Por Valter Pomar (*)
Em entrevista concedida recentemente à jornalista Monica Bergamo, o ministro da Fazenda Fernando Haddad referiu-se várias vezes aos “faria lima people” como “pessoas”.
A citada entrevista e meus comentários a respeito estão aqui: Valter Pomar: Haddad, um ministro 100% sem tabus. Ou quase..
Não por coincidência, hoje um amigo me enviou uma entrevista muito ilustrativa acerca do que pensam tais “pessoas” ou, pelo menos, seus equivalentes gringos.
Refiro-me a Robert Citrone. A entrevista dele pode ser lida aqui: Exclusiva: Para Rob Citrone, Argentina liderará una década dorada para América Latina (bloomberglinea.com)
Embora grande parte da entrevista trate da Argentina e seja vertida no jargão esotérico da especulação financeira, existe um trecho onde ele fala, de forma bem direta, acerca do Brasil.
Traduzo abaixo o trecho, que pode ser conferido no endereço já disponibilizado. Os negritos são meus.
” (…) não nos sentimos cômodos com as políticas de Lula. Acreditamos que o ministro da Fazenda e, certamente, o presidente do Banco Central têm sido fantásticos. Estão tratando de fazer o correto, especialmente o presidente do Banco Central. Porém Lula, em nossa opinião, tem ideias equivocadas, com uma forte inclinação socialista e desejos populistas. Ademais, somos muito pessimistas sobre China e o Brasil tem várias exportações de matérias primas para China que são muito importantes. Acreditamos que estas exportações serão débeis. Porém, em resumo, o que nos preocupa são os ricos e as políticas no Brasil. Existem empresas extraordinárias no Brasil, é um país incrível e acreditamos que com uma nova liderança em dois anos, Brasil poderia ser um excelente investimento de longo prazo. (…) acreditamos que virá uma liderança mais centrista (…)”.
Será que esta “pessoa” é representativa do seu meio?
Será que esta avaliação é o que eles realmente pensam ou o que dizem de público?
Seja como for, duas coisas podem ser dadas como certas.
Primeiro: uma parte expressiva do grande capital trabalha para recuperar o governo brasileiro em 2026. E, para isso, as tais “pessoas” apostam na construção de “uma liderança mais centrista”.
O que constitui motivo suficiente para que nossa avaliação das eleições municipais não caia na ingenuidade de transformar em vitórias “nossas”, vitórias de quem na verdade pode compor uma “frente ampla” sem o PT e contra o PT.
Segundo: não adianta falar em amor, aceitar o arcabouço ou escolher ministros “fantásticos”. Faça o que fizer, Lula segue incomodando tais “pessoas”.
Há petistas que acham que isso seria motivo para ampliar a moderação, com o objetivo de conquistar o coração peludo das tais “pessoas”.
E há petistas que pensam exatamente o contrário: é preciso enfrentar e reduzir ao máximo o poder econômico e político das tais “pessoas”.
Este é um dos principais temas em debate no PT, hoje, nos próximos dias, semanas e meses. A depender da resposta que prevaleça, teremos maiores ou menores dificuldades para reconquistar o apoio dos setores da classe trabalhadora que se distanciaram de nós no último período.
(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT
Uma resposta
Precisamos encontrar um meio para convencemos o Lula de que ele é o Presidente da República Federativa do Brasil e não um “Salvador da pátria” e que ele tem um excelente corpo ministerial, altamente capacitado e comprometido com a Nação