Rui Costa, o aeroporto e a lição (mais uma) que fica

Por Marcos Jakoby

Artigo: Rui Costa, o aeroporto e a lição (mais uma) que fica

No dia 17 de julho alguns jornais e portais de notícias divulgaram a notícia de que o governador da Bahia Rui Costa (PT) havia feito um convite à Bolsonaro para cerimônia de inauguração de aeroporto construído pelo estado, em Vitória da Conquista.  [http://www.deolhonews.com.br/rui-costa-convida-bolsonaro-para-inauguracao-de-aeroporto-na-bahia/].

Segundo o próprio governador, “mesmo o atual governo não tendo contribuído com um real, porque todo o pagamento foi feito até novembro, entendo que o atual governo representa o ente federal. Se tem recurso federal, eu fiz questão de ligar para o ministro e estendi o convite para todo o governo, inclusive, o presidente da República”.

Bolsonaro, segundo edição da FSP de hoje (22/07), “pretende usar ato na Bahia, na próxima terça (23), para virar o jogo em território inimigo”.  E mais, o Planalto decidiu inflar a lista de convidados com adversários de Rui Costa e do PT, inclusive escalando muitos a discursar.

A proporção de convidados aliados de Bolsonaro e da oposição ao atual governo do Estado seria muitas vezes superior aos de Rui, criando-se assim um possível clima hostil ao petista.

A situação estaria gerando um desconforto tão grande ao governador que seus aliados cogitam a possibilidade de que ele não compareça ao evento. Ou seja, existiria a possibilidade da festa de inauguração contar somente coma presença Bolsonaro.

Rui Costa passaria de anfitrião para excluído da festa. Seria cômico, não fosse trágico!

Independente da presença ou não do governador no ato, o episódio é muito revelador da maneira como alguns governadores, parlamentares e dirigentes de uma parte do PT agem e pensam.

Há uma enorme dificuldade em compreender de que nos encontramos em um novo período da luta de classes em nosso país, onde a luta política, social, ideológica e institucional ganha outro padrão.

As classes dominantes e seus representantes políticos estão em guerra contra a classe trabalhadora, as forças populares e democráticas.

Por qual razão?

Porque precisam, diante da crise e da necessidade de manter suas taxas de lucros, implantar um programa ultraliberal, antinacional e antipopular. E sabem que somente conseguirão aplicar tal programa, com a velocidade e a profundidade desejada, se destruírem a esquerda e as organizações populares. Sem isso, haverá muita resistência.

É dentro deste contexto que precisamos enxergar o governo Bolsonaro, suas medidas, seus discursos e suas ações.

Contudo, há setores da esquerda que tem muita dificuldade em agir de acordo com esta nova situação política. Acreditam que se nos movimentarmos com “republicanismo”, “boas maneiras”, “moderação”, “conciliação” o lado de lá tenderá a “baixar a fervura” ou recuar.

É exatamente o oposto o que ocorre.

O episódio acima relatado, neste sentido, é didático.

Mas a questão que fica é: quantas lições serão necessárias para que o conjunto da esquerda perceba que precisamos atuar com outra orientação política? Quando entenderão que estamos lidando com um cenário onde querem nos liquidar? Quando compreenderão que para saírmos da defensiva – e abrir um período de transformações profundas – será necessário impor uma grande derrota a coalizão bolsonarista? Quantas lições serão necessárias para assimilar que somente será possível impor essa derrota confrontando o bolsonarismo e as forças que o apoiam e não com republicanismo e boas maneiras?

Espero que não sejam mais muitas, pois elas podem ter um grande custo à esquerda e à classe trabalhadora.

Marcos Jakoby é militante petista.

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