Você troca 2 vereadores do PT por 3 do PSB em Campinas? NÃO!

Por Adriano Bueno (*)

A próxima reunião do Diretório Nacional do PT vai debater o tema “Federações”.

Sabemos que é uma decisão de âmbito nacional e que este texto aborda uma situação municipal. E sabemos também que uma simulação deste tipo tem seus limites, pois muda-se o empenho, o perfil e as estratégias dos partidos integrantes da Federação. Mas é uma situação emblemática, que nos serve como ótimo subsídio ao debate, feitas as devidas ressalvas.

Em última instância, a decisão sobre formar Federação é política e não apenas matemática. Mas a matemática também entra na conta na hora de tomarmos a decisão política. No caso de Campinas, a matemática nos mostra que nem toda soma possui resultado positivo.

Como seriam as eleições municipais de 2020 em Campinas se a federação PT/PSB/PCdoB estivesse valendo?

No processo eleitoral de 2020 em Campinas o PT elegeu 3 vereadores, o PSB elegeu 4 e o PCdoB elegeu 1. Veja a tabela abaixo:

Se PT, PSB e PCdoB estivessem concorrendo como uma federação, o resultado seria bem outro, conforme a tabela abaixo. Seriam 7 vereadores do PSB, 1 do PT e 1 do PCdoB.

Ou seja: de modo geral, a federação elegeria 9 vereadores, 1 a mais do que a simples soma dos três partidos sem a federação (8 vereadores). Mas o PT perderia 2 vereadores e o PSB ganharia 3 (O PL também perderia 1).

Sobre a matemática e a política

O debate sobre as federações não pode prescindir dos cálculos matemáticos e políticos. Decidir sem fazer contas levaria o PT a uma situação parecida com aquela do programa de auditório, onde a pessoa dentro de uma cabine com isolamento acústico responde “sim” ou “não” quando a luz acende, sem saber qual era a pergunta.

Do ponto de vista matemático, é certo que a união de vários partidos em federação pode proporcionar bancadas maiores. Isto deve ser levado em consideração.

Mas é certo também que a conta deve levar em consideração a política. Constituir federações com partidos de direita, por exemplo, pode levar a somas desfavoráveis.

Lembremos que, como aconteceria em Campinas, a distribuição das vagas conquistadas entre os partidos pode ser radicalmente alterada pelas federações.

Ou seja: deixando de lado o “pragmatismo partidarista” e levando em conta apenas os resultados para o conjunto da esquerda, as somas entre partidos efetivamente de esquerda tendem a ser bom negócio para os trabalhadores. Mas a “soma” com legendas de direita não.

Seria algo como somar com algarismos negativos. O resultado da soma nem sempre é conveniente ao conjunto da classe trabalhadora. O caso de Campinas atesta isso.

Quem é o PSB em Campinas?

O PSB em Campinas de “Socialista” só possui o nome. A principal figura pública do partido é Jonas Donizette, que foi vereador pelo PSDB e fez oposição ao PT quando Toninho e Izalene governaram, entre 2001 e 2004. Jonas, tucano nato, pousou no PSB porque Carlos Sampaio (PSDB) não aceitava dividir holofotes – e legenda – com mais ninguém.

Em foto abaixo, Jonas Donizette faz selfie com Jair Bolsonaro (fonte: A Cidade On)

Enquanto prefeito, eleito em 2012 e reeleito em 2016, nas duas ocasiões disputando contra Márcio Pochmann (PT), Jonas Donizette fez duas gestões de direita. O PT de Campinas fez oposição nas duas ocasiões.

Em 2020, o mesmo Jonas Donizette apoiou Dario Saadi (REPUBLICANOS) e indicou o seu vice. Disputaram contra Pedro Tourinho (PT). O PSB compõe o governo do Dario, junto com o PSDB e outros setores da direita, entre eles os bolsonaristas locais. O PT, de forma unânime, decidiu ser oposição.

Entre os vereadores que o PSB eventualmente elegeria numa federação com PT e PCdoB estão duas figuras caricatas da direita local (Luis Yabiku e Ailton da Farmácia) e Canário. Canário foi eleito vereador pelo PT em 2012 e expulso em 2013 por ter aceitado ser Secretário de Trabalho e Renda de Jonas Donizette, contra a decisão do PT de fazer oposição.

Na foto abaixo, Jonas Donizette e Canário:

Nesta soma com um algarismo negativo (o PSB), o PT, que possui a maior bancada entre os partidos de esquerda, reduziria sua bancada de 3 para 1. Ficaria menor que o PSol, que possui 2; e similar ao PCdoB, com 1.

Isso em termos partidários. Em termos políticos, a bancada de esquerda, de oposição, seria reduzida de 6 (3 do PT, 2 do PSol e 1 do PCdoB) para apenas 2 do PSol. Neste caso, o PT e o PCdoB seriam base de um governo de direita, com 1 vereador cada. Tudo isto imposto pela eventual formação de uma Federação com PT, PSB e PCdoB.

Para quem ainda não se atentou, é bom se ligar que a Federação não é uma “Coligação de 4 anos”. Ela imporá aos seus partidos integrantes um estatuto comum, um programa comum e uma direção comum.

(*) Adriano Bueno é militante do PT de Campinas.

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Em tempo: os cálculos feitos para este texto levaram em consideração a legislação eleitoral vigente. Para os que quiserem revisar as contas, seguem as planilhas abaixo.

Resultado em 2020:

Resultado simulado com a Federação PT/PSB/PCdoB:

Quadro comparativo:

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