   e a realidade atual.

A Sinarquia, assim, longe de ser uma abstração, delimitará as bases para a nossa intervenção e, como chave interpretativa e metodológica, colocará não apenas lado a lado, mas numa relação o mundo secular e “novo Pramantha”, novo mais em trânsito.  O enfoque do “novo Pramanha”, tanto quanto da Sinarquia, torna-se fundamental quando se trata de enfrentar essa questão das relações entre a realidade social, o mundo secular, e o advento de um novo ciclo. Temos, por outro ângulo, o trabalho de traduzir em categorias analíticas essa encruzilhada, que faz com que a descida da Lei seja também momentos de ruptura e de avanços, numa possessão, de estado de consciência e de condições objetivas de vida.  A intervenção eubiótica, não necessariamente da Sociedade Brasileira  de Eubiose, em consonância com os sucessivos Pramanthas, deverá compreender e mudar/transformar os principais obstáculos ao avanço da consciência sinárquica no mundo, que se historiciza a partir de um modo de produção da existência avesso ao acúmulo e consequentemente às desigualdades.   A questão nuclear, sem dúvida, diz respeito à Sinarquia como modo de produção da existência.  A Sinarquia deixa assim o catálogo de palavra e assume o lugar privilegiado de categoria  analítica  e  notadamente  de método. Por igual equivalência, há um salto da palavra Sinarquia para o conceito. Conceituado o processo como modo de produção da existência, o trabalho passa, então, pela transformação da realidade histórico-social e pela elevação do estado de consciência da humanidade e da nossa humanidade.  É evidente que a globalização de pensamento único (SANTOS, 2000) é um impedimento; o racismo   o é também.  A intervenção deve buscar então, como sistematizou o geógrafo Milton Santos (2000), a outra possibilidade que dá o salto, da globalização de pensamento único, para a globalização de consciência universal. O   mesmo deve ser feito no que tange ao racismo no Brasil, que   é impedimento para a antecipação, como possibilidade e utopia, da Raça Dourada, que será  fruto do  caldeamento  racial e motor e  fio  condutor  de  outro  estado de  consciência.   Na mesma linha metodológica, o salto de tutelados a herói e à heroína deve ser fertilizado; pois nessa construção ressoará a energia-consciência avatárica no processo e na humanidade.

 (*) Fausto Antonio é iniciado  na  Ciência  das  Idades, professor Associado  da UNILAB- Bahia, escritor, poeta e dramaturgo.


Referências

ANTONIO, Fausto. Ideopatuagramas. Londrina: Galileu, 2022

POUND, Ezra. O ABC da literatura. São Paulo: Cultrix, 2006.

RILKE, Rainer Maria. Cartas a um jovem poeta. Tradução Pedro Süssekind. Porto Alegre: L&PM, 2007.

SANTOS, Milton.  Por uma outra globaolização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2000.

SCALFORO, Sérgio. livro Nível IV, Volume 2 – 2001, p. 172. 

Sociedade  Brasileira  de  Eubiose. Série Astaroth 1, p.17

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