Por Adriano Bueno (*)
Neste dia 20 de novembro de 2023 completam-se 328 anos da imortalidade de Zumbi dos Palmares. A data será palco de marchas no Brasil todo, como manda nossa boa tradição, assinalando a importância da consciência negra para o fortalecimento da luta antirracismo no Brasil.
Na última ocasião que o movimento negro ocupou as ruas do Brasil, em 2 de agosto, a pauta era a segurança pública. Os últimos meses foram marcados por chacinas nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, além do trágico assassinato da Ialorixá Mãe Bernadete Pacífico, que também era uma importante liderança quilombola do país.
O Estado brasileiro é o grande protagonista das chacinas dos últimos meses. Desconhecemos quem matou e quem mandou matar Mãe Bernadete, mas sabemos que, por sua vez, ela também deveria estar protegida pelo Estado, já que estava ameaçada de morte e por isso sob proteção legal, na Bahia governada pelo PT.
Apesar do receio de uma parte da militância e de grande parte dos dirigentes de esquerda no país em promover “um novo 2013” – um medo paralisante que pode nos levar a ceder as ruas de bandeja ao fascismo e impede o próprio governo Lula 3 de fazer avançar as reformas necessárias – as mobilizações de 2 de agosto foram importantes e deram um recado.
Estas mobilizações denunciaram o programa neoliberal de segurança pública hegemônico no país, implementado por governos estaduais fascistas e lamentavelmente incorporado também por governos estaduais petistas, o que é fonte de necessário constrangimento. As lutas de 2 de agosto tiveram êxito em expor as contradições.
De lá para cá, ao debate sobre o genocídio da juventude negra somou-se a luta contra o genocídio do povo palestino. O movimento negro possui laços históricos com a Palestina e sempre caracterizou a Faixa de Gaza como um campo de concentração. Lideranças históricas da África do Sul, como Nelson Mandela e Desmond Tutu, sempre caracterizaram Israel publicamente como um Apartheid. Aliás, esta foi a polêmica central que levou as delegações dos EUA e de Israel a abandonarem a III Conferência Contra o Racismo promovida pela ONU em Durban, África do Sul, em 2001.
O nigeriano Achile Mbembe compara a colonização imposta por israelenses aos palestinos com as colonizações escravocratas nas Américas. Seu conceito de necropolítica, tão usado nos dias de hoje para descrever a violência racial nas periferias do Brasil, foi forjado tendo também como base a violência na ocupação colonial tardia em Gaza e Cisjordânia.
Zumbi dos Palmares é referência histórica de luta política radical e enfrentamento ao status quo. Enquanto herói nacional, deve ser celebrado por todos os brasileiros que acreditam no fim da opressão e na liberdade, independente de raça. Que ele seja a inspiração para mais este momento de ocupação das ruas, para fazer avançar pela força do povo um programa que não se limite pelas chantagens de uma maioria fascista no Congresso Nacional. E que seja inspiração também para a luta por liberdade e autodeterminação ao povo palestino.
Pela luta política antirracista em anos ímpares, nas ruas e não apenas na institucionalidade, neste 20 de novembro temos um recado importante ao país: vidas negras e palestinas importam e não são descartáveis, nem nas periferias do Brasil, nem na Faixa de Gaza.
Pelo fim do genocídio da juventude negra e pelo fim do genocídio do povo palestino, viva a consciência negra! Valeu Zumbi!
(*) Adriano Bueno é dirigente estadual da tendência petista Articulação de Esquerda de São Paulo e coordenador municipal do Movimento Negro Unificado (MNU) em Campinas.
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“Pelo fim do genocídio da juventude negra e pelo fim do genocídio do povo palestino, viva a consciência negra! Valeu Zumbi!”