Por Antônio Eduardo (*)
Diz o ditado popular que a vida é feita de escolhas. Em se tratando da vida política e do principal partido da esquerda brasileira, deveria ser feita de teoria e práxis.
Ocorre que, há muito tempo, em meados da década de 90, uma maioria que foi construída no interior do Partido dos Trabalhadores — não se trata de “privilégio” do PT — decidiu substituir teoria e práxis por um determinismo político: para governar o Brasil e mudar a vida da maioria do povo para melhor, se faz necessário adormecer a utopia revolucionária, até mesmo a simpática ideia de fundir socialismo e democracia, e fazer alianças com o lado de lá para conquistar 50% + 1 dos votos válidos — vide o caminho trilhado por Boulos em São Paulo.
Nem mesmo o golpe de 2016 e a prisão política de Lula, nem mesmo os governos derivados do golpe e o genocídio promovido durante a pandemia, nada disso foi capaz de reverter o mencionado determinismo político, que segue hegemônico e extremamente contagioso.
O socialismo democrático passou a ser uma expressão arcaica para a maioria dos dirigentes petistas, e a ameaça comunista passou a ser não apenas combatida pela extrema-direita e pelos milicos saudosistas da ditadura, mas também negada pela principal liderança política que as lutas das classes trabalhadoras forjaram no Brasil: Luiz Inácio Lula da Silva — vide seu discurso no palanque da então candidata a prefeita de Natal, Natália Bonavides.
Mas o texto não deveria falar sobre as eleições para as presidências e mesas diretoras da Câmara dos Deputados e do Senado Federal? De fato. A digressão quase silenciou o tema principal.
O fato é que uma coisa tem tudo a ver com a outra. As alianças construídas para a eleição de Lula em 2022, o programa de governo de fato — em especial o novo arcabouço fiscal proposto por Haddad — e o comportamento das bancadas petistas no Congresso Nacional derivam daquele determinismo político, que alguns preferem denominar como sendo pragmatismo ou ainda realismo, mas que também pode ser caracterizado como capitulação ou ainda domesticação.
Aguardar Lira e Pacheco anunciarem seus sucessores às presidências das duas casas do Congresso Nacional e declarar apoio a tais sucessores, infelizmente, é o comportamento esperado das bancadas de um partido que outrora já foi o pesadelo das elites nacionais, e que, conscientemente ou não, está escancarando as portas para que a extrema-direita ou até mesmo para que influencers digitais de extrema-direita se apresentem como alternativa antissistema e tenham êxito logo ali, depois de amanhã.
O PT é feito de escolhas. Seguiremos em luta contra a domesticação.
(*) Antônio Eduardo é militante do PT em São Paulo – SP.