No war, yes peace!

Por Guilherme Mateus Bourscheid (*)

Durante os dias 16 a 20 de dezembro, tive a oportunidade de estar na Venezuela a convite do governo venezuelano para participar do I Congresso Constituinte da Classe Operária venezuelana que realizou 22.110 mil assembleias regionais e distritais de base em todo o país, elegendo 1059 superdelegados/as que Maduro salientou como um “tremendo proceso de democratización profunda del movimiento de los trabajadores… tenemos el método correcto: una resurrección del movimiento obrero venezolano; sigamos avanzando en lo organizativo para realizar la primera semana de enero de 2026, la segunda plenária con 70 mil delegados”.

Neste evento, só participam super delegados, porém, em janeiro, o governo pretende reunir todos os 70 mil delegados/as na capital bolivariana. Também estiveram presentes, 94 participantes internacionais que conseguiram furar o bloqueio aéreo, mesmo sob ameaças de que aviões poderiam ser derrubados sob fogo imperialista. Muitos não vieram, alguns com dificuldade em lidar com a pressão psicológica exercida por governos, empresas aéreas, sindicatos e familiares. Aqui somos 5 brasileiros, 2 do MST, 1 da CTB, 1 foi por conta e eu representando o CPERS Sindicato a convite do Instituto Simón Bolívar (CUT e CNTE não encaminharam representantes). Um evento muito importante para a unidade da classe operária em defesa da democracia proletária e da soberania venezuelana e de toda a América Latina.

A fala do presidente constitucional Nicolás Maduro foi claríssima. A Venezuela não quer guerra, quer paz, mas está completamente preparada para defender seu território, a soberania e sua autodeterminação nacional. No war, yes peace. São mais de 1 milhão de combatentes milicianos da classe operária nas fábricas no plano defensivo integral da pátria. Também convocou os sindicalistas internacionais presentes para que se organizem internacionalmente protestos contra a pirataria norte-americana que tem saqueado navios petroleiros da Venezuela. Assim como, devem defender a liberdade comercial da Venezuela e do Caribe pois defender essa liberdade é defender a liberdade comercial do mundo inteiro.

Por fim, Maduro conclama o povo e os Ministros para fazer um grande plano juntando o Plano Tático Estrutural, o Plano Estratégico Estrutural e o Plano Histórico do Caminho do nosso tempo histórico. “Juntemos como um processo coletivo, social, profundo, de transformação civilizatória, quero dizer ideológica, política, de valores, de cultura e de prática. Juntemos todos os planos para unir todas as correntes deste imenso poder popular dos 27 setores que tem desenvolvido seu processo popular constituinte para que em janeiro seja instituído e instalado de forma institucional, política e social de um poderoso Congresso Bolivariano de Poder Constituinte originário de onde se unam todas as forças sociais que tem despertado deste processo popular“. (https://www.youtube.com/live/CHWiMI0Fa90?si=7X6J0QfZAnCSfAdn)

No dia 17 de dezembro, reunimos durante o I CONGRESO LATINOAMRICANO CARIBEÑO DE LA CLASE OBRERA EN DEFENSA DE LA PAZ. Todas as falas do congresso foram fortes condenando as últimas postagens de Trump nas redes sociais. Trump é ofensivo e mentiroso, quebra os princípios do Direito Internacional, desrespeita a soberania nacional e ignora a autodeterminação dos povos. Diz que o petróleo venezuelano é dos EUA e que tomará de volta, expulsará todos venezuelanos do território norte americano e continuará a ofensiva de invasão à Venezuela. Trump, assume uma postura de dono da América Latina para transformar a América Grande Novamente (diga-se EUA). Nesse processo de revitalização da indústria norte americana, Trump reedita a Doutrina Monroe no seu mais ferrenho objetivo, afastar a ocupação do mercado pela China e Rússia e saquear dos países latinoamericano suas riquezas naturais através de intervenções políticas ou militares.

No entanto, é preciso defender o processo revolucionário bolivariano e os ideais libertadores de Simón Bolívar. O Chanceler venezuelano, Yván Gil, disse que a crise do capitalismo abre um período singular para o avanço da luta revolucionária. Só que ela não acontecerá por espontaneidade, se não conduzirmos esse processo pela libertação da classe trabalhadora, a extrema direita irá capturar e vencerá a disputa ideológica com o discurso ilusório antissistema. Então, segundo o Chanceler, esse período de ameaças, que pode se tornar concreto ataque, abre também, para o governo venezuelano, a possibilidade de aprofundar o processo da revolução bolivariana.

Por fim, Blanca Eekhout, Presidente do Instituto Simón Bolívar, num discurso muito eufórico falando da nova organização social do povo venezuelano que resgata a vida em comunidade dos habitantes originários, relata que ”hoje no país temos 5636 comunas. Temos mais de 49 mil conselhos comunitários, com acertos e com erros, nos dizia Simon Rodriguez, inventamos ou erramos. É na invenção, na criação que se pode haver acertos. Somos nós construindo o novo. E nesse andar, nessa construção temos demonstrado que sim, é possível. E é por isso que o imperialismo quer derrotar esta nação. E nós ficaremos de pé porque sim, é possível quando o povo se organiza e assume o protagonismo, sim é possível.”

Por fim, o Congresso tirou um manifesto da classe operária latino-americana, caribenha e do mundo pela paz e pela soberania. Em síntese o manifesto diz o seguinte:

“A classe trabalhadora da América Latina, do Caribe e do mundo, reunida em Caracas, capital da República Bolivariana da Venezuela, nos dias 15, 16 e 17 de dezembro de 2025, debateu a paz, a soberania dos povos de Nossa América e a crise estrutural e irreversível do sistema capitalista. Desde a pátria de Simón Bolívar, a classe operária organizada, consciente e unida aprova este manifesto político.

Denunciamos com indignação as declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que, de forma arrogante e imperialista, pretende dispor do petróleo, dos territórios e das riquezas da Venezuela. Trata-se de um ataque frontal não apenas à soberania venezuelana, mas aos princípios da autodeterminação dos povos e ao direito internacional construído após a Segunda Guerra Mundial. Reafirmamos nosso compromisso inquebrantável com o povo, a classe trabalhadora e o governo constitucional do presidente Nicolás Maduro, bem como com a soberania de todos os povos.

Alertamos os governos soberanos e os povos do mundo para a tentativa de reedição da política do “Grande Porrete”, expressão renovada da Doutrina Monroe, hoje atualizada no chamado “Corolário Trump”. A América Latina não é o quintal de Washington: é território de povos heroicos em resistência ativa e permanente.

O imperialismo estadunidense e seus aliados europeus atravessam o declínio de sua hegemonia unipolar, acelerado pela emergência da China, da Rússia e das alianças Sul-Sul, que impulsionam a transição para um mundo multipolar. Esse processo se expressa também nas mobilizações operárias e populares nos próprios países centrais, bem como na solidariedade internacional ao povo palestino frente ao genocídio sionista.

Diante de sua decadência, o imperialismo intensifica agressões militares, bloqueios econômicos, guerra cognitiva, perseguições judiciais e manipulação dos fluxos migratórios, transformando migrantes em vítimas de um novo escravismo. A luta pela dignidade dos trabalhadores migrantes é parte inseparável da emancipação da classe trabalhadora.

Na América Latina e no Caribe, o imperialismo ataca governos progressistas, promove golpes parlamentares, impõe bloqueios criminosos e tenta sufocar processos soberanos. Essas agressões exigem uma resposta unificada, internacionalista e consequente da classe trabalhadora, pois somente a unidade na ação poderá derrotar o imperialismo e abrir caminho à emancipação social e socialista dos povos.

Por isso, propomos as seguintes ações:

  • Constituir imediatamente uma Coordenação Latino-Americana e Caribenha da Classe Trabalhadora pela Paz e pela Soberania, responsável por acompanhar e ampliar o Plano de Ação, fortalecendo a articulação organizativa, promovendo campanhas de mobilização e formação política e respondendo de forma rápida e unificada às agressões imperialistas. Propõe-se Caracas como sede.
  • Criar um Sistema Global de Defesa Integral da Classe Trabalhadora, voltado à preservação da paz, da soberania e da produção de bens essenciais ao bem-estar dos povos.
  • Constituir as Brigadas Internacionalistas Simón Bolívar, reunindo trabalhadores, camponeses, estudantes e setores populares na construção de uma rede internacional de resistência.
  • Convocar um Encontro Mundial das Brigadas Internacionalistas Simón Bolívar, no primeiro trimestre de 2026, em Caracas, para fortalecer vínculos e atualizar estratégias de luta.
  • Implantar um Sistema Internacional de Alerta Rápido, com comunicação operária capaz de acionar respostas coordenadas em até 24 horas diante de ameaças imperialistas.
  • Impulsionar a Diplomacia Proletária Ativa, articulando relações diretas com parlamentares, sindicatos, movimentos populares, partidos políticos e organizações da classe trabalhadora em escala global.
  • Criar Redes de Escolas de Formação da Classe Trabalhadora, integrando formação política, comunicação estratégica e valores internacionalistas, incluindo a preparação de materiais para enfrentar a mídia hostil.
  • Organizar Delegações da Verdade da Venezuela Operária, com brigadas internacionais destinadas a documentar a realidade do país e difundir a verdade ao mundo.
  • Estruturar uma Frente de Comunicação Operário-Popular, enfrentando a guerra cognitiva com ações coordenadas nas redes, produção de materiais e denúncia do imperialismo, especialmente da falsa “guerra às drogas” dos EUA.
  • Fortalecer acordos com o Sul Global da Classe Trabalhadora, promovendo cooperação internacional e solidariedade concreta com povos em luta, como Cuba e Palestina.
  • Coordenar Campanhas Parlamentares Continentais, exigindo o fim das intervenções militares e a declaração da América Latina e do Caribe como Zona de Paz.”

Por fim, uma impressão de Caracas onde passamos quatro dias entre eventos e algumas saídas pelas ruas da capital. O que mais chamou a atenção foi a ausência de moradores de rua, assim como a limpeza das ruas e a limpeza e organização das comunas. Conversar com os moradores e trabalhadores de Caracas nos deu uma dimensão muito significativa dos acertos do processo revolucionário que vive a Venezuela. O povo tem conhecimento e domínio da sua história. Com quem falamos na rua, nos davam uma aula de história da Venezuela e da América Latina. Dominam os ideais libertários de Simón Bolívar resgatados por Hugo Chávez e assim idolatram seus revolucionários. Visitar o Mausoléu de Simón Bolívar e o memorial do Hugo Chávez, conversar com Elizabeth Torres, uma das personalidades da comuna Simón Bolívar, e conhecer a trajetória do líder da revolução bolivariana de 1992 com a homenagem diária de uma salva de canhão foi um dos momentos mais emocionantes desta imersão.

O povo vive normalmente, não teme a guerra, porém não acredita que ela aconteça. Confia no presidente Maduro e na capacidade dele de defender a pátria junto com o povo. Muitos acreditam que seja mais uma guerra de nervos com uma produção de um terrorismo psicológico e que o povo não vai ceder sua dignidade e soberania. Foi um aprendizado enorme estar neste período na Venezuela e trazemos na bagagem a vontade de articular e construir laços de amizade entre o povo brasileiro e o povo venezuelano, como também, dialogar com os movimentos sindicais e sociais para forçarem o governo brasileiro rever sua posição nos BRICs de veto de entrada da Venezuela.

Viva o Socialismo!

Viva a luta da Classe Trabalhadora!

(*) Guilherme Mateus Bourscheid é dirigente sindical do CPERS e da CNTE

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