Por Valter Pomar (*)
Boulos precisa ir ao segundo turno e vencer as eleições em São Paulo capital.
Isto posto, Boulos erra ao dizer que a Venezuela seria “um regime ditatorial”.
A afirmação foi feita em entrevista à Rede Globo.
Segundo foi divulgado por toda a imprensa, Boulos teria dito que “um regime que persegue opositor, um regime que faz eleição sem transparência para mim não é democrático. É um regime ditatorial. Mas seria importante que os meus adversários tivessem a mesma preocupação com a democracia no Brasil. O Bolsonaro ameaçou as urnas eletrônicas e tentou dar um golpe no dia 8 de janeiro e o Ricardo Nunes disse que foi só uma manifestaçãozinha”.
A declaração pode ser lida aqui: Rejeição: Boulos ameniza discurso e admite ditadura na Venezuela (gazetadopovo.com.br)
Não acredito que Boulos tenha dito isso para ganhar votos, pois atacar o “regime da Venezuela” não ganha voto.
Tampouco acredito que Boulos tenha dito isso para reduzir a rejeição, pois criticar o “regime da Venezuela” não reduz rejeição.
Penso que Boulos disse que a Venezuela é uma ditadura porque ele, Boulos, está vivendo uma transição política e ideológica. Aonde essa transição vai parar, só o tempo dirá.
Mas como ninguém – para apoiar Boulos prefeito em 2024 – é obrigado a concordar em transitar junto com ele, observo o seguinte.
Há um imenso debate político acerca do que é “democracia” e acerca do que é “ditadura”. Neste debate, as pessoas e as correntes políticas adotam diferentes critérios, pesos e medidas.
Por exemplo: há quem diga que Bolsonaro seria vítima de um “regime que persegue opositor”. Assim como há quem diga que o voto em urna eletrônica resulta numa “eleição sem transparência”.
Seja por qual motivo for, muita gente concorda com Boulos e não considera “democrático” o processo venezuelano.
Aliás, tem muita coisa acontecendo – no mundo, em nosso país e inclusive em nossas organizações – que criticamos como não democráticas. E nossas críticas às vezes contribuem para mudanças positivas.
Mas Boulos não se limitou a criticar a falta de democracia. Ele foi além e carimbou a Venezuela como sendo um “regime ditatorial”.
No passado, um ex-presidente do PT disse algo parecido sobre Cuba. Como os tempos eram outros, ele tentou consertar dizendo que seria uma “ditadura popular”. O conserto podia fazer algum sentido para quem já defendeu a “ditadura do proletariado”, mas no senso comum “ditadura” é algo profundamente negativo.
Ditadura a gente luta para derrotar e derrubar. Aliás, é usando este pretexto que Bolsonaro, Maria Corina, Vox, Milei e os EUA trabalham dia e noite para tentar derrotar o “regime ditatorial” venezuelano.
Estou seguro que Boulos não defende apoiar isto. Mas se não defende, melhor então seria não confundir focinho de porco com tomada.
(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT