Por Redação Página 13 (*)
Na última segunda-feira, dia 07 de dezembro, houve uma reunião do Diretório Nacional do PT. Em pauta, o balanço das eleições municipais e a eleição às presidências da Câmara e do Senado. Contudo, a segunda pauta não foi debatida e acabou sendo remetida à Executiva Nacional, que reuniu-se na sexta-feira (11).
Nessa reunião, Natália Sena, Natália Bonavides e Célio Moura fizeram falas defendendo que o Partido lançasse candidaturas próprias às mesas diretoras, de modo que Natália Sena apresentou uma proposta de resolução com essa posição ( leia aqui). Para que se tenha ideia do debate transcorrido durante a reunião, sugerimos aos leitores que escutem as intervenções dos companheiros citados acima, realizadas durante a reunião, que estão disponíveis na última edição do podcast Em Tempos de Guerra, A Esperança É Vermelha, bem como relato de conjunto da reunião nessa mesma edição do podcast (aqui).
As bancadas do PT foram convidadas à reunião da Executiva, já que a pauta envolve o Congresso Nacional. Nesse sentido, as nossas lideranças no Senado, na Câmara e da Minoria fizeram informes das movimentações e debates que já estão em curso em relação ao tema. Contudo, embora fossem informes, já ficava evidente, segundo Natália Sena, a disposição destes de apoiar um dos nomes dos blocos da direita.
A reunião se dividiu em três posições: 1) candidatura própria; 2) a de que o PT não deve ter candidatura própria, sendo que o Partido deveria aderir a uma candidatura da direita, mas não à explicitamente vinculada ao governo Bolsonaro; 3) a de deixar em aberto e podendo vir apoiar, inclusive, o candidato do governo Bolsonaro, Arthur Lira. Possibilidade que, segundo Natália Sena, conta com a simpatia de muitos membros da nossa bancada e da Executiva Nacional, utilizando-se de argumentos, entre outros, de que seria o candidato “com mais chances de vencer”.
A proposta do Partido ter candidatura própria não foi a voto, por insistência, segundo Natália, dentre outros, da própria presidenta do Partido, Gleisi Hoffmann. Ao final, aprovou-se uma orientação vaga de que se buscaria a unidade da oposição, sem fazer-se delimitação com a “oposição” de direita; o compromisso com uma agenda mínima dos candidatos contra o retrocesso nos direitos e na pauta econômica (como se toda a direita não estivesse comprometida com agenda ultraliberal ou cumprisse algum acordo); e o compromisso com a proporcionalidade na composição das mesas e das comissões do Congresso.
Para conduzir o processo, foi formada uma comissão com membros da Executiva, a presidenta do Partido e a Secretária Geral, que, juntamente com os líderes no Congresso, vão dar continuidade ao debate e pautar outra vez o assunto na Executiva.
Mas, voltando aos debates de mérito da reunião, um dos defensores, segundo Natália Sena, de que o PT não de ver ter candidatura própria e que inclusive apresentou uma proposta de resolução nesse sentido, foi Washington Quaquá.
Segundo Natália, Quaquá defendeu que devemos obter “compromisso do futuro presidente da Câmara com a restauração democrática no Brasil” e para isso apresentou um conjunto de pontos que deveriam ser apresentados na hora da negociação com as chapas às presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Entre os pontos, compromissos com direitos trabalhistas, previdenciários, redução das desigualdades, entre outros; e o compromisso com a retomada dos direitos políticos de Lula. Essa seria uma plataforma a ser apresentada aos candidatos da direita para buscar-se “ampliar os espaços internos” no Congresso.
Pergunta que fizemos: alguém da esquerda realmente acredita que os candidatos da direita, seja do bloco governista, seja do bloco de Rodrigo Maia, terão algum compromisso a valer com essa pauta? Que caso assumam compromissos formais com essa pauta, não passarão de letra morta? Presenciamos o episódio dessa semana em que toda a direita atropelou acordos e votou a favor de retrocessos na lei de regulamentação do FUNDEB, inclusive com emendas que violam a essência da Emenda Consitucional que instituiu o próprio Fundo. Já não há provas mais do que o suficiente de qual é o programa de toda direita e de que seus acordos e compromissos de nada valem quando se está em jogo os direitos do povo?
Surpreende que dirigentes e parlamentares do Partido ventilem a possibilidade de apoiar tanto o candidato do governo Bolsonaro quanto o de Rodrigo Maia, quando, ambos, na prática, dão sustentação ao programa ultraliberal que tem levado o país a uma brutal crise, que se aprofundará ainda mais.
Aliás, Maia, sempre que pode, cobra mais agilidade do governo nas reformas neoliberais, a exemplo da reforma administrativa. O que dizer então de um dirigente do Partido que, em nome de “ampliar os espaços internos”, defende que as nossas bancadas apoiem um candidato da direita que supostamente teria compromisso com aquela plataforma? O que seria mais grave? Realmente acreditar que uma parte da direita se comprometerá com a luta pelos direitos políticos de Lula e de defesa dos direitos sociais ou, talvez, fazer um “jogo de cena” para justificar o apoio à direita por mais “espaços internos”?
Como a eleição das mesas diretoras do Congresso podem fortalecer a luta pelo Fora Bolsonaro e seu governo? Apoiando um candidato do governo Bolsonaro??? Ou o candidato de Maia, o qual se nega a colocar em tramitação um dos mais de 50 pedidos de impeachment? Aliás, é curioso que Quaquá não tenha colocado os pedidos impeachment entre os pontos a serem negociados. Deveria ser o primeiro.
A correlação de forças de hoje, desfavorável à classe trabalhadora, não será revertida exclusivamente, nem principalmente, no Congresso. Será preciso muita luta social, muita luta cultural e muita luta política no sentido amplo. Por isso, a eleição para as presidências da Câmara e do Senado não podem ser vistas como à parte da tática geral de luta contra o governo Bolsonaro e o programa ultraliberal que é comum a todo o bloco golpista. Será necessário apresentarmos uma candidatura que esteja sintonizada com essa tática, sob pena de não acumularmos forças, mas sim criarmos mais desgastes, confusão e derrotas políticas, tudo isso em troca de “mais espaços internos” que são incapazes de barrar os retrocessos. Aliás, se fossem, a direita não negociaria com a esquerda.
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