Thaís: a esperança é vermelha

O texto abaixo integra o Boletim P13 LGBT -Edição n°05/ Maio 2025

Nasci nesta cidade, no distrito de Eugênio de Melo, no ano de 1988.

Considero que pertenço à uma parcela de uma geração da classe trabalhadora que, nascida num determinado lugar, e num determinado tempo histórico, durante boa parte da vida não precisou lutar. E não precisou lutar porque teve a sorte de viver um período que lhe permitiu colher os frutos das lutas da geração que a antecedeu.

Me considero, portanto, como parte do resultado de décadas de luta de uma importante parcela da classe trabalhadora que começou a se organizar durante a Ditadura Militar para ter melhores salários e condições de trabalho, mas que logo entendeu que poderia fazer mais, que poderia construir com as suas próprias mãos um futuro diferente, um país democrático, popular e socialista.

E que entendeu que não seria possível avançar sem um Partido dos Trabalhadores, entre parênteses: Sem Patrão, como costumavam escrever nos muros Brasil afora, segundo nos contou um companheiro das antigas na comemoração dos 45 anos do PT aqui na cidade.

Foi a luta, o sangue, o suor e as lágrimas de vários companheiros e companheiras aqui desta cidade, e de milhares de companheiros e companheiras deste país, que permitiu à uma parte da geração à qual pertenço compreender e sonhar que, quem sabe, poderia escapar ao destino fatal dos seus pais.

Em alguma medida isso foi mesmo possível. Afinal, o operário virou presidente e “o filho do pobre virou doutor”, se formou nas melhores universidades do país, pode estar em lugares que seus pais jamais imaginaram, aprendeu dois, três idiomas e, finalmente, chegou ao mercado de trabalho em melhores condições que seus pais e avós.

Considero que vivi alguns dos melhores anos da história da classe trabalhadora brasileira, ainda que sem consciência disso. Anos em que olhávamos pra frente e enxergávamos um futuro promissor.

O otimismo prevalecia entre muitos de nós e realmente parecia que não tinha o que dar errado. E isso foi verdade não somente pra classe trabalhadora que chegou na universidade, mas foi também para grandes parcelas do povo brasileiro. A vida realmente melhorou pra muita gente ao mesmo tempo.

Naquele momento, com uma ainda muito rudimentar consciência de classe, mal podia imaginar que existe no Brasil um pequeno grupo de pessoas que jamais aceitou que os trabalhadores chegassem a ocupar determinadas posições historicamente deles, e daqueles ideologicamente alinhados à eles.

E qual não foi a surpresa ao perceber que, chegando então ao mercado de trabalho, em melhores condições que nossos pais e avós, logo agora, quando chegou a nossa vez de usufruir dos benefícios e do status de “ser doutor”, “ser doutor” já não significava mais tanta coisa assim.

Professores e médicos, advogados e engenheiros, de conjunto, nos tornamos uma massa de trabalhadores qualificados proletarizados, trabalhando muitas horas a mais do que gostaríamos e ganhando muito menos do que poderíamos.

A educação virou mercadoria justo agora, que tinha chegado a nossa vez…

Mas, então quer dizer que é isso que acontece nesse tal sistema capitalista quando a gente, a classe trabalhadora, se vê em condições de dar uma melhoradinha na vida? E é “inha” mesmo, não é tanta coisa assim, não. Aquele pequeno grupo de pessoas que não tolera nos ver sonhar trata logo de tomar as providências.

Aí vem as investidas na desmoralização do nosso partido, vem golpe em presidenta legitimamente eleita, vem prisão pelo crime de ser o provável vencedor das próximas eleições. Trazem direto do esgoto as suas ratazanas preferidas, aquelas que fazem o trabalho sujo pra que eles possam voltar à cena dizendo o quanto são democratas.

E vem o pior: as tentativas insistentes na nossa cooptação, as tentativas de pequeno-aburguesar as nossas mentes, apesar da precarização cada vez maior das nossas vidas. As tentativas de converter o nosso Partido em mais um partido da ordem, que “joga o jogo”, que só tenta fazer o possível, sem que nos demos conta de que quanto mais só tentamos o possível, mais o possível nos escapa.

O Partido dos Trabalhadores nasceu de um sonho coletivo, o sonho da construção do Socialismo. E pra alguém que eventualmente ache que estou exagerando, recomendo ler o programa de governo de 1989, aquele do “quase lá”.

Esse sonho foi sendo deixado de lado ao longo das décadas, nesse processo lento e gradual de cooptação, em favor da busca do possível, do viável, como se fosse possível e viável o povo todo viver bem, por tempo indeterminado, no país onde quem manda é aquele grupelho.

Ocorre que quarenta e cinco anos e quase quatro presidências e meia depois, está claro para uma parte de nós, e não tardará a ficar claro para uma grande parte de nós, que o tal do sistema capitalista não nos dá a menor brecha, nem mesmo quando buscamos tão somente uma melhoradinha, o possível ou o viável.

Aquele pequeno grupo de pessoas, que só é rico porque explora milhões de brasileiros e “mama nas tetas do Estado”, jamais aceitará que nós, a classe trabalhadora, tenhamos uma condição qualquer que não seja a de mão de obra baratíssima, gastando a vida pra produzir seus lucros.

Quarenta e cinco anos e quase quatro presidências e meia depois, claro está que o capitalismo não nos serve, e que somente um Brasil Socialista poderá garantir as melhores condições de vida pro nosso povo.

É fundamental, portanto, que o nosso Partido volte a lutar por isso, especialmente porque agora já temos história e experiência o bastante para aprender que qualquer coisa menos do que o Socialismo não será suficiente para garantir que o povo brasileiro possa viver bem aqui e agora e com esperança e confiança no futuro.

É necessário que tenhamos o compromisso de transmitir geração após geração, a consciência de que não basta somente colher os frutos das lutas das gerações anteriores, mas é necessário manter a guarda alta, seguir atentos e fortes, sem perder de vista que essa nossa luta pelo Socialismo é e tem que ser permanente.

Diante da barbárie que avança a passos largos, há uma antiga certeza que continua vigente: o mundo será socialista, ou não será. E que a nossa capacidade de aprender com os nossos erros nos faça voltar a querer, com todas as nossas forças e enquanto a gente viver, dar a nossa contribuição coletiva e organizada pra que a humanidade chegue um dia a ser livre de toda forma de exploração e opressão.

Viva o Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras! ★

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