Está disponível a edição de novembro do jornal Página 13, de número 272. A edição pode ser descarregada AQUI, na íntegra. Abaixo, é possível o leitor conferir o editorial.
BOA LEITURA!
EDITORIAL
É preciso dizer a verdade para a militância
Depois de Marçal e Trump, a profissão de coach caiu totalmente em desgraça, pelo menos nas searas da esquerda brasileira. Apesar disso, tem muito dirigente que se comporta como animador de auditório: fazem qualquer coisa para animar a tropa. Inclusive mentir.
É mentira dizer que o PT foi vitorioso nas eleições municipais de 2024. Também é mentira dizer que a base do governo venceu. Tivemos algumas vitórias eleitorais e políticas? Sim, tivemos. Há balanços municipais e estaduais positivos? Sim, há. Mas quando se observa, de um ponto de vista nacional, o conjunto da obra, não há como negar: a maior parte do eleitorado brasileiro escolheu votar em candidaturas lançadas por partidos do centro à direita; uma segunda fatia de grande dimensão escolheu não votar em nenhuma candidatura; e só uma terceira parte, menor que as duas anteriores, optou por votar em candidaturas lançadas por partidos do centro à esquerda.
Também é mentira dizer que a democracia venceu nos Estados Unidos. Não venceria com Kamala Harris, assim como não venceu com Donald Trump. Quem venceu as eleições nos Estados Unidos foi, em primeiro lugar, a grana — mais exatamente 1 trilhão de dólares — gasta no processo eleitoral pelos dois candidatos à Presidência dos EUA. A grana e o voto de castigo contra os democratas, o que explica que muitos trabalhadores, muitos latinos e muitas pessoas negras tenham preferido votar no cavernícola-made-in-USA. Em terceiro lugar, ficaram aqueles que votaram em Kamala Harris, seja para impedir Trump, seja porque concordam com a modalidade social-liberal do imperialismo.
O efeito combinado das eleições municipais com as eleições nos EUA foi animar as direitas e preocupar as esquerdas.
Todas as frações da direita ganharam margem de manobra. O bolsonarismo acha que pode conseguir a anistia. A extrema-direita não bolsonarista acha que tem chances eleitorais, mesmo que o cavernícola continue impedido. O centrão acha que pode arrancar mais concessões do governo. A direita gourmet tradicional — especialmente a que está no governo — acha que chegou a hora do ajuste fiscal. E todas as frações da direita acreditam que as chances de reeleição de Lula são menores do que antes das eleições. A esse respeito, foi aberta a bolsa de apostas. Há os que acham que Lula não será candidato; há os que acham que Lula será candidato e perderá; e há os que acham que ele poderá ser candidato e até vencer, mas isto se for para a direita, o que pode incluir um novo vice, mais ao gosto das direitas.
Todas as frações da esquerda estão preocupadas. O PSB, por exemplo, está preocupado com a chance de perder a candidatura à vice-Presidência da República nas eleições de 2026. O PCdoB e o PDT estão preocupados com a sobrevivência institucional. E o PT está preocupado com o que fazer em relação a quase tudo: com o resultado eleitoral, com o pacote, com as pressões da Faria Lima, com as pressões do imperialismo, com a integração regional, com a China, com as pesquisas, com a classe trabalhadora e com a eleição da nova direção do Partido.
No momento em que escrevemos este editorial, ainda não havia sido divulgado o conteúdo do tal pacote. Qualquer que seja, o problema fundamental é o seguinte: o Novo Marco Fiscal foi um erro. Precisamos de uma política fiscal e de uma política monetária amigas do crescimento com distribuição de renda. E, hoje, ambas remam no sentido oposto ao que precisamos.
Também no momento em que escrevemos este editorial, ainda não haviam sido divulgados os termos dos acordos que serão assinados por ocasião da visita do presidente Xi Jinping ao Brasil. Quaisquer que sejam estes termos, uma coisa é certa: nossa política externa precisa voltar a priorizar — de verdade, não no discurso — a integração regional da América Latina e Caribe. Sem isso, continuaremos gigantes, continuaremos hospedando eventos, mas perderemos influência real na grande política mundial.
Igualmente no momento em que escrevemos este editorial, ainda não havia sido aprovado o regulamento do processo de eleição direta das direções partidárias, o famoso PED. Mas, quaisquer que sejam os detalhes do regulamento, uma coisa precisa ser dita: o Partido precisa de uma nova direção. Não apenas de novos dirigentes, a nível municipal, estadual e nacional, mas, acima de tudo, uma nova direção política, uma nova linha política, um programa e uma estratégia à altura das necessidades.
Esperamos que, no primeiro semestre de 2025, o Partido debata em profundidade a situação mundial, continental e nacional. E produza um programa e uma estratégia capazes de contribuir para a ampliação das liberdades democráticas, do bem-estar social, da soberania nacional, da integração regional, do desenvolvimento e do socialismo.
Estes serão alguns dos assuntos tratados na plenária nacional que a tendência petista Articulação de Esquerda fará de 22 a 24 de novembro de 2024.
Somente resolvendo estes temas, principalmente elaborando e aplicando uma nova estratégia, é que poderemos vencer em 2025, 2026 e além.
Os editores