Por Heba Ayyad (*)
Mulher chora no cemitério de Potocari próximo a Srebrenica – Fonte da imagem: AP Photos
A Assembleia Geral das Nações Unidas prepara-se, em breve, para votar um projeto de resolução que declara o dia 11 de julho como dia internacional para lembrar o genocídio cometido contra os muçulmanos em Srebrenica em 1995. No entanto, o projeto de resolução encontra forte oposição do Estado da Sérvia, por um lado. Por outro lado, a região de maioria sérvia dentro da República da Bósnia e Herzegovina, adjacente à fronteira com a Sérvia, autodenomina-se “República de Srpska”.
Esta tendência surge menos de uma semana depois de o genocídio no Ruanda de 1994 ter sido comemorado numa sombria cerimônia à luz de velas no Salão da Assembleia Geral das Nações Unidas.
As forças sérvias da Bósnia em Srebrenica cometeram um massacre de 10 dias em julho de 1995, matando pelo menos 8.372 homens e rapazes muçulmanos desarmados. Os locais de execução variaram entre um armazém e um poço de terra, e foram realizados em “zonas seguras” internacionalmente designadas que deveriam ser protegidas pelas forças de manutenção da paz das Nações Unidas, mas olharam para o outro lado quando as forças sérvias da Bósnia invadiram a área e começaram a cometer o crime de genocídio.
Embora um tribunal internacional independente tenha concluído que o genocídio ocorreu em 1995 na ex-Iugoslávia durante a Guerra da Bósnia, a expressão de opiniões sobre o plano de alguns Estados-membros da ONU para homenagear as vítimas não é totalmente bem recebida pelo campo político da Republika Srpska, enclave na Bósnia e Herzegovina, nem pelo presidente sérvio, Aleksandar Vucic, que chegará à sede das Nações Unidas e participará das reuniões nos dias 22 e 23 de abril
De acordo com informações diplomáticas na sede das Nações Unidas, a presença do presidente sérvio visa principalmente reunir apoio à oposição à proposta de resolução sobre o genocídio e uma possível votação na Assembleia Geral e não no Conselho de Segurança, onde importantes representantes da Sérvia aliada, a Rússia, poderiam vetar o texto. O Conselho de Segurança deverá realizar uma reunião sobre o Kosovo na segunda-feira, 22 de abril, e esta pode ser a razão da vinda de Vucic à sede das Nações Unidas.
Nestes dias está a circular o projeto de texto base do projeto de resolução oficial que aprovará a comemoração de Srebrenica através de votação na Assembleia Geral, que está prevista para o início de maio. A Alemanha e Ruanda estão a liderar estes esforços. Eles iniciaram a ideia de comemorar e homenagear oficialmente o aniversário do genocídio.
A celebração oficial deste aniversário irá tentar remediar a lacuna entre os dois genocídios que foram cometidos – Ruanda e Srebrenica – onde um massacre foi reconhecido, mas não o outro.
(*) Heba Ayyad é jornalista internacional e escritora Palestina Brasileira