É tempo de honrar quem abriu caminho e disputar o futuro

Por Karydja França (*)

Grêmio Estudantil Valdemar dos Pássaros durante a realização da IV Semana Arco-Íris  (IFRN, Mossoró)

Texto publicado na edição Boletim Página 13 LGBTQIA+ de Setembro (clique aqui).

É comum ouvir no movimento LGBT que viver é um ato político, dado o cenário nacional e internacional de ofensiva da extrema direita que estamos enfrentando nas últimas décadas. Em consonância com essa ideia, a Parada do Orgulho LGBT de São Paulo trouxe o seguinte lema em junho: Envelhecer LGBT+ é memória, resistência e futuro. Com essa provocação, também urge relembrar o desafio de pensar as particularidades da juventude LGBT brasileira.

Considerando levantamentos de 2023 e outros coletados até fevereiro de 2025, o Atlas da Violência de 2025 do IPEA, aponta que “A maior parte das vítimas de violência dissidentes de sexualidade tinha entre 10 e 29 anos”. À vista disso, é factível encontrar parte das respostas para uma conjuntura tão alarmante quando vivemos tão recentemente as mazelas do desgoverno neofascista, sua política instrumentalizada de ódio e morte, além da própria pandemia.

Por outro lado, no desvelar da cortina, também precisamos reconhecer que nosso recuo na disputa dos corações e mentes da juventude — inclusive no que tange os temas da diversidade sexual e de gênero — nos fragiliza à longo prazo. Se nossa força motriz está no poder do encontro e da mobilização, vale aprofundar a avaliação de que: (1) as paradas pelos direitos das pessoas LGBT não são mais suficientes; (2) cresce o fenômeno de apropriação da pauta pelas grandes empresas e da privatização dos espaços de convivência; e (3) falta de uma agenda política de esquerda e de massas para a população LGBT.

A luta pela vida tem ganhado outras proporções em tempos de guerra. Do lado de lá, o esforço político é descomunal para continuar defendendo a existência da “ideologia de gênero”, o absurdo de um banheiro segregante para a população trans e para fortalecer uma identidade cínica de acolhimento. E do nosso lado, mesmo após o início do Governo Lula III, as maiores conquistas da população LGBT nos últimos anos foram arrancadas na esfera judicial com forte apoio dos movimentos e organizações, como as demandas pela união estável homoafetiva, alteração de nome/gênero no registro civil e a criminalização da LGBTfobia.

Essas vitórias, embora fundamentais, revelam justamente a distância entre os avanços institucionais e as encruzilhadas atuais da juventude LGBT, ao passo que não se discute políticas intersetoriais de educação, saúde e emprego e renda. Por que não cotas trans? Por que não um Encontro Nacional Universitário de Diversidade Sexual na ordem do dia?

No IFRN – Campus Mossoró, por exemplo, a Semana Arco-Íris realizou sua quarta edição em 2025 e é produto de uma construção orgânica do Grêmio Estudantil Valdemar dos Pássaros, com contribuição da AE. Nesse espaço, os estudantes conversam sobre fundamentalismos, educação sexual, papéis de gênero e, principalmente, sobre como ser uma pessoa LGBT não precisa significar uma vivência solitária e ausente da luta política.

É preciso, por fim, manter-se atento e forte, pois não existe espaço vazio. Insta enfrentar o espantalho da narrativa do “kit gay” e avançar na luta por um mundo socialista, diverso e popular.★

(*) Karydja França é militante do PT e da AE em Mossoró/RN e coordenadora nacional da Juventude da Articulação de Esquerda (JAE)

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