Se o BB não cumpre o que promete, os caixas do BB dão o troco!

As mobilizações organizadas pelo movimento sindical em 16/1 e a atuação nas redes pelos próprios caixas exerceram pressão efetiva sobre o Banco, que convocou para a próxima quarta-feira (22/1) reunião com as entidades para tratar das nossas reclamações e demandas. Além disso, na tarde da última sexta (17/1), em mensagem corporativa enviada via “Teams” para os caiex (reproduzida pela CONTEC – https://contec.org.br/bb-ratifica-compromisso-com-caixas-executivo/), o Banco se colocou na disputa da narrativa, tentando se defender da acusação de descumprimento da Negociação Coletiva. Na nossa avaliação, o BB se complicou mais ainda em sua comunicação – inclusive juridicamente.

Ainda não há o que comemorar, mas abriram-se caminhos para avançarmos na luta.

Cartazes afixados em agências do BB pelo Sindicato dos Bancários de BH

Ao tentar se explicar, BB “passa recibo”

Além de sinalizar que realmente não tem a intenção de criar novas vagas de assistente de atendimento e negócios, com a devida priorização, nas praças em que os caixas serão desgratificados, o Banco apresentou dois argumentos em sua defesa:

– Revelou que seria 1.223 a quantidade total de caixas desgratificados, para enfatizar que compõem uma proporção minoritária entre os 6.861 caixas efetivos;

– Na tentativa de refutar a acusação de não estar cumprindo o acordado, informou que há 1.693 vagas abertas para concorrência, para cargos com remuneração igual ou superior à dos caixas, o que excederia a quantidade de caixas desgratificados.

Não há o que relativizar quanto à gravidade. Os sindicatos devem exigir e o Banco tem que cumprir o que prometeu aos caixas, sejam 1.000 ou 5.000 os atingidos pela Reestruturação. Importante considerarmos que os 5.638 caixas que se manterão nomeados e com o recebimento da gratificação mensal devem isso à liminar obtida no âmbito da ação judicial impetrada pela Contraf. Por seu próprio crivo, o BB teria retirado a nomeação de todos nós.

Quanto à quantidade de vagas abertas para concorrência, é falacioso o argumento. O Banco considera nessa soma de 1.693 todas as vagas abertas para todos os cargos comissionados na empresa, desde os assistentes operacionais júnior e pleno (cujas comissões/ABF são inferiores à gratificação de caixa) até a gerência de alta renda e cargos em diretorias.

Além de haver perda de renda no caso de nomeação em parte dos cargos, é um escárnio se referir a oportunidades de concorrência no topo da carreira como cumprimento do acordado em relação aos caixas, que de forma absolutamente excepcional (se não for impossível) conseguiriam passar diretamente a essas nomeações.

Sejamos mais claros: quando a Dipes informou em 23/9/24 que haveria vagas “abertas em quantidade suficiente para atender todos os que não estarão mais contemplados com a gratificação”, se referiu especificamente “às novas funções de assistentes de atendimento e negócios”, para as quais os caixas seriam priorizados. Quanto às vagas para esse cargo, apenas cerca de 700 estão disponíveis – e de forma concentrada, nos maiores centros urbanos. A grande maioria dessas vagas já existia no sistema – o Banco não as criou com o objetivo de atender à demanda que viria dos caixas desgratificados.

Além de tudo isso, o que os sindicatos apresentaram às assembleias com indicação de aprovação é que tais vagas de assistente, com a devida priorização, seriam abertas na mesma praça em que estariam os caixas prejudicados – ou ao menos nas cidades vizinhas.

Lembremos mais uma vez do que afirmou em 9/10/24 a presidente do Banco, diante de toda a diretoria e de centenas de funcionários de todo o país:

“vai ter casos (…) em que eu vou ter na dependência onde você já está, uma vaga de assistente de negócios. Vai ter dependências que eu não vou ter essa vaga porque ela já demanda o caixa o mês inteiro. (…) a preferência na concorrência, se houver vaga onde você já está, é sua.”

O que foi apresentada nessas falas foi a perspectiva de que se buscaria criar vagas de assistente justamente onde os caixas perderiam a gratificação – e que, havendo vaga ali, a mesma seria garantida ao próprio caixa afetado.

Muito diferente é a prática que está se dando nos processos de concorrência para as poucas e concentradas vagas de assistente disponíveis. Os gestores poderão escolher quaisquer dos nomes apresentados, inclusive de colegas de outras praças, em detrimento de caixas desgratificados nos próprios prefixos ou municípios.

Gestores criativos e descumprimento da liminar no esquema “abre um dia, ganha o mês”

Temos recebido relatos de situações absurdas geradas pela livre interpretação de orientações da Gepes por alguns gestores. Há administradores dizendo que implementarão um “rodízio”, que o critério para atuar no caixa será o desempenho em vendas, ou que, na necessidade de cobrir ausências e intervalos nos guichês, isso será feito por um assistente – em detrimento do caixa que o faz habitualmente.

Diversos gestores informam ainda que, quanto aos caixas que perderão a nomeação (passando da função 288/394 para 610), em caso de eventualmente ser necessário acioná-los no caixa, constituirão um terceiro grupo quanto à forma de remuneração. Não serão substitutos com remuneração diária, nem efetivos. Seria inaugurado um novo esquema: “abre o caixa um dia, recebe a gratificação mensal; no mês que não abre o caixa, não recebe a gratificação”.

É estranha tal informação, pois isso claramente constituiria violação da liminar, que determina que não seja aplicado novo modelo de designação  e remuneração aos caixas nomeados. O cumprimento da liminar se dá com o caixa mantendo a nomeação e mesma forma de remuneração pelo exercício da função, ou seja, recebendo a gratificação mensal também em caso de férias, licenças, etc.

Por outro lado, a sugestão de tais situações demonstra que há erros no redimensionamento feito pelo Banco quanto à necessidade de caixas atuando nos prefixos. Se o gestor se vê na necessidade de solicitar o acionamento no caixa pelo funcionário que perdeu a gratificação, fica demonstrado que seria necessário manter no mínimo mais um caixa efetivo na dependência para a cobertura de intervalos e ausências.

Se cogita-se que a cobertura de intervalos e ausências no guichê seja feita por um assistente de atendimento e negócios, o caixa que perdeu a gratificação mensal deveria ser nomeado para a nova função e então ter a possibilidade de cumprir esse papel eventualmente, mantendo seu nível de renda. É absurdo que a desgratificação de um caixa experiente leve ao acionamento no guichê por um assistente de negócios que não exercia a função antes de passar ao cargo transversal, apenas para que o Banco economize.

Havia também uma promessa sobre prazo
Há outra informação importante dada pela Dipes em 23/9/24, que revela outro descumprimento do anunciado:

“vamos garantir o pagamento equivalente ao da gratificação até dezembro (…). Este é o tempo necessário para concorrer às novas funções de assistentes de atendimento e negócios”.

O prazo até dezembro foi apresentado como uma segurança para que os caixas não tivessem redução de renda, pois nesse tempo teriam as oportunidades de realocação para a nova função comissionada. Mesmo com a dilação do prazo para 31 de janeiro, como já apontamos, as vagas não foram criadas em quantidade suficiente, nem em locais próximos, para os caixas que perderão a gratificação.

No email institucional enviado aos caixas efetivos em 10/1/25, o Banco afirma que as “regras [de priorização] têm duração de 90 dias, podendo ser prorrogadas por decisão administrativa”.

Contrariando o que sinalizou antes, o processo de “priorização” que o Banco está apresentando para os caixas é o de tentarem se realocar para onde houver vagas, o que para grande parte dos prejudicados significa disputar lugar com outros colegas em praças distantes, num prazo de meses após a perda da gratificação.

Não há segurança – a “prioridade” veio com insegurança mesmo.

Demandas

Diante de todo o exposto, a UNACaiexBB faz os seguintes apontamentos às entidades sindicais, para que os tenham em conta em suas novas tratativas com o Banco:

  • Se os atuais assistentes de negócios e supervisores de atendimento têm garantia da oportunidade de ocupar cargos nas novas funções transversais, mantendo-se em suas praças, deveriam ser dispensadas aos caixas as mesmas condições;
  • Como o Banco não oportunizou as vagas corretas, nem no prazo, quantidade e locais adequados para os caixas, deveria ser mantida a função 288/394 para todos, até que efetivamente se cumpra o prometido;
  • Para reduzir o impacto na vida das pessoas e para que o processo seja justo, no espírito em que as mudanças foram anunciadas meses antes, em toda concorrência com prioridade para caixas a nomeação deveria se dar nesta ordem: 1°) um caixa excedente do próprio prefixo; 2°) um caixa excedente do mesmo município; 3°) um caixa excedente da mesma microrregião; 4°) o caixa melhor classificado para a vaga no TAO;
  • O Banco apresenta a perspectiva de que a priorização para cargos GFM 19 e 20 se estenderá por 90 dias, prorrogáveis. Deveria tornar a política de priorização para caixas permanente, enquanto existirem funcionários atuando na função, incluindo nas priorizações também os escriturários que atuam como caixas há vários anos;
  • Sem prejuízo de que as vagas de assistente de atendimento e negócios sejam criadas em locais próximos e quantidade suficiente para contemplar os caixas desgratificados nesta reestruturação, seria importante diversificar as oportunidades, com a criação de vagas em cargos da área meio (GFM 19 e 20) no interior;
  • Caso o Banco se demonstre intransigente, a continuidade da luta deveria se dar numa crescente, com a organização de dias nacionais de paralisação de todos os caixas do BB ao início de cada mês, até que o Banco cumpra o Acordo. As datas 3, 7 e 10 de fevereiro são estratégicas pelo maior fluxo de clientes nas agências.

21 de janeiro de 2025

Conselho de 36 da União Nacional de Caixas do BB

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