Por Gabriel Araújo (*)
Os atos do dia 01 de maio de 2024 no Brasil ficaram marcados por terem sido um verdadeiro fiasco, justamente numa data de tamanha importância para o conjunto das organizações de esquerda em todo o mundo, que é dia do trabalhador.
O registro desse fiasco foi feito pelo próprio presidente da república, Luís Inácio Lula da Silva (PT-SP), que durante a atividade em São Paulo-SP, destacando que o ato foi mal convocado e que não houve o esforço necessário para atrair os trabalhadores para mobilização, se assim podemos chamar.
As críticas do presidente foram direcionadas principalmente para o ministro chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo (PT-SE). A pasta é responsável pelo diálogo com os movimentos sociais, populares, sindicais e os partidos políticos mais próximos da linha política do governo. Seria como um “Ministério do Poder Popular”.
Márcio tem sistematicamente ignorado as críticas apresentadas pelas organizações populares, jogando a culpa da impopularidade do governo e a falta de mobilização no colo dessas organizações, inclusive. Algo totalmente absurdo! Essa é uma situação recorrente desde a criação do Sistema de Participação Social e o PPA Participativo que funcionou de maneira quase que exclusivamente virtual, negligenciando uma clara oportunidade de dialogar cara a cara com o trabalhador sobre aquilo que deve ser prioridade para os programas de governo.
Obviamente, que a iniciativa de tomar as ruas deve partir das organizações populares e de esquerda, mas ao governo cabe estimular que esse processo ocorra, principalmente através das parcerias entre o governo e os movimentos.
Logicamente que as críticas para o ministro Márcio são pertinentes, mas é preciso também que essas críticas se estendam também para quem escolheu esse quadro político para atuar na pasta e quem dá sustentabilidade para sua política fracassada até o presente momento, que é o próprio presidente e o campo majoritário do Partido dos Trabalhadores.
O ministro dá a entender em diversas exposições que as organizações populares e os partidos de esquerda estão alheios ao que ocorre no país, mas que eu saiba o ministro faz parte do campo hegemônico do maior partido de esquerda do país, que detém maior infraestrutura, capacidade financeira e prestigio junto às massas. A pergunta que fica: o que o senhor ministro tem feito internamente para mudar ou estimular a mudança dessa situação?
A situação de desleixo não se restringe somente para a pasta da Secretaria Geral, ela se alastra para todas as demais pastas, porque as medidas que o governo tem tomado são completamente tímidas e não despertam verdadeiro interesse dos trabalhadores. Um exemplo de desleixo são as demoras para as contratações das obras do Programa Minha Casa Minha Vida, de responsabilidade do ministro das cidades, Jader Filho (MDB-PA). Para se ter ideia, a seleção dos projetos vinculados a entidades dos movimentos populares que dizem respeito ao ano de 2023 foram sair somente em abril de 2024! Dessa maneira o governo Lula 3 terá uma pífia entrega de unidades habitacionais durante seu próprio mandato.
Toda essa demora para que as demandas sejam atendidas e a miudeza das medidas que são tomadas, resulta em uma desmotivação da militância para defender o governo, sair às ruas e mobilizar os trabalhadoras, principalmente pelo risco de sair desmoralizados diante das massas.
É tarefa do governo e da esquerda defender aquilo que existe de avanço efetivo do governo no que diz respeito aos interesses dos trabalhadores. Mas é tarefa desse campo político também avaliar de maneira realista aquilo que tem afundado cada vez mais a popularidade do governo e a capilaridade da esquerda.
Falta menos de três anos para o fim do governo e para as eleições de 2026. A situação não permite mais que pessoas que fiquem de “nariz em pé” puxem esse campo político cada vez mais para trás e coloquem em risco a vida de milhares de trabalhadores, com a possibilidade de retorno da agenda política do golpe de 2016 nas eleições de 2026.
É preciso mudar de postura e atacar os grandes temas nacionais, que atraiam efetivamente as grandes massas trabalhadoras do campo, das cidades, das florestas e das águas!
(*) Gabriel Araújo é dirigente do MNLM e militante petista