Túlio Paolino, um dos imprescindíveis

“Militantes

Militam

Pelas causas impossíveis

Vão em frente

Na tempestade

Seguem adiante

No fim da tarde

Túlio tirava das entranhas

As lúcidas certezas

De que o amanhã será melhor

De que a vida

Como no samba

Vai melhorar

Que vamos conseguir

Que outro dia vai chegar

Caminhando equilibrado

Na corda bamba de arame farpado

Segue Túlio anunciando

Que o amanhã será melhor

Que a desigualdade vai acabar

Que a justiça chegará

Que o povo sorrirá

E seguiu ele

Anunciando

Esse dia

Em que a igualdade finalmente

Existirá”

Paulo Luna, em 19/9/2023

Túlio Paulino

 Por Afonso Celso Teixeira (*)

Desde sua internação com diagnóstico pessimista sobre sua recuperação, sou provocado a escrever algo sobre ele. Sempre recusei, pois acompanhei sua luta contra a insuficiência renal por muito tempo e testemunhei suas diversas vitórias em intermináveis batalhas. Dessa vez, embora os pareceres médicos fossem pessimistas e indicassem que eu o visitaria numa UTI, ele me recebeu num quarto com uma inacreditável melhora. Pude, então, ficar mais do que as duas horas previstas. Ficamos eu, ele e Izabel conversando sobre a vida. Ele se limitava a responder laconicamente minhas indagações sobre seu estado de saúde e insistia em falar sobre nossa atuação política. Estava sempre pensando em como nos incentivar a continuar na luta.

Esse era Marco Túlio.

Eu o conheci em 1987, no movimento estudantil da UFF. Eu, na segunda graduação, atuando no grupo de teatro do DCE. Ele, calouro de História, mas já uma liderança no movimento estudantil desde a época de secundarista. Eram três possíveis chapas. Eu, numa; ele, noutra, nos identificamos na certeza de que devíamos nos unir apesar das diferenças. Fomos derrotados. Na ideia de união e na concreta divisão. Nos reencontramos pouco tempo depois, no movimento sindical. Foi ele quem me filiou ao PT e ao SEPE-RJ. Aliás, são vários os depoimentos de companheiros e companheiras também filiados por ele.

Túlio foi um reconhecido militante por uma sociedade mais justa e igualitária.
Formou-se em História na UFF. Foi professor das redes municipal e estadual do Rio de Janeiro e, atualmente, exercia o cargo de diretor do SEPE-RJ na Secretaria de Saúde e Direitos Humanos. Também fez parte da direção do Sinpro-Rio. Atualmente, era delegado sindical, além de ter representado a categoria em diversos conselhos, como o CAD-Conselho de Administração do Previ-Rio, o Conselho Municipal de Educação e o Conselho de Acompanhamento e Controle Social do Fundeb no município do Rio de Janeiro.

Túlio não se furtava a debater com quer que seja, fosse nesses conselhos, em assembleias ou nas ruas, mas, principalmente, gostava de conversar no chão da escola, como ele dizia. Foi lá que tantos militantes o conheceram. E, mesmo com sua grave situação de saúde, convivendo com a rotina da hemodiálise, mesmo após o transplante de um rim, Túlio continuava a visitar escolas, a conversar com professores e funcionários e, principalmente, a ouvi-los. Sim, essa era outra de suas qualidades. Ouvir o outro com atenção.

No Partido dos Trabalhadores, Túlio foi um militante aguerrido e lutador incansável para que o partido se mantivesse firme aos ideais de sua fundação. Também foi um guerreiro na defesa da Central Única dos Trabalhadores como instrumento de luta fundamental para a classe trabalhadora. Colecionou adversários e admiradores. Esses últimos, acredito, em número muito maior.

Túlio, seguramente, era um daqueles que Brecht definiu como imprescindível.

A Articulação de Esquerda se solidariza com todos os familiares e amigos do professor Túlio, especialmente com sua esposa, nossa companheira Izabel Costa.

Professor Túlio, presente!

(*) Afonso Celso Teixeira, professor e ator, é secretário-geral do Sinpro-Rio.