O voto de Flávio Nogueira e um partido que precisa ser discutido

Por Fabíola Lemos (*)

O voto do Deputado Flávio Nogueira, na CCJ, aprovando a PEC 164, que retira da Constituição o direito ao aborto em caso de estupro, feto anencéfalo ou risco de morte da pessoa que gesta, não é apenas lamentável, como repugnante.

Para além da reprodução da misoginia, nesse país onde meninas estupradas serão criminalizadas, nossa consternação incide sobre o endosso de um parlamentar petista à tática mais infame operada pelo fascismo, que se vale das opressões morais para disputar ideias.

Lamentavelmente, práticas como essas têm sido banalizadas no Partido dos Trabalhadores.

Flávio Nogueira não foi o primeiro parlamentar que desdenha as resoluções do PT.

Infelizmente, petistas históricos, expandem as fileiras dos que preferem colaborar com a ignorância e o senso comum, tão útil ao projeto fundamentalista operado no país pela extrema direita.

Pautas de interesses às mulheres são vandalizadas em todos os níveis. No Piauí, vai desde vereadores que votaram em Projetos de Lei impedindo o ensino das teorias de gênero nas escolas até Deputada Federal/Secretária de Educação que se colocou publicamente contra o que ela chama de “ideologia de gênero”.

Entre tantas questões que envolvem a indiferença às diretrizes do Partido, cabe algumas perguntas:

O que faz com que tais parlamentares sintam-se absolutamente à vontade para ignorar o Partido que os/as elegeu?

Qual a origem desse movimento, onde mandatos asfixiam um partido que antes se organizava em tendências e onde as instâncias funcionam a serviço de gabinetes?

As respostas podem ser complexas, mas se quisermos ir à fonte, chegaremos em um Partido que acredita sobreviver através de estratégias eleitorais.

Para fortalecer a chapa majoritária, é aberta a porteira para quem “traz mais voto”. A justificativa vem acompanhada do mantra: “vão ter que rezar em nossa cartilha”.

Nos anos ímpares, o distanciamento das bases; nos anos pares, o sacrifício de candidaturas oriundas da militância nos movimentos, em detrimento de “quem dá mais”.

Eis aí um partido que vai perdendo todo o acúmulo e a identidade das lutas que emblemam sua legenda.

Precisamos de um Partido dos Trabalhadores que aceite o desafio de empunhar nossas bandeiras históricas, com formação política e campanhas pedagógicas que consigam demonstrar na sociedade, que o fundamentalismo religioso é, efetivamente, a grande ameaça à família.

Fazer política fomentado a ignorância para garantir voto, indiferente à história de tantas mulheres que têm sua vida estilhaçada pela violência sexual não é a postura esperada de qualquer parlamentar petista.

Que a comissão de ética do Partido dos Trabalhadores tome as medidas disciplinares cabíveis e esse caso não fique impune, como tantos outros.

Que sejamos capazes de fazer o “dever de casa”, com responsabilidade e compromisso com nosso campo popular de luta.

(*) Fabíola Lemos é membra da Executiva Municipal do PT de Teresina.

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