Por Coordenação Nacional da Juventude da Articulação de Esquerda – JAE / PT
- Passamos, em nosso país, por uma série de ataques aos direitos da classe trabalhadora e um severo desmonte da educação pública.
- Desde o início do ano, diversas têm sido as mobilizações estudantis contra os cortes do governo Bolsonaro e contra o sucateamento das universidades e IFs, consequente da EC 95 de 2016.
- Nesse contexto, pudemos observar uma retomada da importância e da legitimidade das entidades estudantis, em especial da União Nacional dos Estudantes (UNE), que encabeçou diversos dos atos em defesa da educação que aconteceram no último período.
- As primeiras mobilizações, em especial as do dia 15 de maio, foram massivas e contaram com bastante participação popular. Naquele momento, os cortes de 30% no orçamento das IFES, seguidos da tática de desmoralização das universidades, mobilizaram a indignação de milhões de brasileiros, que foram às ruas em defesa da educação.
- Devemos ressaltar que, nas mobilizações convocadas pela UNE, as mobilizações em defesa da educação ganharam ampla centralidade enquanto outras pautas, igualmente importantes para a classe trabalhadora e que já vinham sendo prejudicadas pelos ataques aos sindicatos promovidos pela aprovação da reforma trabalhista, como a reforma da previdência e a defesa dos demais direitos perderam espaço na agenda de mobilizações. Vale acrescentar que as mobilizações em defesa da educação aglutinam outros setores, como uma classe média/alta, que se mobiliza em defesa das universidades, porém não se mobiliza por outras pautas, como a reforma da previdência.
- A tática da atual direção da UNE de convocar protestos de rua sucessivamente acabou gerando um esvaziamento das últimas mobilizações, que foram muito menores do que as primeiras.
- Nesse sentido, apesar de a UNE ter retomado certa legitimidade na condução das mobilizações em defesa da educação, ainda é muito débil sua capilaridade no dia a dia das universidades (principalmente no interior), sua atuação para além das mobilizações de rua e a defesa de outras pautas que perpassem a luta em defesa da educação. Uma das questões é a defesa da liberdade de Lula, rejeitada por algumas forças da majoritária e da OE e negligenciada por algumas forças da JPT.
- Essa situação demonstra que devemos avançar na construção de mobilizações que superem o caráter performático das encabeçadas pela atual direção da UNE, pautando a construção de alternativas rebeldes e consequentes como contraponto ao desmonte da educação – e também dos direitos da classe trabalhadora.
- Há algumas semanas, a UFSC passa por um processo de greve estudantil, envolvendo um grande número de estudantes da universidade. O estopim para a greve foram as medidas de racionamento adotadas em função dos cortes, que ameaçam a assistência estudantil e o funcionamento da universidade – como o RU, o consumo de energia elétrica, etc, juntamente do Programa Future-se. A partir do agravamento da situação em função dos cortes e do Future-se, diversos cursos realizaram assembleias, culminando em uma grande assembleia geral que deliberou a paralisação das atividades por parte dos estudantes e pós-graduandos.
- A construção de uma greve estudantil na UFSC tem repercutido em outras universidades do país, o que traz a possibilidade de que outras universidades tenham suas atividades paralisadas pelos estudantes.
- Apesar da movimentação na UFSC, e de ter aderido à paralisação dos dias 2 e 3 de outubro em conjunto com as centrais sindicais, poucas têm sido as iniciativas da UNE no sentido de buscar um movimento nacionalizado e consistente de greve por tempo indeterminado.
- É importante que a militância estudantil da Articulação de Esquerda esteja atenta aos movimentos necessários para a acumulação de forças contra os cortes e contra o governo Bolsonaro.
- A construção de greves estudantis nas universidades pode ser uma importante ferramenta de enfrentamento ao governo, mas para isso, é importante que estas sejam articuladas com as demais categorias e que envolvam um grande número de estudantes.
- Precisamos, mais do que nunca, ter cautela para que as tentativas de construção de greves sirvam para acumular forças, e não para desarticular a luta de massas e nos deixar em refluxo, como tem acontecido.
- Nesse contexto, alguns setores esquerdistas defendem a construção inconsequente de greves estudantis, com deliberações em assembleias esvaziadas ou envolvendo apenas algumas unidades de ensino. Essa movimentação pode resultar em greves estudantis furadas, sem a paralisação docente e que mais servirão para desarticular o movimento estudantil do que para acumular forças.
- Para que isso não ocorra, é imprescindível que haja mobilização intensa nas universidades onde há possibilidade de greve, com passadas em salas de aula, realização de plenárias e assembleias com um grande número de estudantes, para garantir que haja condições de se manter uma greve estudantil com ampla participação.
- Além de paralisar as universidades, é fundamental que a militância estudantil contribua para elevar a consciência da população sobre o que está em curso no país.
- É papel da nossa militância pautar e contribuir para a construção de brigadas que se insiram nos bairros e escolas públicas levando a discussão sobre a conjuntura da educação e de ataques à classe trabalhadora.
- Diferente do que propunham algumas forças do movimento estudantil da UFSC, a suspensão do vestibular não é uma alternativa efetiva para mudarmos a situação. Para quem está fora da universidade e quer entrar, a suspensão soa como uma medida de restrição e que dificulta a entrada, sobretudo de jovens filhos da classe trabalhadora, à universidade.
- Nesse sentido, fazer uma disputa de narrativa nas escolas e nos bairros, discutindo o modelo de educação que queremos – também para a educação básica – e ouvindo as principais demandas de quem acessa escolas precarizadas, contribui para construirmos, passo a passo, uma maioria social que se some às lutas contra o desmonte de direitos e o governo Bolsonaro.
- Mobilizar a pauta pela liberdade de Lula também é fundamental nesse processo, ressaltando a correspondência entre sua prisão política e o desmonte da educação.
- A nossa militância deve, portanto, encabeçar as iniciativas que se preocupem com a disputa cultural, além de pautar a greve estudantil de forma consequente nas universidades, garantindo uma ampla mobilização e participação dos estudantes.
- É importante também a participação da nossa militância na greve de 48h dos dias 2 e 3 de outubro, construindo ações em conjunto com os movimentos populares, entidades estudantis e sindicatos de suas cidades.
- Devemos compreender o papel político que os estudantes cumprem nessa conjuntura, que é principalmente a disputa de narrativa e a mobilização conjunta com outras entidades, movimentos populares e sindicatos, pois somente articulados com outros segmentos, teremos êxitos.