Venezuela, um país que não se rende ao imperialismo

Por Tânia Mandarino (*)

Em novembro de 2021 estive na Venezuela como observadora internacional de direitos humanos acompanhando um mega processo eleitoral para escolha dos governadores e alcaides (prefeitos) dos estados e municípios do país vizinho que tem as maiores reservas de petróleo do mundo.

O que encontrei lá foi resistência e democracia. Mas, sobretudo, um povo politizado, cultura, música, tambores de herança afro-cubana-indígena, Joropo, ensinamentos sobre cuidados com a saúde a partir de ervas medicinais ancestrais, hospitalidade, acolhimento, jovens participando ativamente da luta democrática e libertária – inclusive nos postos de comando e uma práxis popular que emociona.

Um país de fé, que constrói um socialismo cristão e uma revolução que tem em si o potencial de unificar e libertar toda a América Latina do jugo imperialista como sonhou, resistiu e lutou o Libertador Simón Bolívar, ao lado de outros bravos guerreiros latino-americanos e ao lado da valente Manuela Sanz, Manuelita, também chamada de “a Libertadora do Libertador”.

Um país que deu à luz Hugo Chávez, luz que segue alumiando o projeto revolucionário  bolivariano e se espraia por toda a América Latina, benfazeja para os povos, assustadora para as elites cruéis, carniceiras e mercenárias do nosso continente.

Não à toa tanto ódio! É por tudo isso e muito mais que se mantém um gigantesco laboratório midiático internacional que consegue fazer até os menos avisados que se autodenominam “progressistas”, “libertários”, “humanistas” replicarem como papagaios de pirata que a Venezuela “é uma ditadura” e que Nicolas Maduro “é um ditador” a ser combatido, dentre outras inverdades.

Descobri, ainda na Venezuela, um povo que ama a paz e tem um respeito intransigível por sua Constituição e isso é o que une os venezuelanos, de esquerda e de direita, politizados ou não: o amor à paz e o respeito à Constituição.

Sobre a Constituição da Venezuela, de 1999, revisada em 2009, todos deveriam conhecer ao menos o preâmbulo, que aqui transcrevo com destaques meus:

O povo da Venezuela, exercendo seus poderes de criação e invocando a proteção de Deus, o exemplo histórico de nosso Libertador Simão Bolívar e o heroísmo e sacrifício de nossos ancestrais aborígenes e precursores e fundadores de uma nação livre e soberana; com o objetivo supremo de remodelar a República para estabelecer uma sociedade democrática, participativa e autossuficiente, multiétnica e multicultural em um Estado justo, federal e descentralizado que incorpore os valores de liberdade, independência, paz, solidariedade, bem comum, integridade territorial, cortesia e estado de direito para esta e as futuras gerações; garante o direito à vida, ao trabalho, ao aprendizado, à educação, à justiça social e à igualdade, sem discriminação ou subordinação de qualquer espécie; promove a cooperação pacífica entre as nações e promove e fortalece a integração latino-americana de acordo com o princípio de não-intervenção e autodeterminação nacional dos povos, a garantia universal e indivisível dos direitos humanos, a democratização da sociedade de imitação, o desarmamento nuclear, o equilíbrio ecológico e recursos como patrimônio comum e inalienável da humanidade; no exercício do seu poder inato através dos seus representantes que integram a Assembleia Nacional Constituinte, pelo seu livre voto e em referendo democrático, decretam o seguinte: (Constituição)

Não estive na Venezuela por ocasião da reeleição de Maduro, em julho de 2024, mas acompanhei ativamente todos os desdobramentos que se sucederam.

Menos de um mês depois do pleito eleitoral, em 20 de agosto, organizamos um manifesto que foi encaminhado ao Presidente Nicolás Maduro Moros: a partir da América Latina: Argentina, Brasil, Cuba, Equador, México, Paraguai, Peru; EUA, Índia, Itália, Suíça e Rússia, Cento e trinta e cinco pessoas e 15 entidades assinaram Moção de Apoio ao Presidente Nicolás Maduro e ao Povo Venezuelano.

(link: https://www.viomundo.com.br/politica/a-maduro-e-ao-povo-venezuelano-pedimos-respeito-a-soberania-da-venezuela-sem-qualquer-ingerencia-externa.html )

Da moção também constou um apelo para que o presidente Lula não se curve aos interesses do grande capital financeiro internacional e reconheça o resultado da eleição presidencial na Venezuela:

Rogamos, sobretudo, aos líderes da América Latina e do Caribe, em especial ao grande estadista brasileiro, Lula da Silva e aos Presidentes Gustavo Petro, da Colômbia, e López Obrador (AMLO), do México, que não se curvem aos interesses do grande capital financeiro internacional, que tudo consome e a tudo destrói.

A moção está aberta aos que desejarem se somar. Basta acessar  https://forms.gle/42ho6Xnp2evb5ePX7

Com o coração em festa, retorno agora à Venezuela para participar da posse do Presidente Nicolás Maduro e do Festival Mundial Antifascista “Por um Novo Mundo”.

Hoje não tenho mais a pretensão, entretanto, de estar indo prestar qualquer apoio à Venezuela, ao seu Povo ou ao Presidente democraticamente eleito que tomará posse.

É a Venezuela que nos apoia.

Afirmo sem medo de errar que a Venezuela é, hoje, o último bastião anti-imperialista da América Latina (com Cuba no Caribe).

Para além de celebrar a vitória popular e engrossar as fileiras mundiais da luta antifascista, portanto, é preciso avançar na compreensão de que o momento agora é para agradecermos a Venezuela pela resistência que é barreira para o avanço ainda mais acintoso do imperialismo estadunidense sobre todo o nosso continente.

Eu vou à posse de Maduro, mas não em apoio à Venezuela: quem precisa do apoio venezuelano somos nós, dos países que ainda se rendem ao imperialismo estadunidense.

Obrigada, Venezuela, pelo apoio, firmeza e Resistência!

Nós, os produtivos que pertencemos aos países que ainda se vergam, celebraremos mais essa vitória contra o fascismo imperialista, agradecidos, na certeza de que ainda realizaremos, todos juntos, o sonho plantado pelo Libertador Simón Bolívar de uma América Latina unida, livre e soberana.

Dia 10 de janeiro, eu juro com Maduro, por toda a América Latina!

Nos próximos dias, publicarei por aqui os registros da posse de Maduro e do Festival Antifascista.

Nesse período, si me quieres escribir ya sabes mi paradero: tercera brigada mixta, primera línea de fuego.

Venezuela Resiste! Venezuela se respeita!

Viva a Venezuela!

(*) Tânia Mandarino é advogada e militante do PT-PR.

Uma resposta

  1. Força Venezuela, Força Maduros!
    Brasil ainda sem coragem de seguir Venezuela, Cuba.
    Brasileiros, em sua maioria , ainda não são politizados ao ponto de apoiar essa independência do Império Americano.

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