Uma comunicação militante em tempos de guerra

Por Gilson moura Henrique Junior (*)

Há algum tempo em grupos de militância do PT e da Articulação de Esquerda, o assunto da comunicação da esquerda ou do governo vêm à baila com uma série de lugares comuns que se entendem como solução universal, a proverbial panaceia, para os “problemas de comunicação da esquerda e do governo”.

Boas intenções à parte, sem esquecer o pequeno detalhe que é delas que é feita a matéria prima do inferno, a maior parte destes debates e da pressão sobre comunicação esbarra na confusão entre problemas políticos e problemas de linguagem e de comunicação.

 Essa lógica é também a das fanfarras festivas sobre grandes ideias geniais de replicação da imagética da extrema direita trumpista-bolsonarista como saída para nossos problemas “de comunicação” porque “falam a língua do povo”.

Posso estar enganado, mas salvo parte do contingente populacional que têm línguas próprias e  não dialogam com a sociedade nacional, o povo em geral fala português. Também é preciso dizer que além de falar português, o povo tem agência, e até outro dia a maior parte de nós militantes éramos, vejam só, povo, pagando aluguel, comprando ou tentando comprar comida, lutando pela sobrevivência e tentando desviar das tragédias que nos vitimam mais que à burguesia e à pequena-burguesia.

Então qual o problema central da nossa comunicação e por que ela não chega no povo? Tem um enorme material escrito, em vídeo, podcast, emanações mágicas em mesas brancas, conselhos de entidades de religiões afro-brasileiras e de outras formas de comunicação que tratam especificamente da enorme distância entre nossas ferramentas de distribuição de comunicação e as da direita e extrema-direita.

Se a gente falasse a língua dos homens e a dos anjos, mesmo assim nossa comunicação nada seria em comparação com a dos adversários porque eles têm TV, Rádio,Jornais, Youtube, Twitter, Facebook, Instagram e o que aí não é implacavelmente e majoritariamente contra nós é tão minoritário que sua voz é tão altiva quanto a do Grilo Falante em Pinóquio.

Para piorar, o que não tem uma audiência massivamente conquistada por um determinado viés político de comunicação é dirigido para tê-la por algoritmos que expandem artificialmente a visibilidade de uma linha política de discursos, majoritariamente de extrema-direita.

Então, o melhor comunicador entre nós da esquerda jamais vai ter um quintilhão de visibilidade do mais incompetente comunicador de extrema-direita. E não, o sucesso de entidades com vulgo de chupeta e que militam na extrema direita, ou do Cavernícola, não vem da sua capacidade de falar essa mitológica “língua do povo”, mas do processo de massificação de sua fala torpe e limítrofe como essa tal língua.

Nosso maior comunicador, Lula, é transformado em uma entidade silenciosa no maior jornal televisionado do país, mesmo quando fala pelos cotovelos, e tratado pelos donos das big techs como inimigo e só visto pela lente dos adversários, e mesmo o canal do PT pondo sua imagem e sua fala popular e que tem enorme eco com novo povo ela jamais tem o alcance de qualquer palerma nazi fascista.

Nossa diferença está no alcance orgânico, nós somos gente, em relação a uma mobilização pelo afeto que por causa disso sofre muitas oscilações e por vezes tem revezes quando confrontada politicamente no chão de fábrica, aldeia, rua, quilombo, escola, universidade,etc.

Então, qual saída para essa tremenda enrascada que nos acomete perto demais de uma disputa desigual pelos rumos de nossa nação entre nossa luta pela democracia, pelo socialismo e pela justiça social e o fascismo abraçado por um “centro” cuja defesa esporádica da democracia é titubeante e que talvez os faça mergulhar de novo no lago enlameado da infâmia? 

Se existisse só uma seria bom, mas tem várias e a principal tem menor custo que a confecção de bonés de gosto duvidoso e mensagem preocupantemente com um teor xenofóbico: rua.

Nossa organização e nosso partido precisa acelerar rua e nucleação,construção de mais e mais pé no chão e de ocupação de espaços e territórios,com nossos colegas de Classe, o proverbial “povo”’ usado como termo que parece que nos retira da condição de igualdade de condição de Classe.

Isso não vai nos fazer ir pras cavernas de uma região inóspita sem celular, computador e internet, até porque a gente como povo é hiper conectado, mas vai dar concretude ao digital.

A ação popular, cotidiana, nucleada, e que discute ao vivo nosso papel na transformação de nossos destinos é inclusive energizante e nos permite aglutinar saldo organizativo, político e, olha só, até eleitoral.

Inclusive, com mais pé no chão das localidades e territórios, podemos discutir com nossos companheiros do “povo”, como alcançar aquele outro companheiro que não tá ainda com a gente no núcleo, no coletivo de agitação e propaganda,etc.

Talvez por esse caminho a gente pare de achar que é cringe lembrar da história de nosso partido, das lutas brasileiras e mundiais, da luta anti imperialista, lembrar nossos teóricos e dos tantos que caíram para construir essa ferramenta fantástica de luta chamada PT. 

Também talvez por esse caminho a gente possa discutir porque o jornal Nacional e a Folha de São paulo desinformam e porque a gente deve apoiar o governo, porque a diferença mais básica é que entre nós e os que jogam a gente no garimpo do osso, é mais do que temos governo que produz política pública, mas  porque somos um governo eleito por gente, por um partido de gente, com uma filosofia política de gente para a gente.

O fato é que fazer comunicação não é escolher slogan, embora também tenha essa parte, mas fazer disputa política pela agitação e propaganda e a segunda não se exime da necessidade da primeira.

(*) Gilson moura Henrique Junior é doutorando em história pelo PPGH-UFPEL e membro do núcleo estudantil da Articulação de Esquerda em Pelotas

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