Editorial do Jornal Página 13 de outubro. A edição pode ser descarregada na íntegra aqui.
Se nos perguntarem qual o principal desafio da CUT, do PT, dos sindicatos, dos movimentos, da esquerda como um todo, nossa resposta deve ser: reconectar-se com a classe trabalhadora e suas lutas cotidianas.
E, para dar conta deste desafio, os sindicatos seguem tendo um papel fundamental.
O movimento sindical, se quer reconquistar a confiança dos trabalhadores e das trabalhadoras, deve unificar lutas e manter conexão sólida e permanente com o cotidiano da vida da classe. Isso incluiu vincular a organização e a mobilização a pautas que se conectem, a exemplo das lutas por salários mais justos, recuperação de direitos trabalhistas, condições de trabalho seguras, igualdade de gênero, igualdade racial e acesso a serviços públicos de qualidade.
Mas a luta sindical, assim como a luta da esquerda em geral, não é uma soma de objetivos parciais. Se a classe trabalhadora e a maioria da sociedade não tiverem uma utopia, não tiverem um projeto coletivo, de nada servem os sindicatos, os movimentos, os partidos, as organizações coletivas.
Portanto, a reconexão com a classe é um movimento complexo. Envolve os temas cotidianos e envolve temas mais amplos, como a luta pela redução da jornada de trabalho sem redução de salários, uma demanda histórica que permanece relevante e encontra-se fora da pauta atual dos sindicatos, especialmente diante das jornadas excessivas e das precárias condições de trabalho enfrentadas.
Outro ponto fundamental é uma reforma sindical que permita formas de financiamento e organização dos sindicatos que combatam a fragmentação, sejam aprovadas democraticamente pela classe trabalhadora, não estejam atreladas ao Estado e proporcionem independência de governos e dos patrões.
A reconstrução do movimento é essencial não apenas para a defesa dos direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras, mas para garantir a construção de uma sociedade mais justa, que melhore a perspectiva de bem-estar social, econômico e sustentável. Explicitar este objetivo de médio e longo prazo é decisivo também para construir vitórias no curto prazo.
Hoje nossa classe vive o massacre imposto pelo capitalismo neoliberal ao mundo do trabalho, o adoecimento físico e psíquico mostra a penúria do cotidiano do trabalho. Sendo assim, é essencial disputar o campo das ideias e deixar claro, por exemplo, os malefícios da pejotização, da terceirização, da uberização e o que o chamado empreendedorismo significa de fato para os trabalhadores e trabalhadoras.
Além disso, é fundamental abordar questões como o home office sob a perspectiva da classe trabalhadora, considerando o impacto desse modelo de trabalho nas vidas das pessoas e na organização coletiva.
É crucial melhorar a comunicação sobre as realidades cotidianas, abordar questões como assédio e sobrecarga de trabalho de forma eficaz para recuperar a confiança da classe trabalhadora.
Pesquisas recentes apontam que os sindicatos estão no final da lista de instituições em que as pessoas confiam, os níveis de sindicalização nunca estiveram tão baixos. Isso mostra a urgência de uma reestruturação significativa para reocupar o terreno perdido para outras organizações de caráter conservador e neoliberal.
Lamentavelmente, no movimento sindical e em outras frentes, a disputa político-ideológica está sendo relegada a segundo plano, resultando em uma perda da identidade anticapitalista do movimento. As políticas de conciliação de classe são um dos fatores que contribuíram para esse desvio que reduz a capacidade de luta do movimento sindical.
Daí a necessidade de o movimento sindical ter a formação para a luta de classes, a cultura e a comunicação como instrumentos fundamentais, com capacidade de oferecer uma visão de futuro e um projeto coletivo que inspire a classe trabalhadora e a coloque em movimento.
Em resumo, devemos ter muita presença no cotidiano da classe, em suas lutas, e muito esforço para elevar o nosso horizonte de possibilidades. Quanto mais socialista for a classe, mais êxito teremos nas lutas imediatas.
Este é o pensamento que atravessa todos os textos desta edição de Página 13, voltado especialmente para as delegadas e os delegados presentes ao Congresso da CUT.
Viva a CUT, viva a classe trabalhadora!
A direção nacional da tendência petista Articulação de Esquerda