Por Valter Pomar (*)
Entendo, mas não concordo com aqueles que tratam o governo da Ucrânia como vítima de uma injustificada agressão russa.
Igual entendo, mas também não concordo com certas teorias sobre o “trumputinismo” e sobre “os freios e contrapesos” que os europeus supostamente impunham à OTAN.
Mas, além de não concordar, não consigo entender como alguém de esquerda é capaz de escrever frases como as que vem a seguir:
“Não tenho nenhuma simpatia por Zelensky, mas a humilhação a que foi submetido hoje é também a humilhação de todos os países periféricos”.
“O desprezo aos palestinos e aos ucranianos é idêntico”.
Idêntico?
De “todos”? “
As duas frases foram perpetradas por Fevereiro e Carneiro, respectivamente, e integram os textos que reproduzo abaixo.
Por caminhos e com propostas diferentes, ambos têm pena de quem só merece escárnio.
Zelensky merece “pena” sim. Mas de outro tipo.
(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT
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Texto de Fevereiro
O FIM DA OTAN O deplorável episódio de hoje na Casa Branca onde Trump e Vance humilharam Zelensky ameaçando-o publicamente caso não aceite os termos russos para a paz significa também o fim da Otan. Não tenho nenhuma simpatia por Zelensky, mas a humilhação a que foi submetido hoje é também a humilhação de todos os países periféricos. Muito claramente Donald Trump inaugura uma era onde os EUA passam a operar sozinhos , com menos força portanto, mas com mais liberdade de movimentos. Sem os freios e contrapesos que as consultas aos aliados europeus impunham.
A Otan é uma aberração, é verdade. Já deveria ter acabado desde os anos 90. A lógica da sua autoperpetuaçao precisou da construção de um novo inimigo. A Rússia foi escolhida artificialmente para cumprir esse papel. Hoje a Otan acabou . Seria uma boa notícia se o seu fim fosse o resultado do avanço de uma geopolítica mais pacificada e menos belicosa. Não é o caso. Trump precisa liquidar a Otan , para ter liberdade total de movimentos nos seus interesses geopolíticos mais proximos . A Europa que se resolva com a Russia que Trump tem mais o que fazer. Más notícias para as Américas.
Texto de Carneiro
A explicitação obscena da truculência imperial é uma técnica fascista. O tom de voz elevado, a gestualidade ameaçadora é como um bullying declarado. O vídeo de Gaza e o tratamento gangsterista contra Zelensky são duas explicitacões do império principal em decadência contra seus rivais, mas, acima de tudo, contra os povos do mundo. O desprezo aos palestinos e aos ucranianos é idêntico. O recado é o mesmo de Teddy Roosevelt: big stick. Dentre os quatro grandes blocos imperialistas, Trump escolheu se aliar a Putin contra a Europa para tentar isolar a China. Além dos interesses econômicos há um eixo político ideológico na disputa: reabilitar e reprogramar o fascismo histórico como novo regime trumputinista. A única alternativa é a mobilização social de massas. A Grécia, a Sérvia, a Coreia do Sul, Bangladesh e a própria Alemanha e EUA apontam o caminho: cada vez mais manifestações, greves, ações diretas de massas.