Nova edição do jornal Página 13: “Não basta condenar, tem que prender!”

Saiu a edição de número 288 do jornal Página 13, que pode ser descarregado na íntegra AQUI.  Abaixo, segue o editorial.

BOA LEITURA!

EDITORIAL

Sobre a condenação

Em 2018, Eduardo Bolsonaro disse que “se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo”.

Em março de 2016, portanto dois anos antes da supracitada fanfarronada do zero-zero-alguma-coisa, vazou o áudio de uma conversa entre Romero Jucá e Sérgio Machado. Durante a conversa, que versava sobre a necessidade de um “grande acordo nacional” para derrubar a presidenta Dilma Rousseff, o senador Romero Jucá afirmou que seria necessário que este “acordo” fosse feito “com o Supremo, com tudo”.

O golpe contra Dilma (e contra Lula) teve êxito, tendo como desdobramento a eleição de Bolsonaro. Já o golpe bolsonarista não teve êxito nem na sua primeira fase – os planos para assassinar Lula, Alckmin e Moraes logo após o segundo turno da eleição de 2022 – nem na segunda fase, em 8 de janeiro de 2023.

Após centenas de prisões, investigações da PF, novas prisões e o devido processo no Supremo Tribunal Federal, no dia 11 de setembro de 2025, o cavernícola Bolsonaro foi condenado a 27 anos e três meses de prisão.

Os demais réus do núcleo dirigente do fracassado golpe também foram condenados, a saber: General Walter Braga Netto: 26 anos; Almirante Almir Garnier: 24 anos; Anderson Torres: 24 anos; General Augusto Heleno: 21 anos; General Paulo Sérgio Nogueira: 19 anos; Alexandre Ramagem: 16 anos, 1 mês e 15 dias; Tenente-coronel Mauro Cid: 2 anos em regime aberto.

Há vários motivos que explicam este desfecho. Um deles é bastante óbvio: diferente do golpe contra Dilma (e Lula), praticado por quase toda a classe dominante, o golpe fracassado de Bolsonaro tinha como um de seus alvos outro setor da classe dominante, a saber, um pedaço da direita gourmet, muito bem representada no STF e na Rede Globo.

Em sua autodefesa, este setor da classe dominante teve a firmeza que muitas vezes faltou ao nosso governo e ao nosso Partido nos dias, meses e anos que vieram depois do segundo turno da eleição presidencial de 2014.

Outro motivo, também bastante óbvio, é que o governo Lula, grande parte do povo e toda a esquerda brasileira defendiam que Bolsonaro fosse condenado e preso.

O julgamento e a condenação de Bolsonaro e de vários comandantes militares constituem uma grande vitória.

Primeiro, pelo ineditismo: o Brasil é um país onde os crimes das elites são costumeiramente anistiados.

Segundo, pelo conjunto da obra: Bolsonaro merecia ser condenado não apenas pelo que tentou e deu errado, mas por tudo que fez, com destaque para as centenas de milhares de pessoas que morreram durante a pandemia.

Terceiro, porque uma eventual absolvição daria impulso para a extrema-direita na sua luta por reconquistar o controle do governo federal.

Tivemos uma grande vitória, mas a história não termina aí.

Primeiro é preciso lembrar que tramita e tem grande apoio no Congresso Nacional uma proposta de anistia.

Segundo, porque um setor da oposição deve subir o tom contra o governo e contra a esquerda em outras frentes de batalha, como aliás deixou claro o governador de São Paulo, o neofascista Tarcísio de Freitas, em discurso feito no dia 7 de setembro.

Terceiro, é preciso lembrar que – caso vença as eleições presidenciais de 2026 – a extrema-direita pode tanto tentar indultar Bolsonaro, quanto alterar a composição do Supremo, o que em tese pode levar a uma modificação nas decisões adotadas no dia 11 de setembro de 2025.

Quarto, é preciso lembrar que o governo Donald Trump prometeu reagir (Mussolini, lembrem, foi resgatado por paraquedistas nazistas e posto à cabeça de um governo fake, de onde foi posteriormente escorraçado e executado por partisans ligados ao Partido Comunista).

Quinto, é preciso lembrar que ainda há muita gente no Brasil que apoia e acredita no cavernícola.

Sexto, é preciso lembrar do acaso, do inesperado, daquilo que ninguém imaginou que podia acontecer, mas acontece, e tudo vira de ponta-cabeça.

Por isso tudo e mais um pouco, vamos comemorar o resultado, vamos festejar, vamos fazer circular os memes mais engraçados a respeito do ocorrido, mas também vamos lembrar que a luta continua e que um dos próximos passos é reeleger Lula na eleição presidencial de 2026.

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