40 anos depois, a luta segue

Uma CUT combativa para derrotar o neoliberalismo e construir a democracia

Congresso de Fundação da CUT – 1983. Fonte: CEDOC/CUT Acervo: Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo

Por Jandyra Uehara (*)

Os brutais retrocessos impostos à maioria do povo brasileiro entre 2016 a 2022 atingiram todas as esferas da vida da classe trabalhadora e foram acelerados e aprofundados com a pandemia da COVID. O ajuste fiscal imposto pela EC 95 e demais mecanismos de destruição das políticas sociais, a Lei das Terceirizações que precedeu a Reforma Trabalhista, a Reforma da Previdência e todos os mecanismos de cerceamento do acesso aos direitos e benefícios previdenciários, cumpriram o papel de espoliar o fundo público, transferindo os recursos do estado para o grande capital, além disso, rebaixaram o custo do trabalho a patamares aviltantes, engordando uma taxa de lucro que só é possível pela intensificação de múltiplos processos de exploração da classe trabalhadora.

O neoliberalismo destrói direitos trabalhistas e sociais, fragmenta e precariza o trabalho, empobrece a classe trabalhadora e aprofunda o abismo das desigualdades, ao mesmo tempo, suas ideias e visão de mundo avançam, enaltecendo uma lógica individualista, consumista, “empreendedora” e atroz, com graves consequências na fragmentação da classe trabalhadora.

A destruição neoliberal fermentou nas suas ruínas o ódio, o racismo, o machismo, as violências e produziu o retorno da extrema-direita no país, agora em condições de disputar a política. Foram as políticas neoliberais, aceleradas pelo golpe de 2016, que alimentaram e foram a chocadeira do ovo da serpente que chegou ao governo em 2018. Foi a luta do povo, dos setores mais pobres, explorados e precarizados da nossa classe, negros e negras, mulheres, LGBTQI+, pessoas com deficiência, povos originários e comunidades tradicionais, gente da periferia das grandes cidades, gente do campo, das águas, das florestas, da cidade e do campo, do Nordeste e de todo o nosso país que derrotaram nas urnas o governo genocida da extrema-direita neoliberal.

Da mesma forma que a mobilização social, popular e sindical foi essencial para vencer a eleição de 2022, segue sendo a força capaz de derrotar o neofascismo e o neoliberalismo a partir da vitória de Lula. Como neofascismo e neoliberalismo operam num processo de retroalimentação, só derrotaremos a extrema-direita, o bolsonarismo e o neofascismo elevando a vida da classe trabalhadora, recuperando, direitos, salários e empregos e, para tanto, será preciso vencer os neoliberais de dentro e de fora do governo Lula.

E aí está o grande nó, pois, para dentro, temos as forças neoliberais e de direita que compõem o governo Lula, que também disputam as suas pautas e suas políticas de austeridade e ajuste fiscal, de primazia das benesses ao capital financeiro e o agronegócio, da retirada de direitos e jogando a conta da crise nas costas da trabalhadora.

O fantasma do bolsonarismo e a força da extrema direita produzem uma superestimação da aliança de centro-esquerda, da denominada Frente Ampla, como instrumento capaz de derrotar a extrema direita, sem levar em consideração que ceder à agenda neoliberal a fim de manter essa frente unida pode produzir efeito contrário e fortalecer a extrema direita e o bolsonarismo.

Temos um governo que está em disputa, e caberá ao movimento sindical e popular atuar para desequilibrar a correlação de forças a favor da classe trabalhadora. Ao mesmo tempo que é fundamental apoiar as medidas do governo que devolvem direitos à classe trabalhadora, é preciso disputar os rumos quando prevalecerem preceitos neoliberais, a exemplo do novo arcabouço fiscal que promete muito e entrega pouco para dar conta da retomada das políticas sociais, de infraestrutura e desenvolvimento.

A CUT não pode abandonar a pauta das revogações das contrarreformas antipovo adotadas desde o golpe de 2016: a reforma trabalhista, a EC95, a reforma da previdência, a famigerada reforma do ensino médio, a autonomia do banco central. Para implementar o programa que venceu as eleições de 2022, é preciso combater as privatizações e a terceirização sem limites, destruir as travas neoliberais que impedem o desenvolvimento soberano e sustentável e o bem-estar social do povo brasileiro.

Para cumprir o seu papel de principal instrumento de luta da classe trabalhadora, a CUT deve estar na ala esquerda das forças sociais que apoiam o governo Lula, forçando a democracia e a luta por direitos, empregos, salários e renda nas ruas, ampliando nossa base social e sindical. A CUT precisa pisar mais nos sindicatos, nos territórios onde vive a classe trabalhadora, nos locais de trabalho, tomar a dianteira das lutas e mobilizações de massa nesse próximo período. O governo Lula só avançará se tiver força popular e classe trabalhadora organizada e mobilizada, o que pressupõe manter a nossa autonomia crítica e propositiva, como inclusive já orientou o próprio presidente Lula.

Para cumprir seu papel, é preciso ter a liderança no movimento sindical, mas não com o rebaixamento das pautas no Fórum das Centrais Sindicais ou com propostas de fortalecimento da burocracia sindical, diluição da CUT e institucionalização de uma aliança por cima com centrais sindicais de centro direita, como quer a proposta de CART – Conselho de Autorregulação das Relações de Trabalho defendida pelo setor majoritário da CUT.​

Aos 40 Anos, a CUT deve retomar o seu lugar, o espírito combativo do seu nascedouro, à frente da construção de um grande sujeito social, um movimento político e social liderado pela esquerda, pelos movimentos populares, pelo movimento sindical combativo, capaz de acolher e agregar trabalhadores e trabalhadores na sua imensa diversidade, reconquistando a maioria da nossa classe para as posições democráticas, populares e socialistas.

(*) Jandyra Uehara integra a executiva nacional da CUT, o Diretório Nacional do PT e a executiva estadual do PT SP.

 

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