Por Gilson Moura Henrique Júnior, Victoria Ruas Silva, Eder Ribeiro, Maria Eduarda Tolentino Duarte e Mateus Louzada Lages (*)
Em um ato de luta por respeito, o Mercado Público de Pelotas ficou lotado por uma multidão de manifestantes / Foto: Eduardo Menezes
Os rumores sobre a morte do PT foram obviamente exagerados, mas, ao mesmo tempo, como na música, se a centro-esquerda pelotense e a centro-esquerda brasileira suicidaram, nós também não estamos tão bem assim.
Isto porque a vitória em Pelotas foi enorme, mas dura demais, mesmo em um contexto de um partido que foi de sérios problemas estruturais a eleição para a Prefeitura em pouco menos de dois anos.
Acumulamos acertos na reestruturação do Partido e nas alianças para a Nova Frente Popular, especialmente na aliança com o PSOL, que trouxe a força popular de Daniela Brizolara para a vice da majoritária, abrindo canais com setores marginalizados e movimentos de base.
A construção de uma frente que não se limita a acordos eleitorais e que dialoga com a diversidade de Pelotas e com as demandas historicamente negligenciadas de mulheres, pessoas negras, quilombolas, LGBTQIAPN+, juventude, mulheres pescadoras artesanais e agricultoras familiares foi e será essencial. A ampliação dessa frente no segundo turno foi crucial para a vitória sobre a extrema-direita.
Ao final, os acertos precisam ser reconhecidos sem esconder que enfileiramos deficiências de renovação dos quadros, de ação local militante, atenção à juventude, mulheres, negras e negros, quilombolas, LGBTQIAPN+, cujo envolvimento foi tardio e insuficiente. Deixamos abertos espaços para o crescimento de discursos e políticas avessas ao nosso programa.
Diante do ato mais significativo de resistência ao fascismo e racismo em Pelotas ser protagonizado por povos de terreiro, o PT e Marroni precisam abraçar com respeito esse espírito de luta e resistência.
Para que isso seja realidade, não podemos esquecer as dinâmicas internas do PT, tampouco condições externas como as das enchentes que praticamente sabotaram as iniciativas de territorialização e setorização do debate programático, também é fundamental entendermos o quanto o PT entrou dividindo atenção na eleição majoritária e nas eleições para reitoria da UFPEL, por conta da militância estudantil estar no combate ao discurso antipolítico no interior da universidade. Se o PT deseja governar com coesão e ser alternativa popular à direita, é preciso um debate franco e com a construção de unidade programática, sem abrir espaço para discursos antipolíticos e/ou divisionistas.
Para além das eleições, o PT tem desafios de governabilidade, composição de secretarias (que tendem a repetir o problema do governo federal em sua composição, pela heterogeneidade da Câmara) e principalmente na continuidade de sua reestruturação.
O PT está em uma encruzilhada: terá que ser o partido que garante o governo que também o disputa, não deixando de ser crítico para não se diluir no discurso de união e reconstrução, acabando por unir pouco e reconstruir menos ainda a si mesmo e a realidade local, para garantir um equilíbrio essencial para a continuidade e a estabilidade do governo. O PT precisa se manter atento para não se diluir em um pragmatismo que esvazie suas bandeiras históricas.
A diferença de votos (1.263) não é um retrato digno da nossa campanha, que foi, sim, bonita e de luta nas redes e nas ruas, porém, é nessa diferença de votos que mora o tamanho do desafio para o PT.
Um desafio começa na avaliação do tamanho da montanha que escalamos e dos erros e acertos de nossos alpinistas. O acerto no macro oculta erros no micro, a falta de diálogo do Partido com sua base militante sensível e organizada é fruto da falta de canais de debate cotidiano, que mantém um diálogo democrático crítico e vocalizado para sua direção e mandatos parlamentares, ajudando o partido a não ser incubadora de serpentes ou porta-voz de ataques aos movimentos sociais organizados.
Precisamos ampliar espaço político e canais de comunicação com a juventude, em especial com a juventude preta, movimentos negros, quilombola, indígena, mulheres e LGBTQIAPN+, sem negativas contabilistas de votos que, no final das contas, acaba superestimando o macho adulto branco hétero.
Sem um permanente diálogo, respeito e inserção, o PT corre o risco de se tornar um monólito desconectado das realidades locais. Precisamos de um governo de fato do povo para o povo, sensível às suas necessidades e anseios. O PT deve comemorar a vitória histórica em Pelotas e reconhecer os desafios que estão por vir.
Pelotas teve a mais eloquente manifestação antifascista com os povos de terreiro no Mercado Público, um recado mais importante que a diferença de votos, é preciso ouvi-lo.
(*) Gilson Moura Henrique Júnior, Victoria Ruas Silva, Eder Ribeiro, Maria Eduarda Tolentino Duarte e Mateus Louzada Lages são militantes do PT de Pelotas.