Por Pedro Pomar (*)
A tragédia vivida por Manaus é uma espécie de síntese não apenas dos aspectos mais cruéis do bolsonarismo, mas de até onde pode chegar a insensibilidade das oligarquias brasileiras. Porque, como alguém já apontou corretamente, cabe indagar: que faz o Congresso Nacional a respeito? Por onde anda o bravo Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, que tanto gosta de alfinetar Jair Bolsonaro mas ao mesmo tempo trata de blindá-lo, recusando-se a dar andamento a qualquer um dos 60 pedidos de impeachment já apresentados? E seu “parça” Davi Alcolumbre, presidente do Senado Federal?
Bem, diante da crise Maia exortou Alcolumbre, que é o presidente do Congresso, a convocar a Comissão Representativa para discutir a catástrofe de Manaus e a questão da vacinação. Ah, bom! Agora vai!
Como petistas que somos, a tragédia de Manaus nos remete de imediato às desastrosas decisões da maioria da bancada de deputados federais petistas de apoiar a candidatura de Baleia Rossi (MDB) à presidência da Câmara, via “Bloco do Maia”, e da bancada de senadores petistas de apoiar a candidatura de Rodrigo Pacheco (DEM) à presidência do Senado.
Decisões, ambas, referendadas pela maioria da direção nacional do PT. Decisões, ambas, pautadas por ultrapragmatismo e completa alienação quanto à gravíssima situação enfrentada pelo país.
E por quê remete? Porque acentua e escancara o quanto essas decisões foram medíocres, mesquinhas, incrivelmente danosas para a luta pelo impeachment, que precisa ser imediata e incansável.
Quanto mais o impeachment e a derrubada desse governo miliciano e neofascista se tornam urgentes e indispensáveis, mais escandalosa se torna a atitude de nossos parlamentares na Câmara dos Deputados e no Senado, ao decidirem apoiar as candidaturas de Baleia e Pacheco. Tanto um como outro fiéis apoiadores do governo Bolsonaro no Congresso.
Baleia, aliás, já deixou claro que impeachment não é com ele, fazendo um discurso muito parecido ao das lideranças do PSDB para poupar o aliado Bolsonaro desse desconforto.
A decisão do PSOL de lançar o nome da deputada Luiza Erundina como candidata à presidência da Câmara oferece um interessante contraponto e uma chance para que a bancada petista nessa casa corrija seu curso. Não obstante os ziguezagues de sua trajetória, Erundina é uma figura respeitável e que vem atuando no campo democrático e popular. Pelo menos no primeiro turno, oferece uma alternativa à candidatura do golpista Baleia, articulada por Temer e Maia.
O melhor mesmo, claro, seria que o PT tivesse candidaturas próprias no primeiro turno, inclusive no Senado. Como o ex-deputado federal José Genoíno lembrou recentemente no programa Antivírus, as bancadas do PT já fizeram isso em outras ocasiões, mesmo quando numericamente reduzidas.
Ainda há tempo para corrigir o erro, retirar o partido do estado de catatonia e dar à luta pelo impeachment a importância e o sentido de urgência que ela exige.
(*) Pedro Pomar é jornalista e militante do PT