Por Fausto Antonio (*)
Epigrafia para revelar a relação golpes e privilégios para brancos (as) e racismo.
“Conforme imagens divulgadas, a base bolsonarenta do movimento golpista presente em Brasília, no dia 08 de janeiro de 2023, era exclusivamente branca. A cúpula do movimento golpista é igualmente branca e racista. Sendo assim a realidade concreta, o 13 de Maio é artefato político contra o racismo e golpes brancos realizados, 1964 e 2016, e anunciados e enunciados, 2023, contra o governo Lula. Assim, defendemos o 13 de Maio como dia de luta contra o racismo, o mesmo raciocínio se aplica ao 20 de Novembro, na encruzilhada da história e não como um ato à parte e/ou exclusivo de certos setores ou tendências do movimento negro.”
O 13 de maio é uma data que possibilita um acúmulo na luta contra o racismo e, ao mesmo tempo, na luta contra a burguesia branca, os privilégios para brancos e o imperialismo. Numa leitura atualizada do fim da escravidão, o 13 de maio de 1888 não foi uma farsa e principalmente não foi a redenção dos trabalhadores (as) escravizados.
O fim do trabalho escravizado materializou, no processo e na sua continuidde racializada e perversa, privilégios para brancos (as), pois foi o proceso hegemonizado no 13 e na sua continuidade pelos latifundiários e pela classe dominante branca de conjunto. Como se deu o fim do trabalho escravizado? Ele se deu a serviço de privilégios para brancos (as) e a sua continuidade assegurou privilégios para brancos (as), que é sistemicamente o racismo, na unidade indissociável de classe-raça-gênero e território segregado, que é chave explicativa do capitalismo no Brasil.
A luta negra exige, é ponto central, a baliza expressa por uma posição política que encruzilhe o antirracismo, o anti-capitalismo e o anti-imperialismo . O movimento negro só terá sentido, para processar mudanças estruturais ou validade política, se encruzilhar as três chaves postas acima. Elas são inseparáveis para a efetiva redenção negra no país. A rigor, o antirracismo, o anti-capitalismo e o anti-imperialismo são fundamentais para a redenção da classe trabalhadora. Atuar para ingressar nos aparatos existentes, vale a ênfase, é parte apenas do jogo tático, mas não tem capacidade de alterar o quadro estrutural e institucional do racismo e da opressão econômica, policial, midiática e jurídica, que estruturam o racismo e/ou os privilégios para brancos (as) no Brasil.
O Movimento negro da ordem e/ou institucional, é fato, não terá sucesso. O movimento negro da ordem, que busca a integração na sociedade racista, faz intervenções restritas ou delimitadas pelas instituições burguesas, que são brancas, racistas, capitalistas e subordinadas aos privilégios endereçados ao imperialismo. A inclusão de negros (as), nos limites da sociedade capitalista, não terá eficácia para a superação do racismo e/ou do capitalismo.
O capitalismo à brasileira não tem meios para incluir a base da pirâmide, que é majoritariamente negra e segregada territorialmente. Favelas, morros e bairros destituídos de recursos sociais, culturais, sanitários e tecnológicos são exemplares da segregação fixada no território. O território segregado tem duas configurações divergentes. No território que abriga a negrada e os pobres não há os fundamentais recursos materiais e imateriais. Por outro lado, no território que abriga a branquitude, diferentemente da negrada, existem recursos materiais e imateriais em profusão. Nos referidos espaços ocupados pela negrada, cara e caro leitor, faltam recursos sociais básicos e sobram violências sistêmicas e policiais.
A compreensão da cor da classe é fundamental para a organização dos movimentos negros e da classe trabalhadora. O movimento negro da ordem acredita, por exemplo, no sistema judiciário e noutras instâncias que atuam exclusivamente para os privilégios de classe-raça-gênero e território segregado. Há ainda, no processo, o movimento negro ONGnizado, que é um freio permanente à organização e à fundamental e indispensável convulsão negro-popular contra o racismo, que é um processo político contra os privilégios brancos e para brancos e para a burguesia branca, sobretudo.
Outro dilema passa pela organização dos coletivos de negros, que estão à esqquerda e são apenas, de modo ordinário, meros apêndices de partidos sem formulação revolucionária ou estratégicas para a luta e a organização antirracismo. Tais coletivos são partes do movimento negro por duas razões complementares. A primeira razão é relativa à organização como coletivos de negros (as) ou antirracismo. A organização pressupõe negros e negras à frente dos coletivos e na composição.
A segunda razão diz respeito ao fato de os respectivbos coletivos abrigarem quadros de diversas entidades do movimento negro brasileiro. Mesmo com a referida composição e com a cor da classe estampada e/ou historicizada por uma burguesia branca e privilégios para brancos (as), não há notícias de mobilização, organização, congresso e ação conjunta para enfrentar os privilégios de classe-raça-gênero e território segregado, quarteto que forma, no Brasil, um conjunto indissociável e igualmente contraditório ou dialético.
Coletivos de negros (as) do PT e PSOL atuam apenas nos processos eleitorais internos e nos processos externos no quadro das eleições restritas às vereanças, aos prefeitos (as) e aos deputados (as). Eles atuam no pêndulo ou disputa das correntes internas e externamente no contexto meramente eleitoral e institucional. No que merece destaque, não deliberam ou formulam políticas para uma atuação nacional e articulada com os movimentos negros e com o campo antirraccismo, que não se limita a negros e negras.
O PC do B, outro partido no contexto, tem no coletivo de negros um instrumento ou meio para expandir apenas as posições do partido, sem considerar a centralidade da luta contra o racismo. Não podemos deixar à margem da análise os coletivos de negros da CUT e das inúmeras categorias sindicais, que abrigam militantes negros (as), antirracismo e notadamente quadros das diversas tendências do movimento negro brasileiro e da esquerda. A atuação e a organização antirraccismo são insuficientes na CUT e na articulação da CUT com os coletivos presentes nos sindicados e categorias.
Os coletivos dos partidos que se intitulam revolucionários são diferentes? No campo em questão, temos apenas a atuação dos coletivos para validar as políticas dos partidos, que desconsideram, a partir da lógica pequeno burguesa branca, a centralidade da luta contra o racismo. Não custa enfatizar que concebemos o racismo como objeto constituído pelo conjunto indissociável de classe-raça-gênero e território segregado. Desse modo, no Brasil, sem a compreensão da cor da classe não viabilizaremos nem no campo teórico a “construção” do socialismo.
O papel dos coletivos “revolucionários” é esvaziar a categoria raça/cor e, à moda da branquitude totalitária, apresentar a classe sem cor /raça e/ou o marxismo como algo intocável, isto é, como dogma? Discordamos dessas posições. A ciência, é o caso do método marxista, deve ser renovada pelas dinâmicas sociais. Caso, no entanto, a resposta seja afirmativa a favor do dogma, negritamos que o papel dos coletivos de negros é exatamente ou deveria ser às avessas dessa posição ou imposição.
Considerando a conjuntura nacional e internacional atual, é preciso uma política para enfrentar a burguesia branca e o imperialismo, sem excluir a luta contra o racismo e a violência policial, entre outras. Convocar atos para o 13 de maio de 2023 é um passo, mas é preciso chamar ou convocar, a partir de uma proposta de Congresso dos Movimentos Negros e do Antirracismo, o conjunto da militância negra e trabalhadora para a construção desse processo.
O 13 de maio será ou terá, como pauta central, a luta contra o racismo articulada com a luta contra o golpe branco de 2016 e os desdobramentos na conjuntura atual. A organização e a luta negra, no 13 de maio e dia nacional de luta contra o racismo, são meios para atualizar historicamente a luta contra privilégios para brancos (as) e contra a burguesia branca e os seus privilégios de classe-raça-gênero e território segregado.
(*) Fausto Antonio é escritor, poeta , dramaturgo e professor da Unilab- Bahia