Sobre a construção de greves e mobilizações estudantis pelo país

Por Coordenação Nacional da Juventude da Articulação de Esquerda – JAE / PT

  1. Passamos, em nosso país, por uma série de ataques aos direitos da classe trabalhadora e um severo desmonte da educação pública.
  2. Desde o início do ano, diversas têm sido as mobilizações estudantis contra os cortes do governo Bolsonaro e contra o sucateamento das universidades e IFs, consequente da EC 95 de 2016.
  3. Nesse contexto, pudemos observar uma retomada da importância e da legitimidade das entidades estudantis, em especial da União Nacional dos Estudantes (UNE), que encabeçou diversos dos atos em defesa da educação que aconteceram no último período.
  4. As primeiras mobilizações, em especial as do dia 15 de maio, foram massivas e contaram com bastante participação popular. Naquele momento, os cortes de 30% no orçamento das IFES, seguidos da tática de desmoralização das universidades, mobilizaram a indignação de milhões de brasileiros, que foram às ruas em defesa da educação.
  5. Devemos ressaltar que, nas mobilizações convocadas pela UNE, as mobilizações em defesa da educação ganharam ampla centralidade enquanto outras pautas, igualmente importantes para a classe trabalhadora e que já vinham sendo prejudicadas pelos ataques aos sindicatos promovidos pela aprovação da reforma trabalhista, como a reforma da previdência e a defesa dos demais direitos perderam espaço na agenda de mobilizações. Vale acrescentar que as mobilizações em defesa da educação aglutinam outros setores, como uma classe média/alta, que se mobiliza em defesa das universidades, porém não se mobiliza por outras pautas, como a reforma da previdência.
  6. A tática da atual direção da UNE de convocar protestos de rua sucessivamente acabou gerando um esvaziamento das últimas mobilizações, que foram muito menores do que as primeiras.
  7. Nesse sentido, apesar de a UNE ter retomado certa legitimidade na condução das mobilizações em defesa da educação, ainda é muito débil sua capilaridade no dia a dia das universidades (principalmente no interior), sua atuação para além das mobilizações de rua e a defesa de outras pautas que perpassem a luta em defesa da educação. Uma das questões é a defesa da liberdade de Lula, rejeitada por algumas forças da majoritária e da OE e negligenciada por algumas forças da JPT.
  8. Essa situação demonstra que devemos avançar na construção de mobilizações que superem o caráter performático das encabeçadas pela atual direção da UNE, pautando a construção de alternativas rebeldes e consequentes como contraponto ao desmonte da educação – e também dos direitos da classe trabalhadora.
  9. Há algumas semanas, a UFSC passa por um processo de greve estudantil, envolvendo um grande número de estudantes da universidade. O estopim para a greve foram as medidas de racionamento adotadas em função dos cortes, que ameaçam a assistência estudantil e o funcionamento da universidade – como o RU, o consumo de energia elétrica, etc, juntamente do Programa Future-se. A partir do agravamento da situação em função dos cortes e do Future-se, diversos cursos realizaram assembleias, culminando em uma grande assembleia geral que deliberou a paralisação das atividades por parte dos estudantes e pós-graduandos.
  10. A construção de uma greve estudantil na UFSC tem repercutido em outras universidades do país, o que traz a possibilidade de que outras universidades tenham suas atividades paralisadas pelos estudantes.
  11. Apesar da movimentação na UFSC, e de ter aderido à paralisação dos dias 2 e 3 de outubro em conjunto com as centrais sindicais, poucas têm sido as iniciativas da UNE no sentido de buscar um movimento nacionalizado e consistente de greve por tempo indeterminado.
  12. É importante que a militância estudantil da Articulação de Esquerda esteja atenta aos movimentos necessários para a acumulação de forças contra os cortes e contra o governo Bolsonaro.
  13. A construção de greves estudantis nas universidades pode ser uma importante ferramenta de enfrentamento ao governo, mas para isso, é importante que estas sejam articuladas com as demais categorias e que envolvam um grande número de estudantes.
  14. Precisamos, mais do que nunca, ter cautela para que as tentativas de construção de greves sirvam para acumular forças, e não para desarticular a luta de massas e nos deixar em refluxo, como tem acontecido.
  15. Nesse contexto, alguns setores esquerdistas defendem a construção inconsequente de greves estudantis, com deliberações em assembleias esvaziadas ou envolvendo apenas algumas unidades de ensino. Essa movimentação pode resultar em greves estudantis furadas, sem a paralisação docente e que mais servirão para desarticular o movimento estudantil do que para acumular forças.
  16. Para que isso não ocorra, é imprescindível que haja mobilização intensa nas universidades onde há possibilidade de greve, com passadas em salas de aula, realização de plenárias e assembleias com um grande número de estudantes, para garantir que haja condições de se manter uma greve estudantil com ampla participação.
  17. Além de paralisar as universidades, é fundamental que a militância estudantil contribua para elevar a consciência da população sobre o que está em curso no país.
  18. É papel da nossa militância pautar e contribuir para a construção de brigadas que se insiram nos bairros e escolas públicas levando a discussão sobre a conjuntura da educação e de ataques à classe trabalhadora.
  19. Diferente do que propunham algumas forças do movimento estudantil da UFSC, a suspensão do vestibular não é uma alternativa efetiva para mudarmos a situação. Para quem está fora da universidade e quer entrar, a suspensão soa como uma medida de restrição e que dificulta a entrada, sobretudo de jovens filhos da classe trabalhadora, à universidade.
  20. Nesse sentido, fazer uma disputa de narrativa nas escolas e nos bairros, discutindo o modelo de educação que queremos – também para a educação básica – e ouvindo as principais demandas de quem acessa escolas precarizadas, contribui para construirmos, passo a passo, uma maioria social que se some às lutas contra o desmonte de direitos e o governo Bolsonaro.
  21. Mobilizar a pauta pela liberdade de Lula também é fundamental nesse processo, ressaltando a correspondência entre sua prisão política e o desmonte da educação.
  22. A nossa militância deve, portanto, encabeçar as iniciativas que se preocupem com a disputa cultural, além de pautar a greve estudantil de forma consequente nas universidades, garantindo uma ampla mobilização e participação dos estudantes.
  23. É importante também a participação da nossa militância na greve de 48h dos dias 2 e 3 de outubro, construindo ações em conjunto com os movimentos populares, entidades estudantis e sindicatos de suas cidades.
  24. Devemos compreender o papel político que os estudantes cumprem nessa conjuntura, que é principalmente a disputa de narrativa e a mobilização conjunta com outras entidades, movimentos populares e sindicatos, pois somente articulados com outros segmentos, teremos êxitos.

 

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