Saiu o jornal Página 13 de dezembro, número 273. A edição pode ser descarregada na íntegra, aqui. Abaixo é possível conferir o editorial.
BOA LEITURA!
Editorial
O PED vem aí!
No dia 7 de dezembro, o Diretório Nacional do PT vai deliberar sobre a data e o regulamento do processo de eleição direta das direções partidárias. Mas, se depender de algumas interpretações, a eleição é uma mera formalidade. Esta é a interpretação, por exemplo, do jornal Folha de S.Paulo, que, em matéria publicada a respeito, afirmou que “na prática, o partido será comandado por quem for escolhido pela corrente” Construindo um Novo Brasil (CNB).
Ou seja, não precisa ter PED, não precisa ter eleição interna, não precisa ter votação. Um conceito de democracia homologatória. Segundo este conceito, vamos fazer um semestre de debates internos, convocar cerca de dois milhões de petistas a votar, mas o resultado já estaria definido antes mesmo de o regulamento ser aprovado.
Da Folha, não há por que esperar algo diferente. Vale dizer, entretanto, que tem mais gente que pensa igual à Folha: o vencedor seria quem a CNB vier a escolher; e, como Lula tem muita influência na CNB, o vencedor seria o escolhido de Lula.
Pode ser que seja assim? Pode, sempre pode. Mas, na maioria dos Diretórios Nacionais eleitos desde 2001, ano em que o PED passou a existir, nenhuma tendência partidária conseguiu ter mais de 50% dos votos.
Portanto, mantida esta correlação de forças, para que alguma candidatura à presidência nacional do PT seja vitoriosa, será preciso conseguir muito voto diretamente na base e/ou será preciso fazer alianças com outras tendências. Foi o que ocorreu, por exemplo, em 2019, motivo pelo qual Gleisi Hoffmann, da CNB, foi vitoriosa no primeiro turno. Mas, se tivesse acontecido uma aliança das demais candidaturas e tendências, a presidência teria sido ocupada por alguém de outro setor do Partido.
E, como é público, pelo menos uma das tendências que apoiou Gleisi — o Movimento PT — decidiu ter candidatura própria no primeiro turno. Enfim, para felicidade do Partido e para infelicidade de alguns que adoram falar de “democracia” em abstrato, é muito cedo para cravar o resultado final da disputa, tanto da presidência quanto do Diretório Nacional do PT.
Ademais, é preciso lembrar que o nome que se diz ser o bem “cotado”, por ser o “preferido” de Lula, encontra resistências dentro da própria CNB. Um dos porta-vozes desta resistência é um famoso vice-presidente nacional do Partido, recém-eleito prefeito. Segundo este cidadão, o supostamente preferido de Lula seria um “perdedor” e um “puxa-saco”.
Que o vice-presidente gosta de ser agressivo, todos sabemos. Mas que ele seja agressivo desta forma contra um nome de sua própria tendência, que, ademais, dizem ser o preferido de Lula para presidir o Partido, revela que está em disputa algo muito importante.
Pelo menos aparentemente, o que está em disputa entre Quaquá e Edinho não é a estratégia, nem o programa do Partido. Ao menos até agora, estes diferentes setores da CNB têm dado declarações que apontam no mesmo sentido: “ir (um pouco mais) ao centro”. Isto não quer dizer que não haja diferenças estratégicas no condomínio da CNB. Mas o fato é que, pelo menos até agora, estas diferenças não assumiram o primeiro plano.
Há quem diga que a divergência real diz respeito ao controle da máquina, especialmente da tesouraria, que a CNB — e, antes dela, o Campo Majoritário — controla desde 1995. E há, também, quem diga que o debate gira ao redor do “pós-Lula”. Seja qual for o motivo, embora o mais provável seja que os diferentes pedaços da CNB acabem se centralizando pelo que Lula decida, não é impossível que ocorra uma novidade.
Neste ambiente, qual as chances de a esquerda petista ganhar o PED e comandar o Partido? São pequenas. Apesar disso, quem deseja que o PT continue sendo útil para a classe trabalhadora brasileira, tanto do ponto de vista das necessidades imediatas quanto do ponto de vista dos objetivos históricos, tem a obrigação de disputar para valer. Não apenas para marcar posição, não apenas para manter os espaços, não apenas para crescer um pouco: vamos trabalhar para vencer. E isso significa, na prática, dizer a verdade: se não forem tomadas medidas imediatas para corrigir os rumos políticos e a conduta prática do Partido, corremos o risco de, logo, logo, termos apenas um grande passado pela frente.
A derrota em 2024, as limitações de nossos governos, a desorganização de parte expressiva de nossas instâncias, a influência crescente de práticas e posições que nada têm que ver com o PT, a dificuldade de mobilização social, a falta de presença organizada junto a amplos setores da classe trabalhadora, a perda de perspectiva ideológica de longo prazo… a lista é crescente. E, se o Partido não debater estas questões e não tomar medidas no sentido de corrigir os problemas, o futuro não será fácil.
Nesse sentido, Edinho representa o oposto do que precisamos. Sua defesa do “sistema” e sua crítica à “polarização” apontam no sentido de um Partido, mais que domesticado, integrado ao sistema. Nosso desafio no PED é convencer a Nação Petista de que é preciso mudar de estratégia. No passado, a base do Partido já demonstrou algumas vezes que é melhor do que boa parte de sua direção. Nosso desafio em 2025 é fazer com que esta base vire a mesa e eleja uma nova direção. Se vamos conseguir, não sabemos. Mas vamos tentar com todas as nossas forças, pelo simples motivo de que não queremos, depois de 45 anos de luta coletiva, morrer na praia.
Os editores