Por Valter Pomar (*)
Houve dois momentos marcantes no debate entre os candidatos à presidência nacional do PT, realizado em Brasília dia 2/6, ao menos para este que vos escreve: quando Humberto Costa revelou ser nascido em Campinas e quando o mesmo Humberto reclamou que o debate havia sido muito “xoxo”.
Considerando justa esta reclamação, no debate de Recife, dia 3/6, dei uma “estimulada” no companheiro Edinho: li a declaração que ele próprio deu logo em seguida ao segundo turno de 2022, defendendo que Lula e Bolsonaro tirassem uma foto.
Confrontado com a citação entre aspas, Edinho não pode fazer em Recife o mesmo que fez na entrevista a Breno Altman, quando escolheu faltar com a verdade.
Na ausência desta opção, resolveu levar para o pessoal e atacar o mensageiro. Direito dele. Mas o fato é que Edinho errou feio em 2022. E esse erro tem relação direta com a tática de “não polarização” que ele vinha defendendo quando virou candidato à presidência.
Os efeitos dessa tática têm alguma relação com nossa derrota nas eleições de Araraquara, em 2024: o governo era bom, a candidata melhor ainda, mas perdemos as eleições.
O detalhe é que a derrota em Araraquara surpreendeu meio mundo, talvez porque a soberba seja má conselheira. E é com soberba que Edinho se comporta nos debates do PED.
Qual o cavalo do comissário, Edinho parece se considerar eleito, indo aos debates apenas para cumprir tabela. E fica visivelmente incomodado quando é cobrado a responder algo fora do seu script.
Por exemplo: o DM de Araraquara gastou mais de 150 mil reais impulsionando propaganda da candidatura de Edinho. De onde veio este dinheiro? Está certo um DM fazer isso?
Além de ser justa em si mesma, a questão – assim como a do jatinho – tem relação direta com algo que Edinho vem pregando: transparência na condução dos recursos do Partido. Mas como se vê, Edinho parece ser nesse tema adepto do “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”.
Outro exemplo são as filiações em massa: Edinho as crítica, mas será um beneficiário dos votos resultantes.
Um terceiro exemplo: quanto custa e quem está pagando a estrutura profissional de comunicação que Edinho usa em sua campanha?
Não que os debates não estejam servindo para algo. Por exemplo, Edinho passou a usar a palavra socialismo. E passou a falar um pouco mais da relação entre fascismo e capitalismo.
Mas, infelizmente, Edinho parou por ai. Instado várias vezes a declarar seu apoio à proposta de ruptura de relações diplomáticas entre o Brasil e o Estado terrorista de Israel, Edinho escolheu calar.
Tampouco falou sobre o Banco Central e sobre “crise do IOF”. Também não fala de indústria: seu mantra é a economia solidária, política muito justa mas que não pode ser transformada em substituta da industrialização. Nem pode ser tratada como se fosse alternativa ao socialismo.
A verdade é que Edinho prefere passar ao largo de todos os temas espinhosos, especialmente os que revelam as contradições do nosso governo.
Fica evidente, ademais, porque Edinho atacou algumas vezes a postura de Gleisi Hoffmann: ela, integrante da CNB tanto quanto Edinho, não fugia de tomar posição.
Um dos problemas desta postura de Edinho é que só “funciona” no ambiente mais ou menos protegido dos debates entre candidatos à presidência do Partido, onde Edinho pode reagir às críticas silenciando, tentando se vitimizar e estigmatizando quem tem a ousadia de criticar o cavalo do comissário.
Mas na vida real não existe zona de conforto. Também por isso os debates do PED não podem ser como o chá das cinco: as divergências precisam ser debatidas.
(*) Valter Pomar é professor e candidato à presidência nacional do PT