Por Fabio Venturini (*)
O docentes das universidades públicas estão todos andando pela rua e, de repente, começa a chover. A massa se pergunta: “Como podemos nos proteger?”
O Andes-Sindicato Nacional convoca um Conad Extraordinário para ser realizado a céu aberto para discutir a água molhada.
No evento o Renova Andes defende sua tese no plano de lutas para usar a estrutura do sindicato e arrumar abrigo.
A diretoria rejeita a proposta porque o Andes-SN é historicamente contra a chuva e reivindicar capas e galochas dos governos de todos os níveis é abrir mão de uma bandeira defendida desde o Congresso da Guanabara. Além disso, a chuva só cai por causa dos governos de conciliação de classes que não impediram a formação de nuvens quando tiveram oportunidade. São Pedro é apenas uma continuação de FHC, Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro, são todos iguais, o sentido é o mesmo, muda apenas a velocidade.
Uma professora ao fundo xinga o Rui Costa porque fez chover no interior da Bahia. Cerca de 23 movimentos independentes filiados ao PSOL distribuem folhetos contra o PT e contra a chuva. O PCB discute a geopolítica e a ontologia da chuva. O CAEL/PSTU ratifica que só se derrota a chuva enraizando a CSP-Conlutas para construir a greve geral. Os delegados de primeira viagem entram em desespero tentando entender o que acontece. O PCdoB nem vai mais porque a vida é muito curta.
A diretoria vence a votação.
No último dia, no começo da plenária de encerramento, morre um congressista com pneumonia. O Renova Andes pede para chamar equipes de saúde com urgência para atender os casos graves ali surgidos. A diretoria rejeita porque já luta pela saúde docente desde a criação do Andes, que mudanças de procedimentos são coisa do ProIfes e com essa proposta o Renova Andes mostra que é de fato a favor do ProIfes, quer levar o Andes para lá.
Questão de ordem!
Um delegado propõe inserir um texto de compatibilização porque o tema é urgente.
A diretoria rejeita, o texto não pode ser “chamar assistência saúde”, mas “intensificar a luta por asssistência saúde” para mostrar que a diretoria do Andes é de luta desde sempre.
O Renova Andes propõe consultar a plenária para debater o tema. A diretoria é contra porque no prazo que antecede o Conad não foi inscrita nenhuma tese tratando de equipes de assistência de saúde em caso de morte de congressistas.
Depois de 15 questões de ordem e outras tantas de encaminhamento, mais 50 esclarecimentos e uma equipe do SAMU levando três delegados para o hospital, a plenária vota se pode debater e votar se vai usar o telefone do Andes para chamar uma assistência de saúde.
A proposta da oposição perde por 38 x 31.
Continuamos o Conad na chuva. A água aperta. Os delegados e observadores começam a ir embora porque precisam de abrigo, já são quase 23h, quem não está com hipotermia é porque o calor da raiva não permite.
No meio da rua, docentes de todo o país continuam adoecendo no trato respiratório, muitos ainda presos em alagamentos.
Com quórum reduzido todas propostas da diretoria são aprovadas no meio da madrugada.
O presidente e segundo secretário da sessão já dormem com a cabeça sobre a mesa.
Ao final se publica a Carta do Dilúvio reafirmando o compromisso histórico de lutar contra a chuva.
(*) Fabio Venturini – Adunifesp