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BOA LEITURA!
Editorial
Eleições 2024: buscar o voto da classe trabalhadora
A edição de Página 13 de setembro prossegue com a cobertura das eleições 2024 e aborda vários temas polêmicos (Venezuela, desrespeito ao SUS, manipulação da fé). E, para não dizer que não falamos de flores, comentamos neste editorial um tema que nos parece decisivo: o novo presidente do Banco Central.
O indicado por Lula, Gabriel Galípolo, ainda vai passar pela sabatina no Senado. O que ele dirá na sabatina é o óbvio. O que importa é o que ele fará uma vez na presidência. Servirá ao governo ou ao mercado financeiro? Baixará os juros em favor da produção ou manterá altos a serviço dos credores da dívida?
Os sinais dados durante sua atuação como diretor do Banco Central não são positivos. Ademais, da mesma forma como ocorreu com muitos dos indicados pelo presidente Lula e pela presidenta Dilma para o Supremo Tribunal Federal, as estruturas cooptam até mesmo as aparentemente melhores intenções.
Assim, nos cabe fazer pressão. Muita pressão. Até porque não podemos nos contentar com 3% de crescimento. A mídia se declara espantada com este número, muitos no governo comemoram eufóricos. Mas sejamos realistas: para mudar nosso país, é preciso crescer mais que 10% ao ano, durante muitos anos. E não basta crescer: é preciso crescer em outras bases e, ademais, é preciso crescer e, ao mesmo tempo, ampliar nossa força política.
Já tivemos, nos governos Lula e Dilma, picos de crescimento. E o que veio depois todo mundo lembra. Assim, não nos enganemos: o desafio que temos pela frente é imenso. E por isso é tão importante vencer as eleições 2024.
Não será tarefa fácil. Segundo o TSE, em 2024, foram inscritas 15.366 candidaturas a prefeito e 422.490 candidaturas a vereador. Destas, 78% foram inscritas por partidos do centro-direita, da direita gourmet e da direita cavernícola. E apenas 22% foram inscritas por partidos que compõem a centro-esquerda ou esquerda (PCB, UP, PSTU, Federação PSOL-Rede, Federação PT-PCdoB-PV, PDT e PSB).
Em números: 3.322 candidaturas a prefeito e 87.082 candidaturas a vereador foram inscritas por partidos que podem ser descritos como de centro-esquerda ou esquerda. Enquanto 12.044 candidaturas a prefeito e 335.408 candidaturas a vereador foram inscritas por partidos de centro-direita, direita e extrema-direita.
Óbvio que há candidaturas progressistas perdidas em partidos do centro à direita; e claro que há candidaturas de direita inscritas através de partidos do centro à esquerda. Mas os números dão uma ideia aproximada do óbvio: os partidos de centro-direita, direita e extrema-direita lançaram maior número de candidaturas. Aliás, a maioria dos atuais prefeitos e vereadores em todo o país pertence a estes partidos de centro-direita, direita e extrema-direita.
E por falar em extrema-direita, vejamos o contraste entre o PT e o PL. Em 2024, o PT lançou 1.380 candidaturas a prefeito. O PL lançou 1.474. O PT lançou 26.654 candidaturas a vereador, o PL lançou 32.357. Detalhe importante: quando comparamos o número de candidaturas em 2024 com o número lançado em 2020, fica ainda mais evidente a vantagem relativa do PL.
Em 2020, o PT lançou 1.209 candidaturas a prefeito, agora lançou 1.380. O PL lançou 926 em 2020 e 1.474 em 2024. Ou seja: depois de vencer a eleição presidencial, o PT aumentou em 14% sua nominata. Já o PL, depois de perder a eleição presidencial, aumentou em 59% sua nominata. No caso de vereadores, a comparação é ainda mais preocupante. Em 2020, o PT lançou 27.484 candidaturas a vereança; em 2024, esse número caiu para 26.654. Já o PL cresceu: lançou 25.170 em 2020 e 32.357 em 2024.
Evidentemente, ter candidato não quer dizer ter voto, nem tampouco significa eleger. Teremos que aguardar o resultado eleitoral para verificar se a tática seguida pelo PL produziu mais êxito que a tática adotada pelo PT. Lembrando que a tática vai além do número de candidaturas lançadas, ou da sua política de alianças, ou das candidaturas escolhidas.
Mas, como está na moda dizer, há “fortes indícios” de que a direita vai conseguir mais votos e vai conquistar mais mandatos do que a esquerda. E, devemos acrescentar, existem “fortes indícios” de que, se conseguir o resultado acima descrito, a direita vai reforçar sua influência não apenas institucional, mas também ideológica, sobre grandes setores da sociedade brasileira.
Que efeitos isto pode ter na eleição de 2026? Sobre isso, há controvérsias. Primeiro, porque em dois anos pode acontecer muita coisa, como se viu, aliás, de 2020 a 2022. Em segundo lugar, porque os efeitos podem ser diferenciados: o crescimento da direita nas eleições municipais de 2020 facilitou a eleição da atual maioria congressual, mas não impediu a vitória de Lula nas eleições presidenciais.
De toda maneira, é fundamental – para a esquerda – ter um bom resultado político. Resultado político é aquele que, mesmo derrotado nos números gerais, vencemos batalhas decisivas que nos permitem vencer outras batalhas. Na prática, isto significa, por exemplo, vencer as eleições nas grandes cidades.
Em 100 cidades, concentra-se 38% do eleitorado. Em outras 115 cidades, está cerca de 10% do eleitorado. Portanto, quase metade do eleitorado brasileiro concentra-se em 215 cidades. A outra metade está distribuída em 5.355 municípios. Não devemos subestimar. Ganhamos 2022 por 2 milhões de votos, portanto cada voto é importante. Mas do ponto de vista político, ter as grandes cidades é um ponto de apoio.
As mais vistosas, dentre as grandes cidades, são as capitais de estado. A esquerda tem candidatura majoritária unificada em 16 das 27 cidades (13 do PT e três do PSOL, neste caso, Macapá, Belém e São Paulo). Nas demais, se dividiu, com o PT apoiando candidaturas lançadas por partidos de centro-esquerda ou pior. É o caso do PSB (Curitiba, Recife e São Luís), PDT (Porto Velho), PSDB (Palmas), PV (Boa Vista), PSD (Rio) e MDB (Acre, Maceió e Salvador).
Uma vitória de Eduardo Paes no Rio, de Geraldo Júnior em Salvador ou de Luciano Ducci em Curitiba, para ficar só nesses exemplos, não será uma vitória da esquerda. E ainda é cedo para cravar qual será o resultado das eleições nas 16 cidades onde a esquerda disputa a prefeitura com candidatura própria.
O que é certo é que a esquerda deve buscar o voto do eleitorado que nos deu a vitória em 2022. Ou seja: a classe trabalhadora, as mulheres, os negros e as negras, a juventude, os nordestinos onde quer que estejam, os mais pobres. É este apelo de classe (pobres contra ricos) que fará a diferença.
Os editores