Por Valter Pomar (*)
No sábado, dia 27 de janeiro de 2024, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, mais conhecido como MST, realizou um ato celebrativo dos seus 40 anos de luta.
Pouco antes do ato começar, a companheira Lucinha, da executiva nacional do PT, disse que talvez eu fosse chamado a falar em nome da direção nacional do PT, o que de fato ocorreu.
Como a orientação dos organizadores era a de que fizéssemos falas curtas, e como eu fora chamado para falar em nome do Partido, optei pela síntese e pelo mínimo denominador comum, como pode ser constatado no vídeo disponível no endereço abaixo, por volta da 1h26.
ATO POLÍTICO DE COMEMORAÇÃO AOS 40 ANOS DO MST (youtube.com)
A primeira delas diz respeito ao objetivo central do MST: a reforma agrária.
Na esquerda, o apoio ao MST é maior do que o apoio efetivo à reforma agrária, entre outros motivos porque fazer a reforma agrária implica em conflito com o latifúndio tradicional e moderno, com o agronegócio, com a mineração e, inclusive, com o latifúndio urbano.
No fundo, o desejo de alguns setores da esquerda parece ser o de que o MST se converta num movimento dos que produzem, mas sem ocupar e resistir. Por óbvio, sem luta muito intensa, não haverá reforma agrária. Mas, salvo em caso de uma revolução, fazer reforma agrária exige ação de governo. E se o governo não implementa a reforma agrária, desejar “vida longa ao MST” – como fez o companheiro ministro Paulo Teixeira – pode soar como uma frase com duplo sentido.
Assim sendo, esperamos que em 2024 o abril seja particularmente vermelho.
Há quem ache que só organizações camponesas podem atingir o padrão alcançado pelo MST. Mas há também quem considere ser possível construir – nas organizações da classe trabalhadora assalariada, na sua imensa maioria urbana – um padrão similar ou pelo menos bastante superior ao atual. Se isto é possível ou não, só a prática dirá. Mas sem uma mudança na estratégia política, não haverá mudança organizativa a altura dos desafios. Pois, como dizia o camarada russo que nos deixou há 100 anos, organização é política concentrada.
Feitas as contas, o maior presente que podemos dar ao MST nos seus 40 anos é tomar medidas que ampliem o nível de consciência, organização e mobilização de outros setores da classe trabalhadora e do povo brasileiro. E, no caso do governo federal, tomar medidas efetivas em favor da reforma agrária.
(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT